ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Desenvolvimento e subdesenvolvimento no mundo pós-neoliberal

Presidente do IPEA

ECONOMIA - Na segunda metade do século XVIII, o aparecimento da primeira Revolução Industrial deu início à transição da sociedade agrária. As bases da nova sociedade urbano-industrial impuseram significativos ganhos de produtividade no trabalho, decorrentes da emergência do novo padrão de produção e do consumo associado ao uso intensivo de carbono. Com isso, a expansão da base material da economia foi tornando possível elevar o padrão de bem-estar social por meio de grandes lutas sociais e políticas, como no caso de modalidades emancipatórias na condição de trabalho pela sobrevivência. Diante da elevação da expectativa média de vida para mais de 50 anos de idade, houve importante redução da carga horária de trabalho dos segmentos sociais ativos e proteção aos riscos do trabalho penoso.

Por meio da captura de parte do excedente econômico gerado pela sociedade urbano-industrial, responsável pela expansão do fundo público, tornou-se possível viabilizar o financiamento da inatividade de crianças, adolescentes e idosos por meio de uma garantia generalizada de serviços (saúde, transporte e educação públicos), bens (alimentação, saneamento e moradia) e rendas (bolsas e subsídios). Uma vez concluída a formação para o trabalho (até os 15 anos de idade), tinha início o exercício do trabalho durante 30 a 35 anos, com contribuição ao fundo público capaz de permitir a imediata passagem para a inatividade (sistema de aposentadoria e pensão que legava viver sem mais depender do mercado de trabalho). Isso se tornou mais evidente desde o final do século XIX, com o avanço da Segunda Revolução Tecnológica, que, simultaneamente à ocorrência da Depressão entre 1873 e 1896, abriu lugar à nova disputa entre nações emergentes pela sucessão da liderança inglesa. Alemanha e Estados Unidos despontaram com o protagonismo da industrialização retardatária, com ganhos de produtividade superiores a todos os demais países. A solução final, todavia, ocorreu mais tarde, após a realização de duas grandes guerras mundiais, em que a Alemanha foi derrotada sucessivamente.

Lester Salamon e o Terceiro Setor


O professor Lester Salamon (saiba mais), da John Hopkins University, proferiu palestra, nesta terça (22/05), na Universidade Federal do Rio GrImagem retirada do sítio http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/ed/Lester_M._Salamon.jpg/220px-Lester_M._Salamon.jpgande do Sul (UFRGS). Atendendo ao convite do Programa de Pós Graduação em Sociologia (PPGS/UFRGS), o pesquisador supracitado detalhou os resultados dos seus estudos sobre a sociedade civil sem fins lucrativos ao redor do planeta.

O estadunidense ressaltou que, no início, a dificuldade de trabalhar com dados fieis sobre o terceiro setor era muito latente. Os organismos de grande porte responsáveis por organizar as estatísticas não conseguiam contemplar a complexidade da temática. Teimoso, como o próprio Salamon se definiu, depois de muita estrada foi convencendo, com suas pesquisas, os referidos organismos, e eles passaram a prestar mais atenção ao assunto.

sábado, 19 de maio de 2012

Economista Maria da Conceição Tavares recebe prêmio de mérito científico


A economista Maria da Conceição Tavares (saiba mais), reconhecida por suas posições fortes, contrárias ao fatalismo da regulação "natural" (?!) do mercado na economia, recebeu no dia 17 de maio de 2012 o maior prêmio científico existente no Brasil. O "Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia" foi entregue pelas mãos da Presidente da República, Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto.

---- Segue o discurso proferido pela presidente no momento da premiação ----

Este é um discurso de uma discípula para uma mestra, com muito orgulho e muito carinho. Orgulho por presidir esta cerimônia, que concede o maior e mais importante prêmio científico do Brasil – o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia – à professora Maria da Conceição Tavares, por sua imensa generosidade, por sua grande inteligência, seus méritos intelectuais, sua extraordinária dedicação à formação de várias gerações de brasileiros e brasileiras – de economistas, sim, mas de pessoas comprometidas com o país.

Carinho por homenagear minha mestra, que eu sou testemunha de seu compromisso com o Brasil, com o desenvolvimento do nosso país, com o desenvolvimento da América Latina. Compromisso que sempre cumpriu, tratando economia como ela deve ser tratada, como economia política.

Falo como aluna que fui da professora Maria da Conceição Tavares, com quem aprendi muito e continuo aprendendo com sua integridade, sua competência, sua firmeza de princípios. Aluna que a teve e tem como referência em todos estes anos, inclusive, hoje, em minhas tarefas como a primeira mulher a exercer a Presidência da República no Brasil.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Uma hora sobre Pierre Bourdieu


Aproveitando a sequência de reflexões sobre a eleição na França e o contexto europeu, esse vídeo de uma hora de duração traz muitas informações sobre um dos sociólogos mais importantes do século 20, o francês Pierre Bourdieu. Ele coloca com suas próprias palavras muitas das suas concepções sobre a realidade social contemporânea. As falas estão traduzidas em espanhol, o que tende a diminuir a compreensão, embora seja possível entender os seus fundamentos argumentativos.

Saiba mais

- A escola e o capital cultural dos alunos.

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A possível rebelião francesa


Ignacio Ramonet
Sociólogo e Jornalista

Algo como a sensação de asfixia. É o que vivem, em diversos países da União Europeia (UE), inúmeros cidadãos, estrangulados por tantas restrições, reduções e golpes claros. Um sentimento acentuado pela constatação de que a alternância política não modifica o “furor de austeridade [1]” dos governantes.

Na Espanha, por exemplo, a sociedade havia sido duramente penalizada pelas doses cavalares dos “remédios” ministrados, a partir de maio de 2010, pelo primeiro-ministro (socialista) José Luis Rodriguez Zapatero. Nas eleições legislativas de 20 de novembro último, Mariano Rajoy, candidato do Partido Popular (PP, conservador) prometeu nada menos que a “mudança” e o “restabelecimento da felicidade”. Mas um dia depois de eleito, machado à mão, lançou-se à mais devastadora destruição de conquistas sociais da história da Espanha.

Pode-se citar outros exemplos, notadamente Portugal. Neste país, em junho de 2011, depois de ter imposto quatro programas muito impopulares de “disciplina fiscal” e de submeter-se a um “plano de salvamento” da troika [2], o premiê socialista José Socrates perdeu, obviamente, as eleições. Embora criticasse com virulência as medidas de “ajuste” dos socialistas, um novo chefe do governo, o conservador Pedro Passos Coelho, afirmou já em sua eleição que cumpriria as exigências da União Europeia (UE), aplicando “uma dose ainda mais forte de austeridade [3]”…

De que servem, então, as eleições se, nos temas essenciais – questões econômicas, financeiras e sociais – os novos governantes adotam a mesma política de seus antecessores? Como não duvidar do próprio sistema democrático? Porque todos constatam que, nos marcos da União Europeia, não há controle cidadão sobre um enorme elenco de decisões cruciais para a vida das pessoas. E que as exigências – consideradas prioritárias – dos mercados, das agências de avaliação de risco e dos especuladores limitam severamente os princípios essenciais da República [4]. Muitos governos (de direita e de esquerda) estão agora convencidos que os mercados têm sempre razão, sejam quais forem as consequências para os cidadãos. Aos seus olhos, os mercados são a solução; e a democracia, o problema.