Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Hoje é dia do
Cientista Social e também foi o dia em que uma grande universidade
privada do sul do Brasil anunciou o fim de diversos dos seus programas
de pós-graduacão. Entre eles está o PPG em Ciências Sociais.
Hoje
também é aniversário do mestre Florestan Fernandes. Com o gigante
sociólogo brasileiro, aprendemos que é preciso olhar a vida com atenção
às relações entre o que acontece com as pessoas, individualmente, e as
instituições e estruturas da sociedade e do tempo histórico em que essas
pessoas agem, pensam e sentem.
Ao contrário dos clubes de
armas, vivemos dias em que a educação e o conhecimento vêm perdendo
espaço. De um lado porque grande parte dos e das viventes destes tristes
trópicos se desdobra em vários trabalhos e trampos para sobreviver.
Estudar vira um troço distante. De outro, algumas áreas - destaque para
as Humanas - vão minguando pela falta de investimento, de boas
oportunidades profissionais e de legitimidade social.
As pessoas
não nascem adorando armas e odiando aprender, conhecer e dialogar. Elas
são socializadas fomentando instintos agressivos e segregando material,
moral e afetivamente variados grupos sociais. Além disso, educação e
ciência são tratadas como mercadorias, como produtos e seus valores de
troca. Cientistas sociais valem pouco nesse mercado.
Docentes,
estudantes, pesquisadoras e pesquisadores vêm adoecendo e a lógica que
gira essa roda muitas vezes sequer é questionada. Quando é, quando se
empreende um esforço de fazer da ciência e da educação práticas
colocadas dentro de um contexto em que as pessoas são levadas a sério
nas suas necessidades, qualidades e possibilidades, a coisa pode e até
tende a funcionar bem.
Trabalhar com Ciência Social e com
educação é não desistir. É saber que ensino e pesquisa de ponta tem que
ter relação direta com fomentar uma sociedade em que as pessoas comam
bem, tenham emprego e moradia. Tenham dignidade e tempo para viver e se
desenvolver, lidando melhor consigo e com o outro. É plantar sementes
todos os dias contra a banalização do autoritarismo e da brutalidade. É
um caminho duro, mas que pode ser encantador também.