ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

terça-feira, 30 de abril de 2013

A História das Coisas


O vídeo The Story of Stuff (A História das Coisas), elaborado e narrado por Annie Leonard (saiba mais), co-criadora e coordenadora do GAIA (Global Alliance for Incinerator Alternatives), traça uma espécie de genealogia da produção material contemporânea. Embora a autora não se refira ao verdadeiro nome do modo de produção em vigência, trata-se de uma problematização do funcionamento do capitalismo. É um material bastante didático e interessante. Porém, carece de uma visão das relações de poder associadas ao conflito inerente nas sociedades capitalistas entre capital e trabalho. 
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domingo, 14 de abril de 2013

Michel Foucault e a noção de poder


(…) O que Foucault está nos dizendo exatamente? Em primeiro lugar, que não podemos entender as relações de poder reduzindo-as à sua dimensão econômica ou à esfera do Estado. Para ele, as estruturas de poder extrapolam o Estado e permeiam, ainda que de forma difusa e pouco evidente, as diversas práticas sociais cotidianas. Ouvimos dizer que os governantes detêm o poder. Sim, masMichel Foucault (imagem retirada do sítio http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d1/Michel_Foucault_Dibujo.jpg/200px-Michel_Foucault_Dibujo.jpg) apenas até certo ponto. Governantes não têm o poder, por exemplo, de determinar qual será a nova moda que mobilizará os jovens e fará circular uma quantidade incalculável de dinheiro no próximo inverno. Será, então, que são os ricos que detêm o poder? Os ricos certamente têm muito poder, mas não têm todo o poder. Nem eles, nem ninguém. Ninguém é titular do poder, porque ele se espalha em várias direções, em diferentes instituições, na rua e na casa, no mundo público e nas relações afetivas.

Em segundo lugar, Foucault está insistindo em sua resposta numa ideia que atravessa toda a sua obra e que vimos destacando até aqui: existe uma forte correlação entre saber e poder. Instituições como a escola, o hospital, a prisão, o abrigo para menores etc. nem são politicamente neutras, nem estão simplesmente a serviço do bem geral da sociedade. Nós é que acreditamos que elas são neutras, legítimas e eficazes porque acreditamos na neutralidade, na legitimidade e na eficácia dos saberes científicos – como a pedagogia, a medicina, o direito, o serviço social – que lhes dão sustentação. Foucault nos ajuda a perceber, portanto, que há relações de poder onde elas não eram normalmente percebidas. O conhecimento não é uma entidade neutra e abstrata; ele expressa uma vontade de poder. Se a ciência moderna se apresenta como um discurso objetivo, acima das crenças particulares e das preferências políticas, alheio aos preconceitos, na prática, ela ajuda a tornar os “corpos dóceis”, para usar outra de suas expressões.

“Se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a não ser dizer não”, provoca Foucault, “você acredita que seria obedecido?”. Por meio de perguntas como esta, ele nos leva a refletir sobre os mecanismos de manutenção, aceitação e reprodução do poder. O poder, tal como Foucault o concebe, não equivale à dominação, à soberania ou à lei. É um poder que se faz aceito porque está associado ao conceito de verdade: “Somos submetidos pelo poder à produção da verdade e só podemos exercer o poder mediante a produção da verdade”, afirma ele. Nós estamos acostumados a pensar a verdade como independente do poder porque acreditamos que ela de nada depende, é única e absoluta. Assim sendo, temos dificuldade em aceitar a ideia de que o “verdadeiro” é “apenas” aquilo que os próprios seres humanos definem como tal. Para Foucault, é a crença nessa verdade que independe das decisões humanas que nos autoriza a julgar, condenar, classificar, reprimir e coagir uns aos outros.

BOMENY, Helena & FREIRE-MEDEIROS, Bianca. Tempos Modernos, Tempos de Sociologia. São Paulo: Editora do Brasil, 2010. Páginas 89/90.

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quinta-feira, 4 de abril de 2013

O dia em que Dorival encarou a guarda


O curta-metragem dirigido por Jorge Furtado e José Pedro Goulart, “O dia em que Dorival encarou a guarda” (saiba mais), produzido em 1986, é uma adaptação do oitavo episódio do livro “O amor de Pedro por João”, do escritor Tabajara Ruas. Detido numa prisão militar, o detento Dorival tenta convencer os guardas a deixá-lo tomar um banho. Mas o preso esbarra na negativa dos guardas, embora eles não consigam justificar para Dorival a razão que o impede de se lavar. O vídeo indica uma reflexão profunda sobre a impessoalidade do sistema repressor no Estado Moderno, além dos exageros que ele pode engendrar a partir de situações como a vivida por Dorival. O chamado monopólio da violência legítima por parte do Estado pode formatar distorções como a explicitada no filme acima. Num país como o Brasil, em que o sistema carcerário parece mais um depósito de pessoas, qual a saída? Quais as alternativas?

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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Até nunca mais, 1º de abril de 1964!


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Nos dias 31 de março e 1º de abril de 1964, um grupo de militares derrubou o então Presidente da República pela força. Com o apoio da grande mídia, dos EUA e de grande parte daqueles que temiam perder os seus privilégios. Depois disso, instalaram-se duas décadas de construção de uma “cultura do medo” e de rejeição completa da participação do povo no cenário político. Vem a calhar uma reflexão sobre isso, por dois motivos: 1) Para que nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça; 2) A fim de pensar no cotidiano atual.

Estado Democrático de Direito. Um governante encheu a boca pra repetir essa expressão hoje pela manhã, numa das rádios filiadas a uma das empresas que deram o seu aval ao golpe de 1964. Usou essa expressão sem papas na língua, como se estivesse defendendo o povo contra o autoritarismo de outrora. Porém, quem ele defendia eram os empresários do transporte e suas riquezas cada vez maiores. Defendia a repressão como forma de calar as pessoas, exatamente como fizeram os militares no período iniciado há quase 50 anos.

Retiremos as máscaras dos argumentos falaciosos e o significado da democracia irá mudar. Fazer da democracia algo real é, sim, ocupar as ruas, além da internet. É se manifestar contra os desmandos de uma lógica que apoia as alegrias para os mesmos poucos de sempre e o “foda-se” para os mesmos muitos de sempre. Com arte, expressão, sorrisos, cartazes, vozes e coros cujo eco repercuta mundo afora. Deixemos a violência como a chaga da opressão. Jamais como um argumento para a vitória coletiva.

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