ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Ser professor: encontro e reencontro


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

No domingo, dia dos professores, meu nono ano como professor, perto das oito horas da noite o interfone de casa tocou. Por sorte, naquele momento, eu não estava na sacada, perto da brasa, das carnes e dos legumes; também não estava perto do samba que rolava no quarto, festejando o aniversário de uma pessoa muito amada. Quando atendi o interfone, um rapaz queria deixar um ingresso para uma amiga. Peguei uma cerveja e abri a porta. Durante alguns segundos, enquanto aquele jovem cabeludo subia as escadas e chegava à minha porta, não acreditei no que via. Tinha bem à minha frente um dos alunos mais queridos, inteligentes e sensíveis para quem tive o prazer de lecionar. Encontrar o jovem poeta e escritor na minha casa, num domingo de pura alegria, muitos anos depois, de algum jeito me levou de volta para a sala de aula da escola que eu e ele e muitos outros fazíamos acontecer juntos, dia após dia. Em tempos tão difíceis, tempos de precarização da profissão docente, seduções autoritárias e intensificação das desigualdades, sorrir outra vez com aquele garoto foi como um reencontro comigo mesmo: ser professor, buscar o brilho nos olhos, insistir na sensibilidade, nas relações e no conhecimento – tudo isso ainda vale a pena.

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