Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Contrariando qualquer forma de
determinismo, o alemão Max Weber é considerado um dos clássicos da Sociologia e
fundador de uma tradição bastante fecunda nas Ciências Sociais. Weber destoa
dos autores que propunham abordagens metodológicas para as ciências da
sociedade a partir de laços estreitos com as ciências da natureza. Segundo o
autor, não é possível tratar as relações entre seres humanos como “coisas”, ou
encontrar uma “linha mestra” (teleológica) da História humana.
Para produzir uma ciência da vida
social, é fundamental compreender a ação das pessoas desde o ponto de vista do
sentido e dos valores que elas atribuem às suas ações, e não simplesmente desde
pretensas causas e condicionamento externos. A trajetória de Weber abrange a
proposição de construir um quadro conceitual para dar conta do conjunto das
atividades humanas, situando-as nos seus períodos históricos específicos. Às
ciências do comportamento humano cabe resgatar e compreender a marca
característica de cada época e de cada cultura, demarcando-as na dimensão dos
fatos, e não das abstrações por si só.
Weber deixa claro que é preciso separar
a Sociologia da opinião. A Sociologia não teria como objetivo amparar reformas
ou revoluções sociais, na medida em que demanda uma “neutralidade axiológica”,
um guia para o cientista social capaz de mantê-lo sempre atento às diferenças
entre o que é “normativo” e o que é “real”, ou entre o que é “juízo de valor” e
o que é “juízo de fato”. Nada disso significa que o sociólogo não possua
valores pessoais ou opiniões sobre quaisquer fenômenos da vida coletiva, mas,
sim, que esses juízos de valor não podem macular o trabalho científico, ligado
aos juízos de fato. A Sociologia não é uma atividade especulativa ou uma
analítica conectada ao exercício da política.
Não obstante, como se pode definir o
método sociológico, na visão weberiana? Na perspectiva de Max Weber, a Sociologia
deve ser definida como uma ciência que pretende compreender e interpretar as
atividades sociais e, assim, capacita-se a explicar as causas, os processos e
os efeitos das ações humanas em sociedade. Tais atividades sociais são
definidas pelo autor como “ação social”, caracterizando o comportamento humano
que produz sentidos subjetivos e se orienta e se relaciona com o comportamento
de outras pessoas. Dessa forma, nem toda atividade ou ação humana é uma “ação
social”, pois ela demanda uma relação ou orientação para com outras pessoas ou
grupos de pessoas. A compreensão e a interpretação das causas e efeitos das
ações sociais constituem o objeto próprio da análise sociológica.
A
Sociologia weberiana é uma ciência compreensiva e explicativa, cujo centro
analítico reside em compreender e explicar os valores e sentidos pelos quais se
pautam as ações sociais. Contudo, essa dimensão compreensiva em termos
metodológicos não é uma criação de Weber, mas remete ao filósofo alemão Wilhelm
Dilthey e a toda uma posterior corrente de pensadores “neokantianos”. Com a
obra “Introdução às ciências do homem” (1883), Dilthey promove uma separação
relevante entre os métodos das ciências da natureza e os métodos das “ciências
do espírito”. A distinção principal entre os métodos se deve ao fato de que as
ciências humanas lidam com seres dotados de consciência e que agem motivados
por valores, crenças, representações e racionalidade, não se limitando a reagir
aos estímulos dos ambientes que frequentam.
Em
virtude disso, as ciências humanas não podem se vincular ao positivismo, e
precisam adotar o método compreensivo, reconstituindo o sentido que os
indivíduos atribuem às suas ações. Os fenômenos sociais não são simples
consequências de pressões externas ou causas que se impõem às pessoas. A vida
em sociedade é o resultado das decisões levadas a cabo pelos próprios
indivíduos, que agem produzindo sentido às suas ações. Em Weber, a procura por
evidenciar as causas dos fenômenos sociais é o complemento lógico da Sociologia
compreensiva. Explicar é perceber a analisar o efeito de uma ação X sobre uma
ação Y, buscando as conexões entre as ações sociais através de cadeias causais.
Quando se dá forma a esse encadeamento causal, faz-se perceptível as possíveis
contradições e os possíveis conflitos oriundos dos sentidos dados pelos
indivíduos no decurso das suas ações.
Conforme
o sociólogo alemão, a vida em sociedade possui uma pluralidade de causas, sendo
cada sociedade singular e passível de ser explicada por meio de uma combinação
de múltiplos fatores: econômicos, políticos, culturais, morais e etc. A ciência
da sociedade pode apontar tendências e probabilidades. A Sociologia não tem
condições de dizer o que os indivíduos devem fazer, pois ela é uma ciência
empírica, devendo analisar aquilo que os sujeitos podem ou querem fazer. Weber
se utiliza das comparações em diversos momentos da sua obra, o que fornece a
possibilidade de destacar as singularidades das configurações históricas,
sociais, religiosas e etc. – tudo aquilo que o cientista social pode estudar.
Weber
sugere, ainda, o uso de um instrumento conceitual definido como “tipo ideal”.
Na tarefa de analisar as ações sociais, o cientista pode criar categorias que
não consistem em representações exatas dos fenômenos estudados, mas acentuam
deliberadamente determinados trações desses fenômenos. O tipo ideal não é um
espelho da realidade, mas auxilia na análise dos componentes da realidade a ser
pesquisada. Trata-se de uma ferramenta de investigação com fundamentos
totalmente lógicos, e não um fim em si mesmo. O tipo ideal é útil, também, para
a busca de causalidades, pois comparando a realidade de um fenômeno e a lógica
do seu tipo ideal, o sociólogo pode captar e confirmar a coerência do fenômeno
e distinguir as causas exteriores que recaem sobre ele.
Referências
LALLEMENT, Michel. História das ideias sociológicas: das origens a Max Weber. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
WEBER, Max. Metodologia das Ciências Sociais. São Paulo: Editora Cortez, 2016.
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