ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Liberdade em 2020

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Nesse ano, algumas vezes pensei, como Cecília Meireles: liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.

Noutras vezes, questionei parte da filosofia política moderna. Indaguei se a liberdade seria um direito natural e como os governos deveriam, no mínimo, proteger esse direito dos seus cidadãos. De todos os que estão vivos.

Vira e mexe, sinto a sabedoria popular gritar com força: a tua liberdade acaba quando começa a do outro. Nesse caldo, como nunca, lembrei muitas vezes que uma ação minha pode determinar a saúde de outras pessoas.

Viver é oscilar entre o peso e a leveza da existência. Enquanto se naturaliza a morte e se banaliza a vida, escuto Maya Angelou: só é possível ser livre, se todos o forem. Pra 2021, vacina e punição para os genocidas seria um bom início.
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quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Artigo: Condição de classe e desempenho educacional no Brasil

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Para quem tem interesse em entender as relações entre desigualdades e educação formal, vale dar uma olhada no artigo indicado no link abaixo, que recém publiquei na Revista Educação & Realidade (Faced/Ufrgs).
 
 
Condição de classe e desempenho educacional no Brasil
O texto não avança muito nas análises teóricas, mas apresenta muitos dados sobre os principais aspectos que influenciam o desempenho dos alunos na escolarização básica.

Os dados são de antes da pandemia e de antes dos volumosos cortes de recursos que a educação pública vem sofrendo desde 2015.

Hoje, diversas evidências apontam para o aumento do impacto das desigualdades de classe no contexto educacional, o que reforça a importância da discussão proposta no artigo.
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

O racionalismo aplicado de Bachelard

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O vídeo tem como objetivo apresentar com precisão a filosofia da ciência de Gaston Bachelard, que ficou conhecida como “racionalismo aplicado” ou "filosofia do não".



O vídeo está organizado da seguinte forma: (1) uma apresentação do contexto da obra de Bachelard e de um apanhado geral das suas reflexões; (2) uma apresentação do “racionalismo aplicado”, a perspectiva epistemológica do autor.

As referências que fundamentam o vídeo são: BACHELARD, Gaston. O novo espírito científico. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro Ltda, 1968; O racionalismo aplicado. Rio de Janeiro: Editora Zahar Editores, 1977; O materialismo racional. Lisboa: Edições 70, 1990. 

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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O realismo crítico

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O vídeo tem como objetivo caracterizar com precisão o realismo crítico, como proposta ontológica capaz de abarcar a epistemologia, de inspiração direta na obra dos filósofos Roy Bhaskar e Rom Harré.



O vídeo está dividido em três partes, abordando os seguintes pontos, sempre enfatizando a proposta ontológica e epistemológica implicada na junção do realismo transcendental com o naturalismo crítico.

1) Uma apresentação do contexto de discussão em que o realismo se situa;

2) Uma apresentação das principais características do realismo transcendental;

3) Uma apresentação das principais características do naturalismo crítico, e sua reconfiguração no chamado "realismo crítico", a partir da obra de Roy Bhaskar.

As referências que fundamentam o vídeo são: BHASKAR, Roy. A realist theory of science. New York: Routledge, 2008; CHALMERS, Alan. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993; HAMLIN, Cynthia Lins. Realismo Crítico: Um Programa de Pesquisa para as Ciências Sociais. Revista Dados, volume 43, número 2, Rio de Janeiro, 2000; VANDERBERGUE, Frédéric. Teoria social realista: um diálogo franco-britânico. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.



terça-feira, 10 de novembro de 2020

Thomas Kuhn e as revoluções científicas

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O vídeo tem como objetivo apresentar a filosofia da ciência de Thomas Samuel Kuhn, enfatizando sua estrutura lógica e seus principais pontos.


 

O material está dividido em três partes, que abordam os seguintes tópicos, enfatizando sempre a epistemologia de Thomas Kuhn:

(1) Ciência normal;

(2) Paradigmas, crises e revoluções científicas;

(3) Considerações finais: externalismo, ciência normal, paradigmas, revoluções e a questão das Ciências Humanas.

As referências que fundamentam o vídeo são: CHALMERS, Alan. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993; KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2018; KUHN, Thomas. O caminho desde a estrutura: ensaios filosóficos, 1970-1993. São Paulo: Unesp, 2017; OLIVA, Alberto. Racional ou social? A autonomia da razão científica questionada. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2005.

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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O náufrago e a primavera

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Como se uma década se fosse, a primavera chegou. Diante de tantas telas, é como se eu escrevesse mensagens diárias e as colocasse em garrafas, para o náufrago que me habita nesses tempos de destruição.

É como se, diante das chamas da ganância queimando a chama de vida que emerge das florestas e dos outros animais, essas garrafas encontrassem meu naufrágio e afirmassem: segue o barco, planta sementes.

É como se, diante dos mentirosos genocidas e sua horda de canalhas desprezíveis, tais mensagens brilhassem o sorriso da gata, a fala da intelectual preta que me ensina, o amor dos rapazes que passeiam de mãos dadas ou a energia das cordas e dos tambores.

Não é questão de otimismo ou pessimismo. É que o tempo não para. O substantivo, na prática, pode virar verbo. E, enquanto existir, resistir - ele nunca e nunca desistir. Nenhum futuro será por acidente.

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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Max Weber e a objetividade do conhecimento das Ciências Sociais


Bernardo Caprara

Sociólogo e Professor
 
O vídeo tem como objetivo apresentar a obra de Max Weber, enfatizando seus aspectos epistemológicos, em relação com o "fio condutor" do seu pensamento (o processo de racionalização da vida).




O vídeo se divide em cinco partes, sendo que os detalhes dos conteúdos de cada parte estão descritos abaixo:

(1) Revisão dos conteúdos dos vídeos 01, 02 e 03: ciência moderna, empirismo, positivismo e materialismo dialético;

(2) Weber e Marx: crítica weberiana ao determinismo econômico marxista e afinidade eletiva entre o "ascetismo intramundano" do empresário protestante e o "espírito" do capitalismo na sua origem;

(3) Weber, aspectos gerais: múltiplos temas de pesquisa, racionalização como fio condutor do pensamento weberiano e a relação entre a ciência e o "desencantamento" do mundo;

(4) Weber, epistemologia: antinaturalismo e crítica ao positivismo, limites da quantificação nas ciências humanas, causalidade, valores e interpretação, tipos ideais e neutralidade axiológica;

(5) Conclusão: diagnóstico weberiano da modernidade, diálogo com diagnóstico marxiano (reificação/racionalização), dilemas da "gaiola de ferro/carapaça dura" (voluntarismo da ação na proposta metodológica x determinismo da ação nas pesquisas realizadas?).

Acesse também:

As referências que fundamentam o vídeo são: FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1975; OLIVA, Alberto. Ciência e ideologia: Florestan Fernandes e a formação das Ciências Sociais no Brasil. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1997; PIERUCCI, Antônio Flávio. O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber. São Paulo: Editora 34, 2013; SELL, Carlos Eduardo. Max Weber e a racionalização da vida. São Paulo: Vozes, 2013; VANDENBERGHE, Frédéric. Uma história filosófica da sociologia alemã: alienação e reificação. Volume 1: Marx, Simmel, Weber e Lukács. São Paulo: Annablume, 2012; WEBER, Max. Metodologia das Ciências Sociais. 5a edição. São Paulo: Cortez / Unicamp, 2016; WEBER, Max. A ética protestante e o "espírito do capitalismo". São Paulo: Companhia das Letras, 2004.WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2011.

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domingo, 26 de julho de 2020

Blog em movimento: da sociologia popular à sociologiartesanal

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O tempo voa. Em 2008, quando comecei o projeto do blog sociologia popular, no terceiro ano da graduação em Ciências Sociais, tinha a ideia de construir um espaço digital com a meta de tentar divulgar teorias, conceitos e pesquisas sociológicas.

Doze anos depois, com 15 anos de Ciências Sociais e 11 de docência, penso que chegou a hora de o projeto assumir uma nova cara. Agora, ainda que a meta inicial permaneça implícita, o projeto de divulgar as Ciências Sociais assume uma feição mais próxima da maneira que desejo trabalhar daqui para frente: procurando uma sociologiartesanal.

O neologismo sociologiartesanal tem inspiração na obra de Charles Wright Mills, mas não traz um fundamento ortodoxo, não se fecha em apenas uma referência. Como diz o Luthier Vicente Carrillo, que representa a oitava geração de construtores de violão, em Cuenca, na Espanha, "o artesanato é a imperfeição da perfeição".

Sem esconder imperfeições, busco uma sociologiartesanal que fomente rigor, pluralidade, criticidade e criatividade, na produção e divulgação do conhecimento, para, quem sabe, ajudar a analisar as principais questões sociais do nosso tempo histórico.

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quarta-feira, 8 de julho de 2020

Em defesa das Ciências Sociais

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

No dia Nacional da Ciência, assim como nos demais dias, cientistas sociais lidam com desafios o tempo todo: opiniões, ideologias, distorções, falácias, determinismos... Há diversas formas de produzir significado sobre a vida humana em sociedade competindo com o conhecimento que fundamenta a nossa atuação profissional.

O próprio conhecimento científico das relações sociais não parece escapar dessas influências, e muito menos as pessoas/cientistas - elas mesmas integrantes das sociedades humanas que investigam. Além disso, há de se ter clareza de que outras matrizes de conhecimento possuem muito valor.

Diante de todas essas questões, é preciso ousadia e dedicação para afirmar uma ciência social crítica, rigorosa e criativa. Demanda tempo, condições materiais adequadas, estudo, maturidade; domínio do que foi e é pesquisado e teorizado sobre múltiplos temas que se inter-relacionam; domínio das bases filosóficas sobre o ser e o conhecimento; e domínio dos artefatos metodológicos disponíveis, da estatística à etnografia.

É verdade que cumprir todos esses requisitos equivale a abdicar de viver para apenas trabalhar, sendo que isso não vale o esforço. Contudo, os tempos sombrios são aqueles em que nos tornamos mais relevantes.

Procurando rigor, pluralidade, criticidade e criatividade, na produção e divulgação do conhecimento, os desafios que requerem ousadia podem se concretizar na defesa das Ciências Sociais e de sociedades mais democráticas, livres, sustentáveis e com oportunidades para todos.

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quinta-feira, 2 de julho de 2020

O materialismo histórico e dialético


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O vídeo tem como objetivo apresentar as características do materialismo histórico e dialético, elaborado por Karl Marx, em parceria com Friedrich Engels, destacando suas fontes principais (dialética idealista, materialismo mecanicista, economia política empirista e filosofia política socialista).
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Além disso, o vídeo discute as diferenças do método marxiano de análise da realidade social na relação com o empirismo e o indutivismo. A aula contou com uma edição pormenorizada, que contém trechos do filme "O jovem Karl Marx" (Diaphana Films, 2017) e uma fala do Prof. Dr. José Paulo Netto (UFRJ), especialista em marxismo.


As referências que fundamentam o vídeo são: MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998; MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2011; MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2011; OLIVA, Alberto. Ciência e ideologia: Florestan Fernandes e a formação das Ciências Sociais no Brasil. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1997; VANDENBERGHE, Frédéric. Uma história filosófica da sociologia alemã: alienação e reificação. Volume 1: Marx, Simmel, Weber e Lukács. São Paulo: Annablume, 2012.

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terça-feira, 23 de junho de 2020

Resenhando Saberes #02: Jornalismo e fake news no século XXI


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Na segunda troca de ideias sobre temais atuais, conversei com o jornalista Estêvão Pires da Silva, que possui quase 15 anos de experiência no exercício do jornalismo profissional, tendo trabalhado em diversos veículos de comunicação importantes do Sul do Brasil - em rádio, internet e televisão.




Estêvão nos deu uma verdadeira aula sobre jornalismo profissional. A conversa girou em torno de três tópicos: (1) os detalhes da rotina profissional do jornalista, e as diferenças entre jornalismo e fake news; (2) as condições do trabalhador do jornalismo e os oligopólios das grandes empresas de comunicação; (3) o futuro da atividade jornalística, neste século em que a informação deve estar no centro dos debates mais relevantes.

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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Popper e o "falsificacionismo"

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O vídeo tem como objetivo o entendimento da epistemologia falsificacionista de Karl Popper, em diálogo com o positivismo de Auguste Comte e o empirismo lógico do Círculo de Viena.




O material se divide em duas partes: 1) Um resgate dos argumentos do empirismo, em especial da doutrina positivista de Comte e do Círculo de Viena, indicando aproximações e distanciamentos da filosofia da ciência de Popper; 2) A epistemologia elaborada por Karl Popper, a partir da ideia de "falseabilidade" ou "falsificacionismo". 

Acesse também:

As referências que fundamentam o vídeo são: HAHN, Hans; NEURATH, Otto; CARNAP, Rudolf. A concepção científica do mundo – O Círculo de Viena. Cadernos de Historia e Filosofia da Ciência, 10, 1986, p. 5/20; OLIVA, Alberto. Ciência e ideologia: Florestan Fernandes e a formação das Ciências Sociais no Brasil. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1997; POPPER, Karl. A miséria do historicismo. São Paulo: Edusp, 1980; POPPER, Karl. La lógica de la investigación científica. Madrid: Editorial Tecnos, 1971; POPPER, Karl. Lógica das Ciências Sociais. São Paulo: Editora Tempo Brasileiro, 1979.
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sexta-feira, 5 de junho de 2020

Resenhando Saberes #01: A atualidade do conceito de classes sociais

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O Resenhando Saberes é um projeto de trocas de ideias informais, via aplicativos de internet, que tem como objetivo a discussão de temáticas atuais, em profundidade e com linguagem popular.

Na primeira conversa, o convidado foi o Prof. Ms. Glauco Ludwig Araujo, atualmente doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Durante cerca de 30 minutos, conversamos sobre como se definem as classes sociais, sobre o alcance e os limites da mobilidade social, além de debater a meritocracia como legitimação da estratificação na sociedade brasileira. Por fim, também abordamos as consequências da pandemia de Covid-19 para as diferentes classes sociais.


Todas as conversas serão gravadas e estarão sempre disponíveis no canal do blog no YouTube. Os assuntos podem ser os mais diversos, e tendem a dialogar com questões importantes na atualidade.

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sexta-feira, 29 de maio de 2020

O positivismo em Comte e o Círculo de Viena


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O vídeo tem como objetivo apresentar o positivismo proposto por Auguste Comte e os seus desdobramentos no chamado Círculo de Viena.




O material se divide em três partes: 1) Os antecedentes do positivismo, com o foco no racionalismo e no empirismo; 2) A doutrina positivista e a obra de Comte; 3) Os desdobramentos da doutrina positivista, enfatizando o Círculo de Viena.
 
As referências que fundamentam o vídeo são: COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva; HAHN, Hans; NEURATH, Otto; CARNAP, Rudolf. A concepção científica do mundo – O Círculo de Viena. Cadernos de Historia e Filosofia da Ciência, 10, 1986, p. 5/20.

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segunda-feira, 4 de maio de 2020

Não há de ser inutilmente, Aldir


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

No dia 4 de maio de 2009, iniciei a aventura de ser professor. Quis o destino que hoje, 11 anos depois, um vírus mortal levasse o gigante Aldir Blanc.

Em todos esses anos, busquei na docência a defesa e o aprofundamento da democracia. Uma forma de fomentar para todos a liberdade, a igualdade e a dignidade de um mestre-sala.

Falhei muitas vezes. Incontáveis tardes me caíram como um viaduto. A sala de aula é casa de marimbondo, e tem gente aí que acha que aprender é contravenção.

De uns anos pra cá, tudo piorou. Os corpos estendidos no chão do Brasil que o Brazil não conhece, ou os tantos que partiram num rabo de foguete, entre cantos e chibatas, viram-se outra vez diante da brutalidade dos torturadores e seus asseclas.

Sentindo um frio na alma, te convido a dançar, Esperança Equilibrista. O tempo corre e o suor escorre, e a gente não pode entregar o país ao nosso passado mais sombrio. A ciranda do povo não pode desistir.

Só assim, sem se entregar, é que essa dor assim pungente, não há de ser inutilmente. São professores como eu, pais de santo, passistas, flagelados, balconistas, palhaços ou boias-frias...

Não importa quem somos, não podemos nos entregar ao porão e aos genocidas. Cantemos alto, porque se eu contar o que pode um cavaquinho, os "homi num vai crer": "Glória, a todas as lutas inglórias, que através da nossa história, não esquecemos jamais!".
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quinta-feira, 30 de abril de 2020

Agradecer

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Em casa, agradecer tem sido a minha pauta diária. Amanheço agradecendo ao amor da Kambili, essa peluda sempre tão presente e carinhosa.

No café da manhã, agradeço aos meus familiares mais próximos, por todo o amor e cuidado que me dedicam.

Enquanto me preparo para leituras e afazeres, sou grato pela educação que tive, da escola ao doutorado, e por nunca ter me faltado um lar, comida e algum lazer.

Quando a atenção dispersa, penso no carinho das pessoas. Bate uma gratidão enorme pelo amor que vivi durante 13 anos, e por todos os amigos/amores que a vida me deu há muito ou pouco tempo.

Chego ao fim do dia grato demais pelo Sol, pela praia e pelo mar, a bola pro alto, os lugares que conheci, os livros que ouvi, os discos que li, os alunos com os quais tanto aprendi.

Se o país em que vivo tá cheio de gente defendendo o lucro acima da vida, sem sequer cogitar que a sociedade (via Estado) deve amparar quem precisa, eu sou grato por não estar entre essa galera.

E aí, quando vejo a lua e as estrelas, só consigo sorrir. Até aqui, sou um privilegiado. Sorrindo, posso agradecer amanhã quando acordar outra vez.
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quinta-feira, 23 de abril de 2020

A metáfora (macabra) da modernidade


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

As pessoas estão morrendo isoladas, para não contagiar seus entes queridos. Será a metáfora (macabra) perfeita do individualismo ocidental moderno?

O arranjo que mistura liberalismo econômico dogmático com conservadorismo moral vai se sustentar?

Vamos entender de vez que muitas coisas simplesmente não são mercadorias, pois a nossa vida e bem-estar geral dependem delas?

O aprofundamento das desigualdades e do caos social vai nos fazer buscar mais democracia, não só votar, ou baixaremos a cabeça aos autoritarismos de ocasião?

Vamos conseguir superar o egoísmo narcisista, no caminho da cooperação e da solidariedade entre os diferentes, ou essa crise resultará em mais nacionalismos e xenofobia?
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segunda-feira, 6 de abril de 2020

É para isso que serve a Sociologia?


Por Karen Kendrick*
Albertus Magnus College

Nesse momento, planejo uma aula para meus estudantes sobre como o capitalismo e a globalização criaram as condições para a pandemia do COVID-19. Estou fazendo isso porque a universidade em que trabalho me pediu para migrar minhas aulas para plataformas online pelo resto do semestre. Tendo em vista quem eu sou e o que ensino, decidi que vou pedir para os alunos estudarem sociologia durante a pandemia, só tenho uma escolha. Tenho que ensiná-los sobre como sociólogos pensam a respeito de pandemias.

Então pensei em começar da mesma forma que inicio meu curso de Sociologia da Saúde e da Doença. Na primeira aula introduzo o estudo da epidemiologia - uma palavra bonita que significa os padrões de saúde e doença entre populações humanas [1]. Direi algumas coisas sobre como os seres humanos tinham uma expectativa de vida muito mais curta que atualmente e como vimos alguns períodos de aumento dessas taxas, mas a grande mudança na expectativa de vida dos humanos veio entre 1900–1930 durante a transição epidemiológica. A expectativa de vida para homens brancos nos EUA passou de 47 para 60 anos e para homens negros de 33–48. Por um longo tempo nos parabenizamos por esse aumento, devido à melhoria dos sistemas sanitários e de esgoto, e estes foram muito importantes. Mas os fatores mais importantes na transição epidemiológica foram uma melhoria generalizada nas condições nutricionais e de vida - ar limpo e abrigo. Comer bem e não viver amontoado em moradias precárias nas cidades industrializadas ou vilas de camponeses melhorou nossos sistemas imunológicos e reduziu a quantidade de pragas e influenza que espalhamos entre nós.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Manifesto: Diretrizes e medidas de combate à pandemia do corona vírus e para a recuperação da economia (UFRGS)


Professores da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS lançam manifesto com 32 sugestões de diretrizes e medidas de combate à pandemia do corona vírus e para a recuperação da economia. Os professores destacam as medidas contundentes que vêm sendo adotadas nos países em que a pandemia atingiu níveis mais graves e chamam a atenção para a necessidade de o Brasil seguir os mesmo passos, abandonando a timidez e mobilizando amplos recursos dos setores público e privado no imediato combate à crise. Não é hora para inação. O manifesto inclui medidas imediatas para suporte ao setor da saúde, medidas de sustentação do emprego e da renda no curto prazo enquanto durar a pandemia, medidas para assegurar disponibilidade de serviços de utilidade pública e habitação enquanto durar a pandemia, medidas de apoio a empresas fortemente atingidas pela pandemia e de garantia do abastecimento dos bens de primeira necessidade e medidas para recuperação e sustentação da economia.


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terça-feira, 24 de março de 2020

Cientistas Sociais e o coronavírus


Por Rodrigo Toniol
Antropologia UNICAMP


Boletim n. 1 da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)

A pandemia do Corona colocou nas nossas conversas cotidianas pelo menos três tópicos: questões biológicas sobre a dinâmica do vírus, a gestão política em tempos de epidemia e o crescente e generalizado pânico das populações. Sobre esses temas e, principalmente, sobre a articulação entre eles, as ciências sociais têm se dedicado há décadas. Somente nos últimos anos podemos recuperar os trabalhos sobre Zica, ebola, aids, malária e SARS. Pesquisas que receberam financiamento, que foram conduzidas com rigor e que agora nos ajudam a entender o momento que vivemos e também a imaginar algumas saídas para reduzir o impacto que o Corona terá em nossas vidas.

Pensando nisso, reunimos uma breve bibliografia de textos que abordam o tema das epidemias, do contágio e do controle de doenças a partir de uma perspectiva das Ciências Sociais. Ao longo dos próximos dias incluiremos novas referências, que permanecerão disoníveis no link abaixo.

Com relação ao COVID-19, especificamente, houve uma uma resposta rápida por parte do site “somatosphere”, que publicou no dia 06/03 um fórum de debates que reuniu historiadores, cientistas políticos, sociólogos e antropólogos dispostos a refletir sobre os impactos dessa nova pandemia.

Este também é um momento oportuno para revisitarmos o blog da antropóloga Soraya Fleischer (UnB), que junto com seu grupo de pesquisa, apresenta histórias das pessoas que continuam vivendo os impactos da epidemia do Zica Virus. O Zica também foi tema da produção audiovisual de Debora Diniz, cujo curta metragem nos permite chegar mais perto dos dramas e dilemas de ser afetado por uma epidemia.

Como já temos percebido, os efeitos do Corona estão muito além de ser contagiado ou não. As ciências sociais nos ajudam a perceber como as epidemias nos afetaram ao longo da história e como o debate sobre as formas de reagir a ela sempre envolvem questões que extrapolam o agente biológico. Essa também é a hora de olharmos para o conhecimento produzido pelas Ciências Sociais.


segunda-feira, 2 de março de 2020

Abordagens qualitativas e quantitativas na pesquisa sociológica

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
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A pesquisa sociológica costuma ser classificada a partir de duas abordagens, a qualitativa e a quantitativa. Porém, ambas as abordagens se relacionam com alguns pressupostos, como as discussões ontológicas e epistemológicas. Em conjunto com os aspectos metodológicos e técnicos, essas discussões constituem o centro deste texto.

Donatella Della Porta e Michael Keating, em “Approaches and Methodologies in the Social Sciences”, organizam este debate categorizando quatro “correntes teóricas”. Do ponto de vista ontológico, as principais questões são: a realidade social existe enquanto entidade coletiva? É possível conhecer a realidade social? Do ponto de vista epistemológico, coloca-se as seguintes questões: como se dá a relação entre pesquisador e objeto de pesquisa? Que tipo de conhecimento é possível produzir?

A primeira corrente teórica citada pelos autores é o positivismo, que aparece em Augusto Comte, Herbert Spencer e, para alguns, em Émile Durkheim. Trata-se de uma escola fundadora da Sociologia como disciplina especializada, e que enxerga as Ciências Sociais como semelhantes às demais ciências. A realidade social é uma entidade externa ao observador, cognoscível na sua totalidade. O pesquisador deve descrever e analisar essa realidade. Pesquisador e objeto de pesquisa são diferentes e é possível que a pesquisa seja feita de forma neutra, sem que o pesquisador afete o objeto de pesquisa. O conhecimento resultante busca “leis”, “regularidades” e relações causais.

Num segundo momento, verifica-se a emergência do pós-positivismo ou neopositivismo, para quem a realidade social permanece entendida como objetiva e existente à revelia da mente humana. Entretanto, ela é imperfeitamente cognoscível. A ideia de “leis” é substituída pela ideia de “probabilidades”. Mesmo que não haja um rompimento com o positivismo no seu âmago, há uma flexibilização importante das suas prerrogativas lógicas e uma aceitação de algum grau de incerteza. O realismo crítico, por exemplo, de Roy Bashkar, define a existência de um mundo objetivo real, à medida que o conhecimento humano sobre ele é socialmente condicionado.

A terceira corrente teórica é a interpretativista, na qual os significados objetivos e subjetivos estão bastante conectados. Subsiste uma forte crítica ao mecanicismo positivista, que é confrontado com a valorização da humanidade presente nos processo sociais. Pelo fato de os seres humanos produzirem significado o tempo todo, a pesquisa sociológica deve interpretar esses significados que motivam as ações. Dessa forma, a subjetividade atravessa o pesquisador, o objeto de pesquisa e o conhecimento produzido.

Mas é na quarta corrente teórica, a humanista, que a subjetividade ganha a sua maior relevância. É imperativo diferenciar as Ciências Sociais das Ciências da Natureza, pelo fato de que as primeiras passam sempre pelo filtro subjetivo por parte dos indivíduos, o que é uma característica importante tanto para a pesquisa, quanto para o objeto de pesquisa. Clifford Geertz argumenta nesse sentido, direcionando as Ciências Sociais para um tipo de “Ciências Interpretativas”. No extremo dessa corrente teórica, a realidade inexiste para além das imagens relativas e parciais construídas pela humanidade.

Diante das quatro correntes teóricas apresentadas por Della Porta e Keating, a pesquisa sociológica pode contar com estratégias metodológicas mais bem informadas. Os positivistas, em geral, trabalham com a linguagem das variáveis, como as “dependentes” (“explicadas”) e as “independentes” (“explicativas”). Com os pós-positivistas o contexto entra em cena e, mesmo que se mantenha a linguagem das variáveis, as relações entre elas não são tidas como válidas para todos os lugares e momentos. As abordagens quantitativas costumam ser relacionadas com essas perspectivas. As correntes interpretativista e humanista tendem a enfatizar casos específicos como entidades complexas, ressaltando o seu contexto. Nem causa e efeito, nem generalizações sãos incentivadas nessa orientação. Esse é o universo em que costumam se desenvolver as abordagens qualitativas.

Para cada orientação ontológica, epistemológica e metodológica, coexistem técnicas de produção e análise de dados empíricos. Entre as abordagens quantitativas, os questionários estilo survey tendem a ser um instrumento característico de produção de dados. Para analisar esses dados, pode-se utilizar a estatística descritiva, destacando médias, medianas, frequências e tabulações cruzadas. Indo além, as análises de correspondência simples e múltipla são recursos valiosos para análises exploratórias, pois fornecem “mapas geométricos” de associações e distanciamento entre variáveis categóricas (entendidas como “modalidades”). A análise de variância (ANOVA) ajuda a entender se as diferenças entre médias são significativas ou não. As regressões lineares, por sua vez, possibilitam a construção de modelos que identificam os efeitos de uma (simples) ou mais (múltipla) variáveis independentes sobre uma variável dependente quantitativa, com dados em distribuição normal.

Quanto às técnicas de produção e análise de dados sob uma abordagem qualitativa, Martin Bauer e George Gaskell definem a necessidade de se captar e analisar valores, significados e aspectos simbólicos. Para isso, são adequados os estudos de caso, as entrevistas em profundidade, os grupos focais, as análises de conteúdo (que pode até flertar com a abordagem quantitativa), as análises de discurso e as etnografias. Essas são técnicas que aprofundam aquilo que é produzido no universo simbólico dos indivíduos e suas relações e interações.

Por fim, é sempre preciso dizer que as escolhas metodológicas devem estar relacionadas a um problema de pesquisa consistente e objetivos claros. Além disso, como fomenta Teresa Duarte, a possibilidade de “investigação a três” ou “triangulação metodológica”, sustentada em concepções ontológicas e epistemológicas bem discutidas, tende a auxiliar o avanço das Ciências Sociais.
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Trinta e cinco verões

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Diante do espelho, olho no fundo dos meus próprios olhos: daqui a poucas horas, 35 verões.

Passo um café. Nele, observo minha história. Com 15 anos, apenas um garoto, conhecendo as loucuras da vida, e começando a gostar das palavras escritas.

Aos 25, todas aquelas certezas, projetos e a sede cada vez maior de viver. Muito amor. Os primeiros anos de docência. E também tantas ilusões.

Hoje, quase aos 35, sou feito de dúvidas e escolhas. Sol, mar, areia, carinhos, amores... o tempo livre a admirar a lua cheia do verão, ouvir histórias ou contar os pelinhos no corpo de quem assim me deseja.

O poeta tem razão: o tempo é um caminho só de ida. Chegarei aos 45? Não tenho ideia. Sei que a sede e a fome de viver crescem em intensidade. O papo é reto e em ebulição. E por que não?

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