Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Complexo e Simplória, aquele casalzinho interessante, andavam envolvidos em discussões calorosas. Não poderia ser diferente. Com o impeachment da Presidente da República galopando aos quatro ventos, Complexo estava em êxtase. Simplória, como sempre, mantinha a serenidade racional.
No bar, depois de um dia cheio, Complexo e Inácio, seu amigo das antigas, pareciam estar brigando feio. Simplória observava. Complexo berrava que se, por qualquer razão, o Congresso não destituísse a Presidente, pensaria seriamente em abandonar o “Bananil, essa Ditadura Comunista". O amigo retrucava: “Isso é golpe! É golpe! Golpistas, querem derrubar a democracia!!!”.
Que mulher incrível Simplória mostrava ser. No meio daquela falação polarizada, cega e desmedida, a moça permanecia sensata. Para ela, golpe era o estelionato eleitoral aplicado pelo governo que se dizia de esquerda, mas estava muito mais pra uma direita enrustida. Golpe também era, por certo, a manipulação do instrumento legal do impeachment, sem comprovação de crime de responsabilidade e realizada por parlamentares com a ficha suja até o talo.
Os dois amigos machões seguiam cuspindo suas certezas. Cada vez mais exaltados. Simplória queria, sentia a necessidade de acabar com aquilo. Resolveu intervir. Foi direta. Com ela o negócio era papo reto.
- Só um minutinho aqui, por gentileza. Complexo, tu é um paranoico de marca maior. Segura a tua onda, cara. Deixa de passar vergonha com essa história de comunismo. Tá ficando feio. E tu, Inácio, calma o coração também. Boa parte da responsabilidade pela treta de hoje é do teu governo, sim senhor. Ou alguém forçou vocês a se misturar nessa lama toda? Agora querem sair limpinhos? Enquanto vocês brincam de Lango-Lango, quem se fode, como sempre, são os de baixo.
Que mulher apaixonante! Que mulher profunda era Simplória!
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