Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Pensando bem, sempre foi tenso e difícil nesses tristes trópicos. Quando os ancestrais originários que manejavam como ninguém nossas florestas se deparavam com o invasor e sua sanha colonizadora, não era nada fácil. Veio a queda do céu, mas ninguém desistiu.
Quando pessoas escravizadas atravessavam o Atlântico e sobreviviam, sobrava desolação. E, então, jogava-se a capoeira, batiam-se os tambores e logo ali se aquilombavam povos inteiros. Resistiam e enfrentavam os donos do poder e seus capitães do mato.
Canta a pimentinha que a glória, à todas as lutas inglórias, nós não esquecemos jamais. Do suor de quem labuta nas fábricas, lares, comércios, escolas e universidades públicas; de quem rala nas lavouras e não é pop; das minas, manos e monas que decidem sobre seus corpos e amam quem quiserem amar: dessas gentes nascerá um novo país.
Cedo ou tarde, vamos despachar esse carrego que nos assalta há séculos. Pelo legado de quem foi torturado e supliciado. Por quem dedicou e dedica a vida a democratizar essa nação, nas ruas e nas instituições. Erguer a cabeça, firmar o pé, agir e botar fé. Mandar a tristeza embora. Acreditar que um novo tempo vai raiar. Nossa vitória não será por acidente.