Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
No Brasil continental, cheio de águas e perfeito para ferrovias, mas refém das estradas e do petróleo, durante o caos alguém viraliza nas redes sociais: “Abriram a Caixa de Pandora!”.
Do lado direito, bem na ponta, dedos nervosos distribuem suas verdades
incontestáveis, recebidas no grupo da família, em perfeito português:
“Tanbén, Pandora é uma puta comunista, tem mais é que arregassar a Caixa
dela e cagar ela à pal!”.
Ainda à direita, menos na ponta, o tom
é acadêmico: “Pandora interveio demais na Caixa, tem que deixar a Caixa
se autorregular que tudo acaba livre e justo”.
Há também os dedos ativos à esquerda. Bem na ponta (a ponta que não é
ponta, porque ponta é uma construção social e, assim, deve-se
desconstruir a ponta), a avaliação é lacradora: “Pandora, no fundo,
adora passar pano pra essa cambada toda, ela não joga no nosso time. Eu
avisei”.
Como tendo ao canhotismo, sigo atento, agora à ponta esquerda tradicional: “Pandora precisa organizar a Caixa, falta a ela uma vanguarda esclarecida, capaz de conscientizá-la para a Revolução”.
Tem a turma do deixa-disso, os legalistas da época em que uma gambiarra mantinha a Caixa fechada, ou quem se atira no raso e aplaude o circo pegar fogo – a Caixa, no caso.
Nessa confusão toda, só não podem faltar os dedos ativos e os corpos curvados, focados no espelho preto dos dispositivos, reservatório das nossas próprias mazelas.
Pandora, por si só, não deixa por menos: abre mesmo a Caixa, fiel a sua curiosidade. Os males do mundo se debatem. Só a esperança permanece presa. O fogo consome a civilização. Segue o baile. Os de cima, sobem. Já os de baixo, se deixar, vão descer mais e mais.
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Como tendo ao canhotismo, sigo atento, agora à ponta esquerda tradicional: “Pandora precisa organizar a Caixa, falta a ela uma vanguarda esclarecida, capaz de conscientizá-la para a Revolução”.
Tem a turma do deixa-disso, os legalistas da época em que uma gambiarra mantinha a Caixa fechada, ou quem se atira no raso e aplaude o circo pegar fogo – a Caixa, no caso.
Nessa confusão toda, só não podem faltar os dedos ativos e os corpos curvados, focados no espelho preto dos dispositivos, reservatório das nossas próprias mazelas.
Pandora, por si só, não deixa por menos: abre mesmo a Caixa, fiel a sua curiosidade. Os males do mundo se debatem. Só a esperança permanece presa. O fogo consome a civilização. Segue o baile. Os de cima, sobem. Já os de baixo, se deixar, vão descer mais e mais.
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