……………………………………………………………………………….Bernardo Caprara
………………………………………………………………………………………………..Sociólogo e Professor
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Karl Marx e Friedrich Engels foram responsáveis por uma extensa obra que se relaciona com os mais diversos campos do saber. Não obstante, foi nas análises sobre o capitalismo que ambos se tornaram reconhecidamente importantes, na medida em que seus nomes persistem até hoje em correntes teóricas vinculadas à classe trabalhadora ao redor do planeta.
A Ideologia Alemã pode ser considerado um dos principais textos da dupla. Nestes escritos estão contidas críticas aos pensadores alemães vinculados ao chamado hegelianismo de esquerda, ao qual Marx utiliza a obra para romper de uma vez por todas. Ao criticar Bruno Bauer e Max Stirner, ele identifica nas suas teorias a primazia do pensamento sobre a atividade humana, isto é, o idealismo presente nos autores inspirados em Hegel. Através do amadurecimento intelectual, Marx também ataca o materialismo mecânico de Ludwig Feuerbach, que não incorpora a dialética ao seu escopo, mesmo que rejeite o idealismo. No livro estão contidas as Teses sobre Feuerbach, que sintetizam as considerações sobre o autor. Marx esboça, ainda, uma perspectiva da sociedade comunista, na qual o trabalho estaria desprovido do caráter de exploração de classe, e os indivíduos poderiam satisfazer suas necessidades materiais em harmonia.
Retirando de Hegel a dialética – o devir, o vir a ser, a dinâmica de transformação inevitável da vida, o choque permanente entre os opostos, a negação da negação – e associando-a a visão de que é a atividade humana real que precede a sua consciência, Marx fundamentou o materialismo histórico e dialético. Tratava-se de colocar a dialética de Hegel de ponta a cabeça, invertendo a lógica de que o pensamento antecede as ações reais, e para transformar a sociedade seria preciso substituir as ideias predominantes por novas. Desta forma, as ações de homens reais na vida real, sob o ponto de vista material, originam a consciência que eles terão delas e deles mesmos.
Este entendimento está alicerçado numa profunda análise das transformações ocorridas na história, em que Marx observa que as modificações nas estruturas econômicas iam alterando o caminho das ideias. No prefácio de Para a Crítica da Econômica Política, ele declara que sob a estrutura econômica das sociedades se ergueriam grandes superestruturas. Na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem à etapa determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e a qual correspondem formas determinadas de consciência.
O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas o seu ser social que determina sua consciência. Esse argumento é muito criticado por diversos pensadores, visto que para os críticos empreende uma sentença por demais economicista. Na introdução dos mesmos escritos, Marx trabalha a questão do método da economia política. Deve-se pensar o concreto como unidade do diverso, ponto de partida efetivo, mas resultado do processo de síntese, abstraído. A ilusão de Hegel, elevar-se do abstrato ao concreto, significa a maneira do pensamento de se apropriar do concreto, para reproduzi-lo como concreto pensado.
Marx prossegue seus estudos e lança, em 1848, um documento que mudaria o rumo dos trabalhadores assalariados, classe oriunda das necessidades de produção da indústria capitalista. O Manifesto do Partido Comunista, material de divulgação política, convocava os trabalhadores do mundo a se unir, em busca do fim da exploração do trabalho humano. A obra sugere o trilho para o proletariado retirar o poder político das mãos da burguesia, centralizando nas mãos do Estado controlado pelos trabalhadores, numa ditadura do proletariado, a fim de construir uma sociedade sem classes.
O capitalismo, proveniente da acumulação primitiva de capital, da apropriação (cercamentos) de terras coletivas, se desenvolve consolidando a burguesia enquanto classe social dominante e dissolvendo a ordem feudal para dentro dos livros de história. As transformações das forças produtivas (meios de produção e força de trabalho) vão condicionando a sociedade capitalista, e trazendo a tona uma nova classe social, a antítese da burguesia, que acabara por engendrar seus próprios algozes. Ao proletariado, trabalhadores assalariados que utilizam sua força de trabalho como mercadoria para manter sua sobrevivência, cabe a tarefa de enfrentar a exploração da burguesia e orientar a construção de uma sociedade sem classes. A luta entre classes sociais, nessa concepção, carrega o sentido de motor da história humana. Por intermédio de uma análise histórica organizada, Marx encontra a opressão entre diferentes classes sociais no decorrer do processo histórico. Ainda no Manifesto Comunista, estão contidas críticas as correntes socialistas utópicas, e resumidas algumas concepções do chamado socialismo científico.
A propriedade privada dos meios de produção (instrumentos, terra, fábricas, capital), elemento central da dominação burguesa, caracteriza o modo de produção capitalista. Nessa sociedade, os despossuídos do capital possuem somente sua força de trabalho para vender como mercadoria de sobrevivência, sendo a relação estabelecida entre o capitalista e o operário operando sob a égide do prejuízo, em última instância, aos trabalhadores. O capitalista usa o lucro para reinvestir, como capital, para fazer mais lucro, à custa do trabalho explorado dos operários. Nesse processo, a mais-valia, excedente de trabalho do operário apropriado pelo patrão, representa o caráter da acumulação de lucro da classe dominante. Ela pode ser absoluta, com ampliação da jornada de trabalho mantendo salários, ou relativa, com o enfoque na mecanização, aumentando a produtividade física do trabalho. Marx ressalta, a saber, a distinção entre capital constante e capital variável. O primeiro consiste nos investimentos do capitalista em fábricas, instrumentos de produção; o segundo, na força de trabalho, fonte única de mais-valia.
De fato, as contribuições de Marx e Engels para as ciências humanas ultrapassam os limites de qualquer tentativa de enquadramento nessa ou naquela disciplina. Constituíram, em si e na sua repercussão nos últimos séculos, uma nova fase no pensamento social e na vida de milhões de pessoas.
REFERÊNCIAS
MARX, Karl. O Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre: L&PM, 2001.
___________. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
___________. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
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