Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Analisando documentos oficiais franceses e de organismos mundiais sobre a educação, Christian Laval argumenta que a escola se transformou numa instituição à serviço do modelo neoliberal de sociedade. Pelo menos desde a década de 1980, o sistema de ensino francês teria sido dominado por uma visão empresarial e de mercado, com uma reconfiguração completa dos seus objetivos.
A ideologia republicana que orientava os objetivos da escola francesa teria dado lugar às perspectivas do capital humano. Isso pode ser notado através da presença constante da propaganda de empresas privadas no interior das escolas, por uma neotaylorização do regime de trabalho docente, pela descentralização do poder do setor público e pela mutação da direção escolarem gestão educacional.
Nessa linha, o conhecimento passou a ser associado a uma espécie de acúmulo de capital humano, sendo os estudos um investimento mais ou menos rentável. O ideal humanista de uma escola emancipadora perdeu lugar para o culto da eficiência, da adaptação ao mercado e da procura pelo sucesso econômico, associado ao sucesso na vida.
Nessa escola submetida à lógica empresarial, a direção se tornou gestão, tratando as atividades educacionais pela ótica administrativa. As escolas são classificadas por rankings e a atuação docente se volta para bases curriculares direcionadas para atender as métricas das avaliações de larga escala. A autonomia docente é reduzida e a aprendizagem engessada.