ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 1 (16)

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Alteridade e conhecimento: feliz 2016!


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Em clima de ano novo, vi um casal passeando pela metrópole. Pareciam tranquilos os jovens amantes. A cidade também parecia mais calma.

Só que nem tanto. Um ônibus passou em alta velocidade, muito próximo a nós três, que aguardávamos na faixa a nossa vez de atravessar a rua. Atrás do veículo, havia uma mensagem publicitária que desejava algo para 2016. Esse algo se resumia a poucas palavras. A interpretação do rapaz foi direta:

- É isso! Tu viu ali?! Autoridade!!! Mas autoridade mesmo! É isso que eu quero também para 2016. Mais autoridade nesse país. Repressão pra essa cambada de vagabundos.

Meio sem entender, a mulher ficou quieta. O rapaz seguiu interpretando a sua experiência.

- Autoridade e comportamento! Bom comportamento! Exatamente o que tava escrito no busão. Quem dera 2016 viesse com esses dois pilares de uma sociedade que se dá ao respeito.

A moça pensou uma vez. Pensou de novo. Quando terminamos de atravessar a rua, talvez por perceber a minha cara de espanto, ela pegou o rapaz pela mão e explicou, com calma, as palavras corretas:

- Autoridade e bom comportamento? Tá, ok. Mas o que tava escrito no ônibus era “alteridade” e “conhecimento”, querido.

- Ah, é?! – ele replicou, esboçando não entender direito o que essas palavras faziam numa mensagem de final de ano.

- Sim, meu amor. Alteridade significa se colocar no lugar do outro. Conhecimento é o ato de conhecer. Envolve descrições, observações, estudos, investigações, teorias, conceitos, métodos e, eu diria, pode e deve envolver a razão, a racionalidade humana.

Enquanto ele parecia remoer “autoridade e bom comportamento” na sua viagem interior, a moça me olhou com um sorriso de canto de boca. Eu retribuí. E adicionei, sem conter a empolgação:

- Alteridade e conhecimento! Feliz 2016!

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Autoanálise 2015: parte final

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Dentro de poucos dias, 2015 será página virada. Dos três pontos que considero mais críticos do meu trabalho de escrita e de sala de aula, já refleti sobre os dois primeiros: a questão da cientificidade e o viés político. Óbvio que muitos outros pontos poderiam entrar em pauta. Porém, para finalizar essa autoanálise, oriunda de um sentimento de respeito pelos estudantes, leitores e colegas que me dão a honra da sua parceria, resta falar um pouco sobre a relação entre a teoria e a prática.

Quando ambiciono enfrentar a questão crítica da relação entre teoria e prática, refiro-me àquilo que defendo na esfera da comunicação com os outros e àquilo que faço, na esfera da prática cotidiana. Não se trata de uma equação simples, bastando comunicar o que se faz e fazer o que se comunica. Por isso, da tentativa de fugir de histórias únicas, valorizando a ciência (mas não só ela), e na tentativa de produzir histórias múltiplas à esquerda, acabo distinguindo três pontos no relacionamento entre teoria e prática: a disposição para um diálogo verdadeiramente democrático, a polêmica do “politicamente correto” e a questão do consumo numa sociedade capitalista.

Tenho investido na proposta de fomentar um pensamento que não seja binário. As polarizações, nesse intuito, mostram-se muito prejudiciais. Ao polarizar e estacionar em um polo, o espaço para a construção ou para o aprendizado mútuo perde muitas das suas possibilidades. Se não estou disposto a escutar, não pretendo sequer considerar o argumento alheio, fica difícil crescer em termos de conhecimento. Tenho defendido que, em meio a tanto ódio e violência, sejam físicas, verbais ou emocionais, fomentar disposições para diálogos verdadeiramente democráticos é uma tarefa para ontem.

Numa trilha como essa, paciência, escuta e reflexão funcionam como premissas. E é aí o local em que reside uma dificuldade muito grande para este que vos escreve. Como que num pântano do qual não consigo me afastar, tenho percebido as minhas imensas dificuldades em realizar aquilo que proponho como fundamental. Tenho tido muitas dificuldades para fomentar diálogos abertos, pacientes, amigáveis, argumentativos e formatados de uma maneira em que todos envolvidos ganhem alguma coisa com aquele acontecimento.

É paradoxal. Em sala de aula, em diálogos com pessoas mais distantes, rapidamente consigo recordar que essa é uma postura imperativa nas minhas reflexões individuais. Costumo mobilizar grandes esforços, nesses casos, para evitar polarizações, evitar cegueiras ou enfrentamentos autoritários. No entanto, nos momentos em que me vejo mais a vontade, com amigas e amigos próximos, não raros são os momentos em que me vejo imerso em debates cujo sentido se torna muito mais o debate pelo debate do que o aprendizado com as versões oferecidas pelos debatedores.

Um projeto particular para o próximo ano é, sem nenhuma dúvida, concretizar as disposições capazes de formatar os meus argumentos, com todas as pessoas, mas, sobretudo, com as quais mais convivo e gosto, sem despejar tons involuntariamente agressivos, sem passar a ideia de razão absoluta sobre os fatos ou coisas do gênero. São disposições que me parecem cada vez mais necessárias na esfera pública e que precisam se aplicar para as relações pessoais mais íntimas. Não importa qual for a divergência.

Daí se sobressai o segundo ponto sobre a relação entre teoria e prática que gostaria de abordar. Hoje, muitos amigos se queixam de que vivemos numa sociedade amarrada pelo “politicamente correto”, na qual “simples” piadas são interpretadas “ao pé da letra” e podem gerar discussões que, no limite, podem gerar graves rompimentos. O que é mais assustador nessas falas, eu creio, é que muitos dos que advogam uma liberdade irrestrita de enunciação são os primeiros a partirem para as vias de fato se uma piada sem graça sobre homossexuais ou traição conjugal for feita para a sua ilustre pessoa.

Esse é um tema complexo. Os limites entre a censura e a reificação de ações opressivas contra negros, gays, mulheres, obesos, portadores de necessidades especiais, idosos, pobres, mendigos, doentes e/ou outros grupos sociais historicamente prejudicados no acesso a direitos, prejudicados nas relações de poder, costumam ser nebulosos, em geral de propósito. Mesmo assim, tenho procurado obstinadamente rejeitar piadas, argumentos ou quaisquer derivações semelhantes que ataquem aqueles que já são atacados há muito tempo. Tenho me esforçado para não reproduzir dominações e opressões. Para separar o lixo e consumir somente o necessário, de preferência reduzindo o que é necessário. Tenho me esforçado para não fetichizar as mercadorias que consumo. Na prática.

A questão do consumo num sociedade capitalista, em que o conflito entre capital e trabalho é um pressuposto, não deixa de ser menos complexa. A história única à direita, vendo no capitalismo o modo de produção mais adequado à espécie humana, esquece a disparidade de poder e vantagens que é consequência do conflito entre capital e trabalho, conflito intrínseco ao capitalismo, nunca é demais lembrar. A história única à direita bate nos posicionamentos de esquerda apontando as posses da pessoa que se posiciona à esquerda, seu carro ou celular caro, utilizando como base argumentativa o que Karl Marx chamou de fetiche da mercadoria.

Há, sim, a fetichização de mercadorias e uma sobrevalorização dos seus valores de troca, em detrimento dos seus valores de uso. Vivemos numa sociedade capitalista, em que comprar é um ato fundamental para a sobrevivência. Mais do que fundamental, vende-se a ideia de que é prazeroso. Há, por outro lado, o fato de que o marxismo prega a extinção das classes sociais, entendidas como posição ocupada no mundo do trabalho, e portanto prega o fim da propriedade privada dos meios de produção, não da propriedade privada em si. Além do que, para o próprio marxismo, uma espécie de história única à esquerda, pelo menos na sua vertente ortodoxa, não há como viver no capitalismo sem consumir as mercadorias produzidas no capitalismo. Estimular a economia compartilhada ou solidária é uma alternativa transformadora e que ilumina um percurso proeminente.

Dois adjetivos são imediatamente imputados àqueles que se postam contra a reprodução de argumentos opressores ou que propagam uma sociedade mais justa, sustentável e menos consumista: “caga-regra” e hipócrita. Engraçados adjetivos, para dizer o mínimo. Preocupantes, no fim das contas. O “caga-regra” seria o indivíduo que questiona a “tradição” das arriadas e das ideias que subjugam grupos sociais já subjugados em direitos básicos. Ao questionar privilégios, o indivíduo crítico propõe que se estabeleça o que poderíamos chamar de alteridade, ou seja, uma procura por se colocar no lugar do outro. No verso de alguém que “caga” regras, este sujeito busca novas regras, aliás, busca a aplicação de regras que já existem – direitos constitucionais, Maria da Penha, legislações para coibir o racismo, etc.

A hipocrisia de quem tenta reconstruir as suas relações sociais com base na alteridade, no elogio da diversidade, estaria atrelada ao fato de que estas pessoas sempre seriam de pele branca, das classes médias e, em suma, pessoas privilegiadas (esquerda caviar). Esse é um estereótipo e é, como tal, incompleto. Diz uma parte da história. Os movimentos populares estão aí para contar a história múltipla e lutar diuturnamente pelos direitos que lhes são negados. Aí, desse argumento incompleto de que toda a esquerda é branca e de classe média, vem para a superfície um aspecto importante trazido pela ascensão das teorias pós-colonialistas no âmbito acadêmico, pelo menos desde as últimas décadas. Entre muitos outros elementos, destes estudos e teorias brotam provocações que se relacionam com um embate específico, o chamado "lugar de enunciação" de cada pessoa.

Em outras palavras, o lugar de fala de cada um de nós estaria marcado profundamente pelas nossas experiências subjetivas, o que produziria diferentes “regimes de verdade” acerca da vida coletiva, dos privilégios e dos desfavorecimentos sociais. Levando essa intrigante consideração ao extremo, o lugar de fala do homem branco, heterossexual e de classe média e/ou alta, por estar totalmente de fora do conjunto das opressões hegemônico nas sociedades modernas, por ser este indivíduo o protótipo do dominante, impossibilitaria a produção de narrativas, argumentos ou, vá lá, verdades sobre a opressão sofrida pelos outros. Um texto clássico e polêmico que ilustra essa posição é a obra da crítica literária Gayatri Spivak, intitulada, não à toa, “Pode o subalterno falar?”.

Não tenho a intenção de ir a fundo nesse debate – ao menos nessa autoanálise de 2015. Porém, por tocar num ponto que estou abordando por aqui, sinto-me na obrigação de um breve comentário. Do ponto de vista racional, consigo compreender sem muitas delongas o fato de que o lugar de enunciação de cada um de nós é variado e é composto por diferentes conjuntos de experiências. Consigo compreender, também, o fato de que cada conjunto de experiências nos constitui a ponto de haver, sim, diferença entre o que um negro enuncia sobre o racismo, uma mulher sobre o machismo e assim por diante. Acho que vivenciar a experiência de opressão faz diferença no que se pode dizer sobre ela.

Só que, em paralelo, acho que sacramentar um diálogo com o argumento do lugar de enunciação tende a interditar o diálogo, ao invés de fomentá-lo. Se levarmos ao extremo o argumento do lugar de enunciação, mesmo no espírito da alteridade e da diversidade, podemos chegar à conclusão de que o trabalho de construção de uma sociedade melhor cabe somente aos que sofrem as agruras da vida como ela é, pois só eles sentem a opressão. É verdade que o protagonismo das reivindicações deve ser dos grupos sociais desfavorecidos. Não deixa de ser verdade que todos os demais têm um papel a cumprir.

Há uma cena no filme Selma, no qual os negros do sul dos Estados Unidos estão lutando para poder votar, sem sucesso e sofrendo muita retaliação violenta, em que os líderes do movimento negro conclamam toda a população do país a viajar para Selma e somar forças na marcha antirracista. Centenas de pessoas, vestidas do sentimento de alteridade, negras, brancas, pardas ou como quisermos classificá-las, direcionam-se à Selma e compõem as fileiras da marcha. Pode-se dizer que a marcha teve sucesso apenas quando os brancos estiveram juntos. Pode-se dizer, no reverso, que a luta dos negros para romper com a sua desumanização instigou a alteridade e fomentou uma construção coletiva para além da própria marcha.

Na prática, eu tenho falhado muito em todas as tentativas que elenquei neste texto. Tenho me esforçado para fazer melhor, mas ainda me sinto condicionado pelas relações de poder, de distribuição desigual de recursos, bens e oportunidades, e não me sinto completo no ativismo por uma sociedade cujas relações de poder e acesso a oportunidades, bens e recursos sejam distribuídas de maneira justa e equânime. Longe disso. Sinto-me, muitas vezes, sem esperanças comigo mesmo, dadas as minhas fraquezas e equívocos. Sigo, entretanto, tentando algo novo. Andando a pé, de ônibus e de bicicleta.

Por ser homem, branco, heterossexual e de classe média, não me sinto hipócrita ou “caga-regra” ao pretender incentivar uma sociedade em que meus amigos e meus desconhecidos que compõem grupos sociais cujos direitos à dignidade da vida humana tenham sido sistemática e historicamente negados, e ainda estejam sendo negados, vivam em pé de igualdade de oportunidades com todos os demais indivíduos humanos. Hipocrisia, para mim, é sonegar impostos e reclamar do sistema de saúde. Cagar regras, para mim, é seguir cuspindo preconceitos contra pessoas que, por vezes, estão do seu lado. Alteridade não é hipocrisia ou imposição de regras. É uma categoria ética. Feliz 2016.

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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Autoanálise 2015: parte 2

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

As questões políticas, em 2015, ocuparam um espaço muito grande nos debates públicos. No meu trabalho de escrita e de sala de aula não foi diferente. Há dois pontos críticos que me preocupam com frequência nesse quesito. O primeiro diz respeito a como definir um posicionamento político que me pareça adequado. O segundo abrange os limites do posicionamento político adotado pelo professor/pesquisador na relação com os estudantes e com a pesquisa social.

Gostaria de começar a refletir sobre o posicionamento político que me parece adequado elencando três dimensões que acredito indissociáveis: o planeta, a sociedade e o indivíduo. Ainda que tenha listado da dimensão mais ampla para a mais particular, partirei das considerações políticas sobre o indivíduo até chegar naquelas sobre o planeta. Não por acreditar que a “mudança começa pelo indivíduo” ou que o “autoconhecimento é a grande mudança”, mas porque partir do indivíduo me aproxima a qualquer leitor deste texto. Afinal, todos somos indivíduos humanos.

Fugindo da história única, procurando narrativas múltiplas, não tenho problema de dialogar com o filósofo estadunidense, liberal e de direita, John Rawls, conhecido pela sua teoria da justiça como equidade. Na minha interpretação do autor, destaca-se a proposta de que as virtudes das instituições sociais estão associadas ao seu caráter de justiça, se elas conseguirem contemplar o máximo de liberdade possível para os indivíduos numa sociedade justa (princípio da liberdade), do ponto de vista das distribuições de oportunidades e da ideia de que as desigualdades sociais e econômicas só podem existir se, de alguma forma, trouxerem vantagens para todos (princípio da igualdade).

Trata-se de um argumento liberal, que pressupõe a defesa do indivíduo frente à sempre possível tirania do coletivo. A sugestão de Rawls para justificá-lo remete ao que chamou de posição original, uma espécie de exercício imaginário que nos colocaria um “véu da ignorância”, tornando possível um pensamento equitativo. Com o véu instalado, ninguém seria capaz de saber como seria o seu futuro, a qual classe social pertenceria, a qual etnia, qual seria a sua orientação sexual e assim por diante. Desta forma, estaríamos em equidade. Nenhum indivíduo, mesmo os autointeressados, gostaria de passar fome, sofrer violências ou opressões. Caberia às instituições sociais organizar e evitar distorções na distribuição de bens e recursos escassos, garantindo o desfrute da liberdade para cada indivíduo.

A proposta de Rawls me agrada porque abre um canal para diálogo com a direita, à medida que fortalece a defesa da liberdade individual como premissa inconteste. Por certo, Rawls não me ilumina muito mais do que até a abertura dessa fenda comunicativa, mas a partir dela busco rejeitar politicamente a histórica única. Além disso, a teoria da justiça como equidade permite pensar as instituições sociais modernas sob o prisma de uma das suas atribuições centrais, que é a tarefa de regular a distribuição de direitos e deveres.

Depois de refletir sobre a liberdade individual, o ponto candente recai sobre a dimensão da vida em sociedade. Para falar sobre isso, dois autores me parecem especialmente relevantes, em função das suas pesquisas e argumentos. O economista francês Thomas Piketty, com uma incursão macroanalítica; e o sociólogo brasileiro, atual presidente do IPEA, Jessé Souza, com um desiderato apropriado para dissertar sobre a nossa realidade e uma reflexão interessante sobre a nossa estrutura de classes.

A leitura das recentes obras de Piketty não aconselha deixarmos de lado a magnitude da desigualdade econômica em escala mundial. Sem esgotar os debates, o fato é que Piketty aponta para o desenvolvimento de um capitalismo global cada vez mais patrimonial, isto é, no qual os principais postos da economia são preenchidos não por sujeitos merecedores e recheados de talentos (justificativa meritocrática eloquente entre liberais), mas por grupos familiares que reproduzem as suas riquezas a partir da herança e se concretizam nos lugares de poder e de propriedade da riqueza bruta. Se Piketty estiver certo, o seu projeto alternativo se faz muito relevante, visto que propõe um sistema mundial de tributação de acordo com renda e riqueza, uma espécie de mecanismo internacional de organização e distribuição justa de oportunidades de acesso aos bens e recursos escassos.

Com Jessé Souza, desmontamos a ideia de que os últimos governos brasileiros, que podem ser chamados de neodesenvolvimentistas, por atuarem desde uma grande frente interclassista com o objetivo do crescimento econômico dependente e alguma distribuição de renda, lograram o êxito de transformar o Brasil num país de classes médias, em que a desigualdade perdeu fôlego. Os trabalhos de Souza demonstram que essa é uma concepção irreal. Demonstram que o período de bonança da frente neodesenvolvimentista abriu algumas portas para o que Souza chamou de batalhadores e ralé estrutural, mas não reorganizou as instituições sociais de maneira a buscar a equidade ou a distribuição justa de oportunidades de acesso a bens e recursos escassos. Não modificou, sobretudo, as disposições que nós temos incorporadas e que nos fazem tratar determinados indivíduos como subcidadãos ou merecedores de menos direitos do que outros.

Há, ainda, a dimensão do planeta. Não tenho os atributos necessários para alongar a conversa por aqui. Mesmo assim, parece evidente que qualquer projeto político no século XXI demandará explicações detalhadas sobre como as sociedades humanas irão tratar a sua casa maior. Não podemos nos esquecer de que somos sociedade e somos indivíduos habitantes do plano terrestre. As maravilhas que o planeta oferece (mal definidas como recursos) não são infinitas. Penso que a cada dia que passa, qualquer projeto político que se preze precisará enfrentar o imperativo desafio de aproximar ecologia e desenvolvimento, numa procura sustentável, e que pode trazer das populações tradicionais experiências de integração com o planeta, muito mais profundas do que as nossas.

Em resumo, sinto uma grande lacuna que não consigo preencher, seja do ponto de vista teórico, seja do ponto de vista prático da política nacional. Considerando a correlação da estrutura de classes na atualidade, com monstruosas desigualdades, e considerando que poucas vezes na história privilégios foram abandonados por seus detentores, sem que houvesse pressões advindas dos desfavorecidos, como projetar uma sociedade com a presunção de defesa irrestrita das liberdades individuais e com equidade na distribuição dos bens e recursos escassos? Como projetar algo assim num modo de produção em que o conflito entre capital e trabalho é uma das suas matrizes? Como pressionar as classes privilegiadas sem aderir ao confronto violento revolucionário, confronto inevitável na visão dos grupos marxistas e/ou anarquistas? Como conciliar tudo isso com as questões do planeta e das populações tradicionais?

Sem respostas para tais indagações, resta falar sobre a relação entre o posicionamento político do professor/pesquisador e a sua atuação na pesquisa social e na sala de aula, enquanto docente. Pierre Bourdieu, sociólogo francês, para o ofício da investigação sociológica, e Max Weber, clássico da sociologia alemã, para a atuação pedagógica, ajudam a caminhar nesse terreno.

Eu confesso que não consigo crer na ideia de que é possível se afastar completamente dos seus valores e posicionamentos políticos na feitura do trabalho de pesquisa social. Acredito, contudo, que é possível uma objetividade metodológica, escorada no que Bourdieu chamou de vigilância epistemológica. Em outras palavras, mesmo que nossas escolhas se deem por meio daquilo que nós mais apreciamos, vigiar a construção do conhecimento e instrumentalizar essa construção através de métodos objetivos auxilia para que o resultado do conhecimento não seja aquilo que gostamos ou acreditamos, mas aquilo que mais se aproxima da realidade estudada.

Na sala de aula, bem como na escrita cotidiana, no fomento de narrativas mais “soltas”, menos científicas, bebo em Max Weber pela distinção da ética da responsabilidade e da ética da convicção. Traduzo essa distinção na tentativa cotidiana de cumprir com dedicação e simplicidade a tarefa docente, servindo à responsabilidade da tarefa de ensino e não às minhas convicções ou posicionamentos políticos. Isso não significa ignorar nos debates em aula ou nos textos cotidianos aquilo que acredito ou deixo de acreditar, minhas posições, mas fazer a diferenciação clara entre o que é uma constatação empírica e o que são julgamentos de valor. Sem ignorar que se trata de uma difícil empreitada.

Se utilizarmos os critérios do filósofo e jurista italiano Norberto Bobbio para conceituar esquerda e direita na arena política, sendo a primeira mais aderente ao ideário da igualdade e a segunda ao da liberdade, com todos os meandros entre um e outro polo, creio que o meu posicionamento se movimenta, com nenhuma dúvida, à esquerda. O contato com Rawls, disposto acima, é uma tentativa de contemplar a liberdade nesse escopo e fugir da história única. Tentativa em aberto e repleta de fragilidades. Tentativa que me coloca em reflexão sobre o último desafio que me propus nessa autoanálise de 2015: a problemática da teoria e da prática, do que proponho e exponho e suas relações com o que faço.
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domingo, 20 de dezembro de 2015

Autoanálise 2015: parte 1

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O meu ano letivo ainda não acabou, mas a essa altura do campeonato já sinto a necessidade de refletir sobre o que passou em 2015. Ao invés de propor uma reflexão sobre algo geral, algo relacionado ao coletivo, desta vez me cabe uma espécie de autoanálise. Penso em três pontos críticos do meu trabalho de escrita e de sala de aula, em especial: a questão da cientificidade; o viés político; e, não menos importante, a relação entre teoria e prática.

O papel da ciência na produção do trabalho sociológico é algo que, ainda que pareça um papel óbvio, está sempre posto em discussão. Seja de modo particular, quando pesquisadores e estudantes de outras áreas não nos conferem qualquer grau de rigor. Seja com um descrédito relativo à própria ideia de que é possível a existência de um conhecimento que seja mais próximo daquilo que se costuma chamar de verdade. Dessa segunda conclusão um horizonte enorme se abre. Enorme e com consequências delicadas.

No embate entre saber que o uso de métodos associados ao rigor teórico é, na investigação empírica das relações sociais, um caminho de produção de conhecimento aprofundado, e a percepção de que outras leituras de mundo constroem narrativas ricas que, vira e mexe, são fidedignas ao contexto em que se desenvolvem, eu procuro fugir da história única. Encontro-me com a escritora nigeriana Chimamanda N'Gozi Adichie, na medida em que identifico a história única sobre um povo, ou mesmo, adiciono à fala da autora, um grupo social qualquer, como formadora de estereótipos.

O problema dos estereótipos não é o problema de que eles sejam mentirosos, mas é o grave problema de que eles se mostram incompletos. Sem dúvidas, vejo no método científico o conjunto de procedimentos mais primoroso para a investigação do mundo natural e social. Mas vejo que essa narrativa, tornada hegemônica e hegemonizante, é também incompleta. Acaba por fechar janelas de produções de conhecimentos mais "soltos" que podem, em determinadas circunstâncias, expressar o que se passa na vida social com correspondência ao que realmente se passa na vida social. Janelas que podem ser abertas pela literatura e por certas tradições orais.

Só que tem um detalhe delicado e perigoso nisso tudo. Frente ao cotidiano real das sociedades modernas, centrais ou periféricas, marcado por violências, desigualdades de oportunidades, opressões, enfim, tristezas individuais e coletivas, frustrações de todas as estirpes, o poder se manifesta também na produção e na circulação de histórias sobre si e sobre os demais. Adichie aponta, nesse sentido, para um caminho que eu completaria com o acréscimo daquilo que o sociólogo Pierre Bourdieu chamou de habitus. A noção precisa de que temos sistemas de disposições adquiridas, duráveis, incorporadas e que se forjam sob dois tipos de capitais, o econômico e o cultural.

Ora, num país como o Brasil, num ano como o de 2015, vimos que a arena pública se configurou num vale-tudo de histórias únicas incorporadas, cujos habitus de classe dos seus protagonistas demonstram disposições para um enfrentamento bestial. Nessas histórias únicas há fileiras de estereótipos, que trazem suas correspondências com a realidade, mas que inundam a vida coletiva com as piores consequências da sua incompletude: a polarização extremista e a continuidade cada vez mais fanática das histórias únicas. Por outro lado, espalham-se histórias únicas que não correspondem nem de longe com o real, somente no intuito da difamação, do ataque ao inimigo discursivo.

Podemos ver isso na briga descontrolada entre coxinhas e petralhas. Se não deixa de ser verdade que os liberais ou neoliberais pelo mundo muitas vezes estão de braços bem dados com regimes autoritários e repressores, além de se mostrarem pouco preocupados com a exploração do trabalho pelo capital, não obstante é verdade que a defesa das liberdades individuais e dos direitos humanos compete, ao menos em tese, ao ideário de uma sociedade justa, cuja garantia da dignidade não ficará apenas no papel.

Se não deixa de ser verdade que marxistas e/ou anarquistas pelo mundo muitas vezes estão de braços bem dados com regimes autoritários e repressivos, ainda que por premissa se mostrem preocupados com a exploração do trabalho pelo capital, também é real que a pauta dos direitos e das garantias constitucionais do indivíduo compete, ao menos em tese, a uma sociedade na qual os bens e recursos escassos estarão justamente distribuídos.

Salta aos olhos a infertilidade da reprodução polarizada de histórias únicas incorporadas através de um ódio de classe, além de racial, misógino e homofóbico, o que remete, por sua vez, a uma resposta igualmente permeada de incompletudes para com os outros, que distancia o entendimento claro das coisas e torna tudo ainda mais nebuloso e violento. Há muito absurdo ganhando força e embasando justificativas injustificáveis. Aí o papel da ciência, não castradora de diferentes linguagens capazes de iluminar nossos caminhos, ciência cercada por um rigoroso tratamento teórico-metodológico das evidências, se fortalece e ganha uma relevância ímpar.

Tenho consciência de que o método científico, o estudo sistemático e minucioso, nada menos do que metódico, no que tange às relações sociais, é uma estrada sem volta e fundamental para conseguirmos erguer e sustentar o edifício de uma sociedade movida pela liberdade, igualdade e fraternidade. Contudo, fazer ciência social, para mim, é uma tarefa pesada, demorada, exaustiva e muito complexa. É um desafio constante que tenho tentado enfrentar no âmbito acadêmico. Desafio teórico e metodológico.

No cotidiano, porém, eu me sinto incompleto se me mantenho tentando encontrar na segurança do trabalho investigativo sistemático e de longo prazo as únicas narrativas para comunicar e dialogar sobre o que estamos vivendo. Sinto que a todo instante sou impelido a fugir da história única, a fomentar algo mais do que a procura metódica da correspondência com o real detalhado, classificado e organizado nos seus pormenores.

Tento narrar histórias múltiplas, tanto no formato, quanto no conteúdo. Assim, jogo cartas perigosas, arriscando a cientificidade global do conjunto do meu fazer sociológico. E me vejo precisando encarar o segundo ponto desta autorreflexão, o viés político. Eis o tema para um próximo texto.

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Sorriso amarelo

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Depois de um dia intenso de trabalho, entre correções de provas, leituras e umas olhadelas ao julgamento do rito do impeachment no Supremo, parti para a sala de aula. Previa uma aula massa, com debates importantes.

O que eu não sabia é que seria um encontro tão foda quanto foi. Pelo menos pra mim, obviamente. Difícil falar pelos estudantes. Nem quero. O fato é que, à medida que os textos eram apresentados, todos textos de uma Sociologia pesada (teórica e empírica), eu ia me sentindo mais feliz. Preconceitos, opressões e desigualdades viravam pauta séria, com base em pesquisas sérias e comentários reflexivos.

Saí do encontro, caminhei uns metros e fui jantar. Sozinho, mas feliz. Pedi um xis e peguei uma ceva, daquelas delícias Pale Ale. Enquanto lia os detalhes da fermentação, da levedura e o escambau, sem poder evitar escutava comentários alheios. À esquerda, o paraíba veado era achincalhado; à direita, a mina piranha entrava na roda.

Que dureza. Todos riam. Os senhores da perfeição desfrutavam da sua estupidez travestida de comédia. Murchei. Como em muitas outras vezes na vida. Agora sinto vergonha, porque já fiz igual. Vergonha que me faz escrever.

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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Todo apoio aos estudantes de São Paulo


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

É difícil não se emocionar com os secundaristas de São Paulo. Na real, por que não se emocionar? Pois os adultos são sábios, racionais e centrados? Balela. A cada vídeo, declaração, imagem ou acontecimento protagonizado por essa gurizada, que não aceita quieta o fechamento das suas escolas, a emoção toma conta. Ganha a cidadania, a democracia e a esperança.

Nesse semestre, caiu no meu colo o desafio de ministrar uma cadeira de “Direitos e cidadania”, com uma ementa bastante teórica, racionalista e legalista. Um desafio e tanto para um aventureiro como eu. Sinto que há uma cobrança geral para que o professor universitário enverede com rigor nos labirintos teóricos, fomentando o exercício constante da razão. Esse é, de fato, um caminho fundamental para o ensino superior.

Contudo, acho pouco. Acredito que analisar a realidade racionalmente, aprofundando o conhecimento sobre ela, configura um pressuposto, uma premissa. Ainda mais em tempos de ódio, opressão e apologia ao irracionalismo. Só que a razão não é o único elemento que movimenta nossas mentes e corpos. A gente vibra e pulsa. A gente sente.

Quando o governo quer nos tirar aquilo que nos constitui, como as sucateadas e problemáticas escolas paulistas, por mais que se tenha uma relação de amor e ódio com elas, razão e emoção podem se juntar. Fechar escolas exige estudos profundos e diálogos exaustivos, não apenas um canetaço.

Os secundaristas de São Paulo estão provando que o futuro está por fazer. Que democracia e cidadania podem sair da letra teórica e ganhar vida. E que eles não vão arregar para o despotismo e a repressão. Isso é emocionante.

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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A crise da frente neodesenvolvimentista


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Na mesma semana em que fui convidado para fazer uma fala sobre a tão falada crise brasileira em um evento, o processo de impeachment da presidente da República ganhou força. A minha intenção era tentar explicar possíveis razões e dimensões da crise, além de possibilidades futuras. Vou fazer um resumo por aqui.

Este texto é uma síntese, clique aqui para acessar o texto completo

Em geral, tem sido dito que há duas dimensões que se retroalimentam na crise atual: uma econômica e outra política. Sigo esse caminho. Acho que há, ainda, um terceiro elemento, uma espécie de bônus (ou seria ônus?) histórico, representado pela instabilidade da democracia liberal no Brasil.

A crise econômica tem um fundo internacional. Mas também se relaciona com as escolhas dos governos petistas. A construção de uma grande frente política liderada por Lula, frente neodesenvolvimentista, marcada pela ideia de crescimento econômico com alguma redistribuição de renda, não mexeu, a meu ver, com as estruturas do Estado neoliberal. A lógica de diminuição do Estado, de relação direta com o capital financeiro, de supressão de direitos trabalhistas e sociais, de concessões e privatizações dos serviços públicos permaneceu de modo atenuado.

A frente neodesenvolvimentista reuniu diferentes frações do grande capital, do agronegócio aos bancos, passando pela indústria de base financiada a juros baixos pelo BNDES. Com o foco no consumo do mercado interno e na exportação de commodities, rendeu bons frutos até a quebra do sistema financeiro, em 2008, dividindo alguns pedaços desse sucesso com os trabalhadores e as classes populares. A estagnação da economia chinesa (que nos vendia produtos industrializados a preços baixos) e a queda no valor das commodities complicou o cenário. A “marolinha” chegou ao Brasil. A resposta do governo foi aumentar os gastos públicos e incentivar ainda mais a inclusão pelo consumo, na tentativa, também, de manter o pacto neodesenvolvimentista.

A segunda dimensão é a dimensão política da crise. Dois aspectos são importantes: a desestabilização da frente neodesenvolvimentista e a perda crescente de legitimidade das instituições políticas perante a população. A crise do pacto neodesenvolvimentista começou a ganhar maior corpo em 2014, quando a economia se deteriorou, mas também quando a polarização ideológica aumentou. Muito em função das eleições e do próprio PT, diga-se de passagem. Aí enquadro uma mea culpa, visto que, no afã de garantir as parcas – mas importantes – conquistas do petismo, entrei com robustez numa polarização cega e desmedida.

A polarização ideológica associada à deterioração econômica impulsionou um recuo das classes dominantes, no que tange ao projeto neodesenvolvimentista, fato acompanhado, como lembra o professor Armando Boito Júnior, da Ciência Política da Unicamp, de uma ofensiva restauradora do capital internacional e das altas classes médias. Essa ofensiva, me parece, segue em curso e pretende recolocar o Brasil nos rumos de um projeto neoliberal genuíno e que se quer ortodoxo.

Em 2015, após vencer um pleito difícil e tumultuado, o governo recuou novamente e tentou atenuar a ofensiva cedendo espaço aos seus algozes. Vem protagonizando um ajuste fiscal recessivo que joga o país ainda mais na lama, cortando mais e mais direitos conquistados, acenando com medidas privatizantes e aumentando, mais ainda, a sanha daqueles que sempre detestaram o PT pelo que acreditam ser o seu verniz esquerdista.

Não só as escolhas atuais do governo, como a própria frente neodesenvolvimentista, hoje em frangalhos, carregam problemas muito graves, exponencialmente demonstrados pelas violências contra os povos indígenas, a ideia de um desenvolvimento explorador e predatório, além da adesão a interesses espúrios eivados de uma corrupção endêmica. Portanto, o PT e o governo tem muita responsabilidade na atual crise e na possibilidade de perda do mandato presidencial.

Ainda na dimensão política, a desmoralização das instituições políticas, fruto das suas mazelas internas, do desinteresse generalizado entre a população e de uma mídia sensacionalista ao extremo, fragiliza a legitimidade dos nossos representantes e incentiva que o imaginário popular associe imediatamente política com corrupção, desmandos e enriquecimentos ilícitos.

O bônus (ou ônus) histórico, por último, remete a instabilidade da democracia liberal brasileira. Se nós realmente temos todos os procedimentos de uma democracia liberal, e me parece que sim, isso não significa que a tentação autoritária não esteja presente no cotidiano. Muitos grupos ideologicamente incomodados com as políticas sociais do petismo, como a massiva entrada de negros e pobres nas Universidades Públicas, a regulamentação das empregadas domésticas, a disseminação de médicos estrangeiros pelo interior do país e etc., têm muitas dificuldades em aceitar a regra da maioria eleitoral e flertam, sem dúvidas, com qualquer possibilidade de retomar o poder pela força ou por manobras, no mínimo, duvidosas.

Por fim, acho que há três posições possíveis para quem defende os interesses dos trabalhadores e das classes populares. A primeira é a defesa incondicional do governo frente à conturbação atual. Considero um enorme equívoco essa postura. O governo é responsável direto pelo que está aí, seja pelas barganhas imorais que vem fazendo desde sempre, seja por suas opções ressaltadas acima. A segunda é o criticismo autoproclamado neutro, que critica por criticar e manda tudo para os ares. Outro grande equívoco.

A última posição rejeita fortemente os rumos da política recessiva do ajuste fiscal governista. Rejeita as barganhas imorais, o desenvolvimento predatório e todas as suas consequências. Defende o fortalecimento da democracia e fomenta uma nova agenda pautada na justiça social. Para isso, é indispensável a mudança nas polícias militares, por exemplo, que precisam parar agora o genocídio dos pobres e negros. Contudo, ainda que considere essa uma posição interessante, eu tenho poucas esperanças que ela se torne uma realidade expressiva.

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