ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Fazer uma fogueira

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

A última semana do semestre letivo na universidade foi acompanhada do meu credenciamento como docente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS. Teve também reunião da Residência Pedagógica em dia de dilúvio e quatro bancas de TCC, sendo três de trabalhos que eu orientei. Uma correria louca, cheia de aprendizados.

A última atividade da semana, a última banca, foi uma síntese de como venho procurando praticar a docência e a educação. Foi um momento acadêmico tomado pela emoção. Um acontecimento bonito, feito de significados, sabedorias, sensibilidades e experiências. Uma troca entre pessoas, na qual o ato de conhecer se fez vivo e pulsante.

A educação na modernidade ocidental tem se caracterizado por ser um processo de acúmulo de conhecimentos. Transmitimos ou inculcamos em aprendizes o que foi produzido pela humanidade durante séculos. A escola e a universidade são as instituições exemplares dessa concepção dominante, baseada numa espécie de monorracionalidade.

Apesar da sua relevância, essa abordagem carrega limitações. Educar é muito mais do que isso. Não se resume a levar informações "para dentro". O conhecimento pulsa quando leva as pessoas "para fora", para habitar com atenção o mundo em que vivem. Quando ajuda a caminhar pelos labirintos da existência, experimentando percursos menos "intencionais" e mais "atencionais".

O antropólogo Tim Ingold, cuja obra inspira essa perspectiva, cita a imagem de que educar não é como encher um balde, mas é como fazer uma fogueira. Não se sabe como vai ser. Sempre há riscos. Porém, pode ser chama e potência. É redescobrir a vida em fluxo. Até porque, olhar para o mundo só a partir do conhecimento acumulado pode fazer com que se veja apenas o próprio conhecimento, e não o mundo.