Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Enquanto o Congresso Nacional pega fogo, os rejeitos da mineradora privada se espalham pelo litoral e o desânimo parece querer nos afogar num mar de lama podre, duas iniciativas micropolíticas ajudam a respirar melhor: além das muitas escolas ocupadas por estudantes em São Paulo, a movimentação feminina nas redes sociais, por meio da tag “Meu Amigo Secreto”.
A iniciativa das minas é corajosa e é um soco no estômago. Sim, no meu estômago e no de praticamente todos os homens que eu conheço. Quase nenhum escapa a, pelo menos, uma história relatada. Eu, certamente, não escapo. O que me enche de vergonha e me põe em estado de reflexão. Só que pensamento, vergonha e apoio a autonomia delas, apenas no âmbito do discurso, parece e é pouco, bem pouco. Mais importante – e difícil – é transformar tudo isso em práxis, em união de teoria e prática cotidiana.
Nunca fui e nunca serei protagonista das pautas feministas. Não sou mulher e desconheço, na pele, o que é ser uma mulher. Acho que uma responsabilidade masculina é produzir a autocrítica entre nós, homens, para dizer e fazer o mínimo. Sério que isso tudo te parece apenas ressentimento? Apenas mimimi? Vitimismo? Sério que te parece que as minas se acham o centro do universo? Por quê? Por que não reconhecemos os nossos privilégios, as violências psicológicas que perpetuamos ou os silenciamentos que produzimos? Não seríamos nós, homens, os autoproclamados donos do universo?
A justa porrada no estômago pode ter um caráter pedagógico. Já tá mais do que evidente que as minas vão se calar cada vez menos e que o protagonismo delas tá só começando. Ponto para um mundo melhor. A hora de aprender a escutar, a respeitar, a deixar de ser um escroto é agora. Não dá pra adiar. Reconhecer que serviu o chapéu pode ser um primeiro minúsculo passo. Reconheço.
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