Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
Tive um pesadelo numa noite qualquer. Paralisado, olhava para os
lados e não acreditava no que via. As pessoas se divertiam vendo jogos
na televisão ou caçando bonequinhos no seu telefone, e isso até me
deixava aliviado, no início. Diversão e lazer é importante, afinal.
Porém, segundos depois, eu procurava o meu emprego e não mais
encontrava. Logo, outros colegas e alguns estudantes estavam por perto e
também pareciam nervosos. Todos procuravam as suas escolas e
universidades públicas. Ninguém achava.
No desespero, parei para pensar. Aquilo não poderia ser possível. Todos
os dados e pesquisas que demonstravam a maior qualidade das
universidades e escolas federais, na comparação com as privadas, não
adiantaram para evitar que elas desaparecessem do mapa. Nem o fato de
que na última década as escolas e universidades federais, sempre mais
bem classificadas nos rankings de avaliação da educação formal,
atenderam em grande parte das suas vagas estudantes das classes
populares, nem isso tinha adiantado para manter as instituições públicas
em funcionamento.
Que pesadelo cruel. Aos poucos, os governos
foram minguando os recursos e sucateando as instituições. Não tiveram
vontade política para aplicar a fórmula de sucesso das redes federais
nas redes estaduais e municipais. A população, vidrada nos seus
smartphones e televisores tela-plana, seguia inerte, mesmo que
abandonasse de vez o sonho de estudar em escolas e universidades de
qualidade e gratuitas. Alguns se matavam por meia dúzia de bolsas em
instituições particulares, cada vez mais suntuosas e milionárias. Poucos
conseguiam. Era tudo muito apavorante. Educação tinha se tornado, de
uma vez por todas, apenas uma mercadoria.
Precisava acordar desse
pesadelo. Mas não conseguia. Em vez de priorizar investimentos com o
dinheiro de todos para a educação, esse dinheiro ia sei lá para onde.
Precisava acordar daquela tragédia em forma de sonho. No meio de uma
gritaria, acho que um protesto, acabei acordando. Ufa, que alívio. Lavei
o rosto, tomei um café e fui me informar sobre os últimos
acontecimentos. Minha espinha gelou. Era mesmo um pesadelo tudo aquilo?
Já nem sabia mais.
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