Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
Dia desses, eu encontrei um grande amigo. Era um cara muito íntimo,
mas que fazia mais de dez anos eu não encontrava. A intimidade era tanta
que ele foi logo falando de si. Desatou a falar sobre como estava se
sentindo nos últimos tempos.
Percebi rápido que se tratava de um
desabafo. Meu amigo relatou que na última década havia focado boa parte
da sua vida para resolver questões “externas e objetivas”. Como tivera
dificuldades financeiras na infância e na adolescência, disse que botara na cabeça com todas as forças a necessidade de terminar a sua formação acadêmica e conseguir um bom emprego.
Ele seguiu contando. Falou dos primeiros trabalhos na sua área, das
inseguranças, dos desafios e dos afetos e alegrias que cultivou. Falou
de quando passou no primeiro concurso público, que embora não pagasse
muito bem, simbolizara uma vitória importante. Contou de quando passou
no segundo concurso, e como, aí sim, sua vida material melhorara.
Tudo parecia bem, mas eu sentia que a coisa não terminava naquele ponto da história. Meu amigo seguiu a narrativa relatando os dois maiores sucessos da sua vida “exterior e objetiva”: o concurso que o levara ao ofício de agora, o auge da sua carreira, ainda que numa cidade distante; e o término da sua formação intelectual, a conquista do mais alto grau acadêmico.
De repente, ele me olhou febril e os seus olhos lhe revelaram por inteiro. Ele estava “nu”. Depois de um abraço espontâneo, tentei mudar o rumo da conversa, falar sobre o mundo e o ódio que se espalha por todos os cantos. Sei lá, foi o que me surgiu naquele instante, uma espécie de “papo de elevador” com tintas críticas.
Obstinado, ele me disse: “É, irmão... nesse furacão todo, quando o desespero geral me pegou, quando tudo balançou e o colapso se aproximou, eu sobrei sozinho, precisando me descobrir”. E, então, veio o arremate: “Se eu quiser ajudar as pessoas, eu preciso me encontrar".
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Tudo parecia bem, mas eu sentia que a coisa não terminava naquele ponto da história. Meu amigo seguiu a narrativa relatando os dois maiores sucessos da sua vida “exterior e objetiva”: o concurso que o levara ao ofício de agora, o auge da sua carreira, ainda que numa cidade distante; e o término da sua formação intelectual, a conquista do mais alto grau acadêmico.
De repente, ele me olhou febril e os seus olhos lhe revelaram por inteiro. Ele estava “nu”. Depois de um abraço espontâneo, tentei mudar o rumo da conversa, falar sobre o mundo e o ódio que se espalha por todos os cantos. Sei lá, foi o que me surgiu naquele instante, uma espécie de “papo de elevador” com tintas críticas.
Obstinado, ele me disse: “É, irmão... nesse furacão todo, quando o desespero geral me pegou, quando tudo balançou e o colapso se aproximou, eu sobrei sozinho, precisando me descobrir”. E, então, veio o arremate: “Se eu quiser ajudar as pessoas, eu preciso me encontrar".
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