Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
O tempo é um troço muito louco. Há poucos meses as árvores do quintal estavam secas, sequinhas. Com as novas condições, as flores foram surgindo. Agora, elas são pura exuberância, mesmo quando as flores caem já sem vida.
O Brasil vem secando o que tem de mais exuberante há um bom tempo. Os donos do poder e suas linhagens de agrofamilies, farialimers e bajuladores não se contentam em fazer desabar as florestas e a economia. Desejam sugar o nosso futuro.
Em parte, os bichos humanos somos como as árvores. Precisamos de condições adequadas para florescer ou dar frutos. Pode ser que, mesmo com boas condições, as gentes padeçam, briguem e sofram. E é verdade que temos as ferramentas para reduzir nossos desencantos coletivos. Tudo junto e misturado.
Calhou que os fanáticos por armas, morte e destruição assumissem o governo em tempos de peste. Não foram os 30 mil anunciados há décadas; se foram mais de 600 mil brasileiros. Honrar os nossos mortos e quem batalha no perrengue diário é também correr e responsabilizar os genocidas e suas milícias fascistas.
O ano que se avizinha deve ser de muita treta. Nas frestas e fendas do poder, uma jogada é encantar a vida. Vibrar com a conquista das pequenas alegrias possíveis, enquanto uma política de existir. Isso não vai zerar o nosso passado e nem remediar todos os males. Pode, isso sim, fazer girar o presente sem que o futuro siga raptado.