Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
No restinho de 2017, deixamos a Cidade da Bahia. Depois de passar
pelo Sertão, chegamos à Chapada Diamantina. Ali, no Vale do Capão, deu
pra sentir a conexão com uma vida utópica, em que conta mais o sentir do
que o ter, e tudo parece fazer sentido.
Nessa toada de
integração com a natureza, de humildade, solidariedade e alegria,
subimos o morro rumo à Cachoeira da Fumaça. Na trilha, porém, o "líder"
de um grupo de turistas, no auge da ladeira, cantarolava a plenos
pulmões: "O Bope tem guerreiros, que matam guerrilheiros...". Aceleramos o passo.
A humanidade é mesmo complexa. Aquela aberração musical não constrangeu
a nossa feliz trajetória. No fim de tarde, seguimos para outra
cachoeira, batizada de "Angélica". Na estrada, meio perdidos, pedimos
informação para uma pedestre qualquer. Acabamos oferecendo uma carona
para a moça.
Elaine, natural de Palmeiras, uma cidade da região, mostrou o caminho e contou que estava indo trabalhar. Era seu dia de folga, mas a outra funcionária da pousada havia dado para trás. Bem naquele dia, aniversário de um dos filhos dela. De cara, ela contou que os R$ 70 que tirava por dia eram necessários, mas que a tristeza era grande por estar longe de casa naquele instante.
O pior estava por vir. Consternados, seguimos conversando. Elaine nos mostrou, então, a razão de a exploração do trabalho ainda ser uma pauta central, inclusive em lugares nos quais a utopia se confunde com a realidade. Disse a garota: "O pior é que os patrões são, tipo, formados em direitos humanos. Pra mim, se a gente se forma, a gente deve ajudar a melhorar a vida das pessoas. Faz o cálculo e vê quanto custa a minha hora de trabalho. Eu pego às seis e saio às 20h".
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Elaine, natural de Palmeiras, uma cidade da região, mostrou o caminho e contou que estava indo trabalhar. Era seu dia de folga, mas a outra funcionária da pousada havia dado para trás. Bem naquele dia, aniversário de um dos filhos dela. De cara, ela contou que os R$ 70 que tirava por dia eram necessários, mas que a tristeza era grande por estar longe de casa naquele instante.
O pior estava por vir. Consternados, seguimos conversando. Elaine nos mostrou, então, a razão de a exploração do trabalho ainda ser uma pauta central, inclusive em lugares nos quais a utopia se confunde com a realidade. Disse a garota: "O pior é que os patrões são, tipo, formados em direitos humanos. Pra mim, se a gente se forma, a gente deve ajudar a melhorar a vida das pessoas. Faz o cálculo e vê quanto custa a minha hora de trabalho. Eu pego às seis e saio às 20h".
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