ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 1 (16)

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Novo tempo

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Talvez você, como eu, que é mais fácil ser convertido num PDF do que em apoiador de governo da morte, esteja com os nervos à flor da pele. Teremos alguns dias que vão parecer séculos pela frente e a coisa tá e vai seguir tensa e difícil.

Pensando bem, sempre foi tenso e difícil nesses tristes trópicos. Quando os ancestrais originários que manejavam como ninguém nossas florestas se deparavam com o invasor e sua sanha colonizadora, não era nada fácil. Veio a queda do céu, mas ninguém desistiu.

Quando pessoas escravizadas atravessavam o Atlântico e sobreviviam, sobrava desolação. E, então, jogava-se a capoeira, batiam-se os tambores e logo ali se aquilombavam povos inteiros. Resistiam e enfrentavam os donos do poder e seus capitães do mato.

Canta a pimentinha que a glória, à todas as lutas inglórias, nós não esquecemos jamais. Do suor de quem labuta nas fábricas, lares, comércios, escolas e universidades públicas; de quem rala nas lavouras e não é pop; das minas, manos e monas que decidem sobre seus corpos e amam quem quiserem amar: dessas gentes nascerá um novo país.

Cedo ou tarde, vamos despachar esse carrego que nos assalta há séculos. Pelo legado de quem foi torturado e supliciado. Por quem dedicou e dedica a vida a democratizar essa nação, nas ruas e nas instituições. Erguer a cabeça, firmar o pé, agir e botar fé. Mandar a tristeza embora. Acreditar que um novo tempo vai raiar. Nossa vitória não será por acidente.
 
 

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Judith Butler e os "problemas de gênero"

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

As desigualdades de gênero estão na pauta do dia nos debates acadêmicos e políticos. Há uma variada gama de posições, perspectivas e abordagens sobre o tema, dialogando de modo interdisciplinar e lidando com diferentes questões.

Judith Butler publicou, em 1990, a obra “Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade”, livro que gerou forte impacto nos grupos feministas e nas discussões sobre gênero. Butler questiona a distinção entre sexo e gênero, colocando em suspeição a ideia de que o sujeito do feminismo recai com exclusividade sobre as mulheres.

Para a autora, as instâncias reguladoras de poder impõem uma heterossexualidade compulsória e forjam um discurso dominante, fixando as identidades de gênero. Seu argumento pretende, ao criticar essa dinâmica, abrir caminhos para possibilidades de construções variáveis das identidades, buscando incluir lésbicas, transexuais e intersexuais.

Assim, Butler sublinha o caráter construído socialmente de todas as identidades. Isso problematiza teorias que operam com a categoria “mulher/mulheres” enquanto sujeitos privilegiados da luta política pela igualdade de gênero. Rejeitando essencialismos, não seria apropriado conceber esse sujeito político em termos estáveis ou permanentes.

 

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Como fazer um projeto de pesquisa em Sociologia?

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Neste vídeo introdutório, eu apresento os principais elementos de um projeto de pesquisa em Sociologia: tema, problema, objetivos, justificativa e relevância, hipótese, revisão bibliográfica, referencial teórico, metodologia, cronograma e referências.


Sugestões de leitura para a construção do projeto: (1) FLICK, Uwe. Introdução à Metodologia de Pesquisa. (2) GERHARDT, Tatiana & SILVEIRA, Denise. Métodos de pesquisa.


sábado, 15 de outubro de 2022

Um viva à docência!

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Hoje pela manhã eu me deparei com aquele jovem que começava a lecionar e com os e as milhares de estudantes que estiveram comigo nesses quase 14 anos. Lembrei das salas de aula das instituições pelas quais passei e de como os meus sonhos vieram a se misturar com a minha prática pedagógica.

De lá para cá, fomos transformados em inimigos da nação por uma cruzada fundamentalista que tomou conta do debate público brasileiro. O pessoal da casa grande, os perfumados da Faria Lima, os mercadores da fé, os milicianos, os armamentistas e seus fanatizados direcionaram sua máquina ideológica de mentiras e manipulações também para a educação. É o carrego neocolonial e neofascista ainda por ser despachado nesses tristes trópicos.

Por aqui, a esperança é equilibrista e segue potente como nunca. Nas escolas e universidades desse país, nos espaços não formais, o coro tá comendo e não há tempo a perder. Muitas professoras e muitos professores se viram nos trinta tentando sobreviver. Ao mesmo tempo, buscam o diálogo, o fomento da dignidade, a construção de oportunidades, de autonomia e pensamento crítico. Dedicam suas vidas e energias a cada dia, diante de tanta treta que não cabe em palavras.

Mesmo assim, os sonhos não envelhecem porque você, estudante, não deixou o seu desejo ser capturado pelo ódio, pelo ressentimento e pela brutalidade. Porque seus olhos ainda brilham. Nossos sonhos não caducam porque vivem em vocês, que desejam e agem por um mundo sem armas, com trabalho digno, florestas vivas, diversidade pujante e menos desigualdades. Que não desistem, apesar de tudo. Há futuro e ele é presente. Um viva à docência e fora genocida!

 

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Bruno Latour e a ciência em ação

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Bruno Latour foi um dos principais pensadores da ciência nas últimas décadas. O sociólogo e filósofo francês, conhecido por suas obras impactantes, mas também por ser um pesquisador que gostava de dar aulas, deixa um legado fundamental para as discussões sobre o conhecimento no tempo presente.

Seguindo os passos de David Bloor, Latour, Michel Callon e Madelaine Akrich foram responsáveis por elaborar a chamada "teoria ator-rede". No âmbito dos estudos da ciência, tecnologia e sociedade, essa linha teórica considera os atores sociais definidos pelo papel exercido na sua rede de atuação, pelos efeitos e repercussões que geram nessa rede. Tratam-se de "atores híbridos", porque a ação não é percebida como uma propriedade somente humana, mas como uma associação de actantes.

O ponto é entender que atores/actantes podem ser pessoas, objetos, animais, dispositivos inteligentes (máquinas) e instituições, por exemplo. Eles estão envolvidos em redes, com suas conexões ("nós") e interligações. Atores não humanos e humanos agem concomitantemente, influenciam e interferem no comportamento uns dos outros, sendo os atores não humanos ajustados pelos humanos conforme suas demandas.

Latour interessou-se bastante por investigar a ciência no seu "fazer", na sua construção diária. Na busca por analisar a ciência em ação, na prática, realizou diferentes etnografias em laboratórios de alta tecnologia. Sua antropologia das ciências procurou compreender como ocorre a produção dos fatos científicos e da verdade nas sociedades contemporâneas - ou, melhor dizendo, nas redes sociotécnicas. Uma jornada que rende e ainda renderá muitos frutos.

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Discutindo currículos de Sociologia na educação básica

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Neste vídeo introdutório, eu apresento uma breve discussão sobre os currículos de Sociologia na educação básica.


O vídeo tem como referência o artigo do Prof. Dr. Daniel Gustavo Mocelin (PPGS/UFRGS), intitulado "O currículo pelos professores: práticas de ensino de Sociologia no ensino médio em Porto Alegre", publicado em 2021.