ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Agradecer

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Em casa, agradecer tem sido a minha pauta diária. Amanheço agradecendo ao amor da Kambili, essa peluda sempre tão presente e carinhosa.

No café da manhã, agradeço aos meus familiares mais próximos, por todo o amor e cuidado que me dedicam.

Enquanto me preparo para leituras e afazeres, sou grato pela educação que tive, da escola ao doutorado, e por nunca ter me faltado um lar, comida e algum lazer.

Quando a atenção dispersa, penso no carinho das pessoas. Bate uma gratidão enorme pelo amor que vivi durante 13 anos, e por todos os amigos/amores que a vida me deu há muito ou pouco tempo.

Chego ao fim do dia grato demais pelo Sol, pela praia e pelo mar, a bola pro alto, os lugares que conheci, os livros que ouvi, os discos que li, os alunos com os quais tanto aprendi.

Se o país em que vivo tá cheio de gente defendendo o lucro acima da vida, sem sequer cogitar que a sociedade (via Estado) deve amparar quem precisa, eu sou grato por não estar entre essa galera.

E aí, quando vejo a lua e as estrelas, só consigo sorrir. Até aqui, sou um privilegiado. Sorrindo, posso agradecer amanhã quando acordar outra vez.
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quinta-feira, 23 de abril de 2020

A metáfora (macabra) da modernidade


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

As pessoas estão morrendo isoladas, para não contagiar seus entes queridos. Será a metáfora (macabra) perfeita do individualismo ocidental moderno?

O arranjo que mistura liberalismo econômico dogmático com conservadorismo moral vai se sustentar?

Vamos entender de vez que muitas coisas simplesmente não são mercadorias, pois a nossa vida e bem-estar geral dependem delas?

O aprofundamento das desigualdades e do caos social vai nos fazer buscar mais democracia, não só votar, ou baixaremos a cabeça aos autoritarismos de ocasião?

Vamos conseguir superar o egoísmo narcisista, no caminho da cooperação e da solidariedade entre os diferentes, ou essa crise resultará em mais nacionalismos e xenofobia?
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segunda-feira, 6 de abril de 2020

É para isso que serve a Sociologia?


Por Karen Kendrick*
Albertus Magnus College

Nesse momento, planejo uma aula para meus estudantes sobre como o capitalismo e a globalização criaram as condições para a pandemia do COVID-19. Estou fazendo isso porque a universidade em que trabalho me pediu para migrar minhas aulas para plataformas online pelo resto do semestre. Tendo em vista quem eu sou e o que ensino, decidi que vou pedir para os alunos estudarem sociologia durante a pandemia, só tenho uma escolha. Tenho que ensiná-los sobre como sociólogos pensam a respeito de pandemias.

Então pensei em começar da mesma forma que inicio meu curso de Sociologia da Saúde e da Doença. Na primeira aula introduzo o estudo da epidemiologia - uma palavra bonita que significa os padrões de saúde e doença entre populações humanas [1]. Direi algumas coisas sobre como os seres humanos tinham uma expectativa de vida muito mais curta que atualmente e como vimos alguns períodos de aumento dessas taxas, mas a grande mudança na expectativa de vida dos humanos veio entre 1900–1930 durante a transição epidemiológica. A expectativa de vida para homens brancos nos EUA passou de 47 para 60 anos e para homens negros de 33–48. Por um longo tempo nos parabenizamos por esse aumento, devido à melhoria dos sistemas sanitários e de esgoto, e estes foram muito importantes. Mas os fatores mais importantes na transição epidemiológica foram uma melhoria generalizada nas condições nutricionais e de vida - ar limpo e abrigo. Comer bem e não viver amontoado em moradias precárias nas cidades industrializadas ou vilas de camponeses melhorou nossos sistemas imunológicos e reduziu a quantidade de pragas e influenza que espalhamos entre nós.