ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 1 (16)

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A exploração do consumo nas crianças

Segue a primeira parte do documentário chamado Consuming Kids: A comercialização da infância, criado pela Media Education Foundation. É apavorante pensar no que as grandes corporações fazem com as crianças na atualidade. Vale lembrar: a infância é uma invenção conceitual recente. Abaixo do vídeo, segue o endereço para a lista de reprodução com todas as demais partes.

Ver a lista de reprodução com as demais partes.
(No canal The DocsBR do YouTube).

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Brasil: história e consciência negra

Por Roberta Traspadini, economista e educadora popular. Reproduzido do sítio do Brasil de Fato, 17/11/2011.

“... a história nos engana/ Diz tudo pelo contrário / Até diz que abolição/Aconteceu no mês de maio/A prova dessa mentira/É que da miséria não saio/ Viva vinte de novembro/ Momento pra se lembrar/ Eu não vejo no treze de maio/ Nada pra comemorar...” (domínio público).

A história do Brasil se caracterizou pela conformação da violência colonial europeia que, além de branca, era masculina na sua construção de poder.

Para isto, foi instituindo com força vil e adestramento cultural uma forma de ser para o negro e para o índio, a partir daquilo que o dono dos sujeitos definiria como civilização e trabalho.

Essa história, marcada a fogo e a ferro pelo racismo, se apresentou como única, como a história dos vencedores sobre os vencidos, e relegou os negros e os índios a um papel subordinado, ocultando sua função produtora de vida para outros.

O Brasil colonial aparece, em sua essência, como uma fase que oculta os reais processos de opressão e exploração utilizados pelos donos do poder para calar – na chibata e no tronco – os que se rebelavam contra a ordem dominante.

Essa capacidade de transformar o aparente no real trouxe para nossa história uma perversa essência de consolidação de estereótipos.

Estes estereótipos, para a ordem dominante do progresso, consolidaram um poderoso antagonismo sobre quem eram/são os civilizados/bárbaros, cultos/ignorantes, belos/feios, homens e mulheres ao longo da história.

A construção desse imaginário coletivo conformou uma lógica de não poder ser para uma parte expressiva de nossa classe trabalhadora negra e índia. Seja na condição de escravos ou na atual relação aparente de trabalhadores livres, reforçada pela democracia restrita.

Instaurou-se uma liberdade condicionada para a sociedade como um todo, sobre ser e sentir-se menos, como índios e negros.

O suposto fim do período colonial já havia assentado a centralidade das bases de consolidação da ética-moral sobre o ser menos, como mecanismo vital de dominação de uma classe sobre a outra.

A pele, os corpos, as culturas dos negros e índios, já haviam entrado para a história a partir da forma e do conteúdo dominantes, de exercer e manter o poder, eliminando objetiva e subjetivamente o real poder/dever ser desta parte integrante de nossa classe.

Na aparente consolidação democrática do Brasil republicano, igualitário e libertário, se consolidou a histórica essência dos valores éticos-morais da desigualdade, manifesta na inserção subordinada desde um ser menos para índios e negros.

Sob a aparente sociedade democrática se funda, além da desigual conformação de classes, uma relação ainda mais perversa de classificação sócio-cultural pelo gênero, pela raça-etnia e geracional.

Ser trabalhador e negro no Brasil significa que além da exploração produtora de valor para outros, a opressão real se manifestará pela histórica caracterização da produção do ser menos, quando em essência é ser mais.

Os mesmos postos de trabalho, ocupados por trabalhadores com cores de pele diferentes, conformarão um grau ainda mais perverso de exploração e opressão no interior da nossa classe.

A classe que vive do trabalho está subordinada pelo poder econômico e político da classe que vive da exploração do trabalho.

No Brasil, entre os explorados, ser mulher, ser negra e ser pobre, condiciona uma lógica de poder que intensificará os perversos conteúdos de exploração do capital sobre o trabalho no nosso território: a superexploração.

A liberdade desfigurada e a exploração manipulada geram uma herança maldita, que não será aniquilada ao menos que consigamos romper com a forma-conteúdo de produzir mercadorias classificando o humano como objeto da relação, da vida que ele produz.

O poder popular requer a restauração do ser mais da classe que vive do trabalho, rompendo com a estrutura de produção de vida em que o ser menos foi instituído como forma de adestramento necessária à manutenção da ordem e do progresso burgueses.

Segundo o último censo do IBGE-2010, a população brasileira é de mais de 190 milhões (190.755.799). Deste total, 43,1% se declarou preta (82.215.750) e 7,6% parda (14.497.441). Somados, chegamos a quase 97 milhões de brasileiros.

Oxalá que a história escrita e protagonizada por nós, a partir da luta organizada enquanto classe trabalhadora, nos permita recuperar na memória, nossa real história de ser mais, a partir da construção de um projeto nacional, democrático e popular, que ponha fim ao domínio do capital sobre nosso trabalho.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A corrupção como sistema

Por Muniz Sodré (jornalista, escritor e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Reproduzido do Observatório da Imprensa, edição 666.

Uma pequena história real e exemplar: o personagem é um antigo militante político, intelectual de peso, grande conhecedor da política e da economia nacionais, que sempre se recusou a pedir bolsa-ditadura sob a digna justificativa de que o povo não deveria pagar pelas opções ideológicas que o levaram à clandestinidade no passado. Dois terços de seus magros rendimentos mensais vão para um plano de saúde. Esta semana, internado de urgência num hospital paulista, acompanhou do leito as chicanas dos administradores do plano para não pagar despesas médicas. Apelou para um dos atuais próceres da República, ex-companheiro de militância, que resolveu o problema com um telefonema para os chicanistas.

Este é um tipo de história que não chega aos jornais, mas que, bem examinada, pode servir de material explicativo para assuntos de interesse público cujas repercussões vivem ocupando a mídia. O primeiro ponto a se destacar é do espectro amplo da mafialização, que se espalha não apenas pelos nervos do Estado, mas também pelo corpo institucionalizado da nação.

O contrato que o cidadão assina com os gestores de um plano de saúde é publicamente definido como algo moderno, com obrigações mútuas a serem cumpridas nos instantes precisos (pagamento mensal e prestação eventual de serviços), mas a hora da urgência é a mesma da regressão, em que o sistema de gestão se transforma em sistema espertalhão (wise guy, em inglês americano, é tanto espertalhão quanto mafioso), para tentar evitar a prestação do serviço. A “modernidade” cede então lugar ao processo semifeudal, arcaico, do jeitinho, das relações pessoais ou de prestígio.

Uma teia que se expande

O que um caso tão particular tem a ver com o que atualmente movimenta manchetes, noticiário de jornais e revistas, flashes televisivos e redes sociais sob a rubrica “corrupção”?

É que os dois fenômenos – mafialização e corrupção – estão visceralmente ligados, embora a conexão não esteja visível no derramamento de fraudes, que a mídia trata como incidências anômicas (crimes ou transgressões pontuais, com culpados e inocentes) no interior dos aparatos de Estado ou em suas relações com setores e indivíduos da chamada sociedade civil.

O comportamento mafializado, indutor de corrupção, faz-se presente em ínfima e magna escala no funcionamento do cotidiano nacional – e em tal intensidade que parece tornar-se “pedagógica” para o saber-viver no meio urbano. O cidadão está exposto, sem maior defesa, ao flanelinha que arranha o carro se não se aceita a extorsão, ao guarda municipal que aplica a multa indevida apenas para preencher sua cota diária, ao peeme capaz de assaltar e matar, ao gestor espertalhão do plano de saúde, ao contratante voraz da empresa de telefonia, ao licitante desonesto, ao pilantra legislativo, ao déspota executivo.

A lista antirrepublicana é infindável: os exemplos parecem coisas diferentes, mas na realidade fazem parte de uma teia que se expande em metástase, ao mesmo tempo em que a vida social parece hipermodernizar-se por efeito da comunicação eletrônica e de todos os seus gadgets, louvados por publicidade e governos.

“Desenvolvimento derivado”

É aqui aplicável, por analogia, o raciocínio do famoso prefeito de Nova York, Ralph Giuliani, quando se dispôs a combater seriamente a criminalidade naquela megalópole. Ele percebeu que o pequeno delito (depredar um equipamento público, por exemplo) de algum modo era subsidiário do grande crime. O pequeno comportamento mafializado pertence à atmosfera emocional (o ethos, dizem os sociólogos) do grande e funciona como uma epidemia.

A imprensa não se furta geralmente a noticiar os dois tipos de comportamento transgressivo, o pequeno e o grande. Mas embalada por seu próprio moralismo denuncista (e, às vezes, por obscuros interesses corporativos), não raro se emaranha na profusão dos fatos e passa ao largo das conexões sistêmicas do fenômeno, ou seja, fica cega para as causas sociopolíticas e econômicas do fato corruptivo.

Seria, assim, socialmente instrutivo se a imprensa se dispusesse a expor, ao lado das denúncias pontuais, as consequências sociais e éticas de um modelo de desenvolvimento orientado para a financeirização improdutiva (poder dos bancos) e predominantemente para o consumo, em vez de produção e oferta (modelo schumpeteriano). É aquilo que alguns economistas chamam de “desenvolvimento derivado”, isto é, derivado das inovações realizadas em outros lugares.

Denúncias duvidosas

Não falta quem veja nessa orientação predominante para a demanda o principal traço de diferenciação entre os países menos desenvolvidos e aqueles geralmente referidos como Primeiro Mundo. Mas o que importa aqui é assinalar que essa diferença afeta o espírito que anima a economia, produzindo valores sociais específicos, como (no caso da economia produtiva e inovadora) a aprovação concedida à austeridade, à igualdade de renda, ao bem-estar social etc. Esses valores não surgem romanticamente da boa vontade de empresários ou industriais, mas de reformas modernizadoras realizadas pelo Estado.

O atual momento da modernização brasileira pode louvar-se de miraculosa estabilidade econômica e institucional, embora convivendo com anacronismos como a centralização excessiva do poder da União, que precisa do sistema financeiro (dos caixas bancários) para cooptar a classe política e manter a sua discutível “governabilidade”. Os valores ligados à austeridade são praticados apenas sobre instâncias essenciais à modernização emergente, como educação e saúde. Para o resto se abrem as comportas dos gastos públicos sobre um solo social mafializado, por falta de reformas de modernização, e totalmente vulnerável à corrupção.

É contra essa realidade sistêmica que a imprensa deveria voltar as suas baterias. Pode-se derrubar um ou mais outro ministro, e nada mudará. A sucessão das denúncias é eticamente tão duvidosa quanto a tampa de um bueiro da Light na rua.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O rap é compromisso!

Abaixo estão três links para assistir um documentário com e sobre o rapper Sabotage, assassinado em 2004. Uma das vozes mais conscientes do rap nacional naquele período, Sabotage fala sobre a realidade na favela, discriminação, tráfico, polícia e muito mais. Vale muito conferir!



“O rap é compromisso, não é viagem!”