Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sonhei que me olhava no espelho por alguns minutos perguntando: como vai? Sem resposta, meu corpo entrava numa espiral do tempo desse ano que chega ao fim. Nessa roda viva, giravam as ausências de quem partiu e os vazios que ficaram.
Um mês, 12 deles, alguns instantes, toda uma jornada. O que importa a conta? Como lidar com esse caminho só de ida? A gente vai contra a corrente, resiste até não poder resistir; cultiva a mais linda roseira que deseja cultivar; e aí vem a roda viva, sacode geral e carrega o destino e a roseira pra lá.
Que balanço... Mas o giro vai ser de permanecer vivo e prosseguir a mística, com quase 38 voltas na Terra, sem ligar para a estatística. Vai ser de sorrir com essas quase quatro décadas de sonho e de sangue, e de América do Sul. De seguir cultivando a roseira. De peitar a bola pro alto e se fazer presente no que importa, nesse presente que é viver.
Como vai? Andando com gente (humana e mais que humana) firmeza e afetuosa, porque dei sorte na vida. No miudinho, passo a passo, à contrapelo da existência enlatada. Oscilando. Agradecido. Com as veias abertas, sem deixar de caminhar. E sorrir. Aceitando o giro que ensina - com a roda viva, que a tudo leva, ficando pra lá de 2022.