Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Difamando o frio intenso do quase inverno ao sul do mundo, olho pela janela do trabalho algumas pessoas gargalhando. Ainda há quem sorria na Universidade. Então, do nada, eu mesmo me pego sorrindo e divagando: e se a alegria e o entusiasmo fossem a centelha que mobiliza o cotidiano da produção e da circulação de conhecimento?
Pensando bem, os fatos objetivos me dão um banho de água congelante, porque revelam um cenário assustador. Qualquer pessoa que conversa com estudantes, especialmente com quem está na pós-graduação, percebe em muita gente que algo não vai bem. Percebe o desânimo, a ansiedade e diferentes adoecimentos. Em alguns casos, também entre docentes esses são sentimentos corriqueiros.
Vale a reflexão sobre como o jogo acadêmico e suas métricas do produtivismo ensandecido e do prestígio como principal recompensa tendem a desencantar a relação com o saber. O excesso de pressão e de vaidade, o exercício de micro poderes e os assédios variados minam um terreno que deveria ser sempre fértil para bons processos pedagógicos e boas pesquisas científicas.
A falta de sensibilidade e acolhimento por parte de ocupantes de posições superiores nas hierarquias acadêmicas é um tiro no pé de todos nós. Funciona como um veneno que vai fazendo com que excelentes estudantes tomem asco do ambiente universitário. Fomenta o anunciado apagão de professoras e professores e a debandada de cientistas para outros países. Uma política pública robusta de financiamento educacional e científico é para ontem.
Não menos importante é o aspecto econômico que atravessa todo o contexto. As e os estudantes de graduação, em geral, estão sem grana e se viram para se sustentar enquanto estudam. Na pós-graduação stricto sensu, muita gente está sem bolsa de pesquisa. Por isso, precisa conciliar a demanda de leituras e tarefas (por vezes um troço sem noção) com o trabalho em turno integral.
Há quem diga que é assim mesmo, e que esse é o preço a se pagar pela excelência. Isso é uma falácia. É possível ser rigoroso e acolhedor, ao mesmo tempo. Corrigir sem humilhar. Estimular o envolvimento e o engajamento, ao invés de ironizar o outro ou se afogar na própria vaidade. Competir menos e cooperar mais. E têm muitas pessoas fazendo dessa forma, buscando esse caminho. Afinal, sem estudantes a Universidade não faz nenhum sentido.