Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Querida Escola Técnica Ernesto Dornelles; queridos colegas de trabalho; querido PIBID e queridos Pibidianos; queridos e inesquecíveis estudantes:
Não sei o que me fez chegar à educação. Sei que sempre tive muitas oportunidades na vida. Nas Ciências Sociais, porém, as coisas nunca foram tão fáceis. Sei que não faço o estilo dos dominantes no campo científico da minha área. Calças largas, dificuldade de distanciamento das ruas, uma certa desconfiança do ascetismo acadêmico. Até o boné que usei durante um tempo incomodava os meus pares. A minha fala, inundada pela fala cotidiana, ainda incomoda. Enfim, acho que cheguei à educação para não ficar preso num conto de fadas.
1 QUERIDA ESCOLA TÉCNICA ERNESTO DORNELLES
Era uma manhã de calor. Parei em frente à escola, lá em 2012, e fiquei paralisado. Fui consumido pelo medo, pela ansiedade. Não sabia como seria mais uma inserção num novo local de trabalho, com novas relações e novos desafios. Demorei a entrar.
De lá para cá, o Ernesto se tornou um lugar inesquecível na minha trajetória. Ali, nas salas de aula, nos corredores, em todos os locais do prédio centenário, fiz muitos amigos e cresci demais como professor. Se na Barra do Ribeiro eu me tornei professor, no Ernesto eu aprendi muito sobre a docência e ganhei a certeza momentânea de que este é o meu ofício.
Em todos os lugares que passo, com todas as pessoas que falo, nunca deixo de ressaltar a qualidade das atividades que se desenvolvem na escola. Isso não significa ignorar ou minimizar os problemas. Isso não significa tapar o sol com a peneira. Significa, somente, dar os créditos e valorizar uma coisa que sinto no fundo mais profundo das minhas ideias e sentidos.
O Ernesto é, sim, uma grande escola. E nele está a demonstração de que a escola pública pode ser de qualidade. Que a escola pública pode ter grandes profissionais, grandes projetos, enfrentar as dificuldades estruturais com força e determinação. Tenho muito orgulho desses dois anos que tanto me marcaram nas bandas da Praça da Bronze.
O Centro Histórico de Porto Alegre, minha querida cidade, aquela que jamais experimentei ficar longe, nunca mais será o mesmo para os meus olhos. Sempre que eu sentir a brisa do Guaíba ou tomar um mate no Gasômetro, o Ernesto surgirá na memória e me deixará arrepiado, trazendo lembranças intensas que guardo no peito com muito carinho.
2 QUERIDOS COLEGAS DE TRABALHO
Uma escola é feita de pessoas. Muitas vezes nos esquecemos disso. Mas isso não pode ser esquecido. É verdade que o rodo cotidiano, o peso das estruturas sociais injustas e desiguais, tudo isso acaba soterrando a humanidade dos professores e dos funcionários de escola. É verdade, também, que mesmo assim essa humanidade sempre vem à tona.
Não vou nomear a todos, mas gostaria de agradecer profundamente a todos os colegas de trabalho. Professores e funcionários, sem vocês a minha passagem pelo Ernesto não teria nenhuma parte do brilho que tem para mim. Esse brilho que sinto não é meu. Ele foi construído com vocês, com divergências, sinergias, erros, acertos, amizades e coexistências. Muito obrigado pela parceria.
Preciso e quero falar de algumas pessoas especiais. Como não nomear as meninas-mulheres espetaculares que me aguentaram nesses dois anos na divisão do ensino de sociologia? Impossível! Cris, Ivete e Nina: vocês são foda! Desculpem a linguagem, mas vocês são especiais, vocês foram a melhor parceria que já tive nessa minha pequena experiência docente envolvendo a sociologia. Que orgulho e que saudade eu já tenho de vocês. Não vai ser fácil deixar de trocar uma ideia, dar risadas e pensar trabalhos e atividades em conjunto com vocês. Sentirei muitas saudades. Muitas mesmo.
Raquel, Davi, Neto, Milton, Margareth e todos os demais: muito obrigado pelo aprendizado que me proporcionaram. Deixo as minhas sinceras desculpas pelos fracassos, pelas insuficiências, pelos insucessos, pelas minhas falhas, defeitos e por tudo aquilo que não consegui aprender e pôr em prática com vocês. Um beijo grande no coração, de um ex-colega que tanto vos admira.
3 QUERIDO PIBID E QUERIDOS PIBIDIANOS
Nesses dois anos de Ernesto, tive a maravilhosa oportunidade de supervisionar um dos projetos mais valiosos da educação básica brasileira na atualidade. Supervisionar o PIBID Ciências Sociais UFRGS no Ernesto não foi uma tarefa, foi um orgulho, uma alegria, um baú de amizades, experiências e aprendizados.
De tudo, as pessoas são sempre o mais importante. Quando cheguei, num turbilhão de acontecimentos, não previ que tais pessoas seriam tão importantes para mim. Rafael Barros, Marcela, Bruna, Gui Maltez, Gui Soares, Gui Rodrigues, Marco Plá, Juan, Juliano, Adriana e Cássio: vocês são lindos, vocês são pessoas incríveis, profissionais (sim, profissionais!) da educação que fazem e farão toda a diferença nesse mundo cruel. Pra cima deles, gurizada! Tô com vocês sempre, pro que der e vier, longe ou perto. Obrigado por tudo. Desculpem, vocês também, todas as minhas incapacidades e as diversas aulas lamentáveis que vocês tiveram que participar.
Deixo um beijo e um agradecimento especial ao Gui Rodrigues e ao Juliano: irmãos, obrigado pela fidelidade. Não vem ao caso detalhar o que sinto, mas muito obrigado pela fidelidade. Vocês sabem do que estou falando. Nunca vou me esquecer disso.
Obrigado ao PIBID Ciências Sociais UFRGS, pela oportunidade de supervisão nesses dois anos, pelo aprendizado, pelas oficinas, por tudo. Obrigado a todos os Pibidianos que comigo dividiram o seu tempo. Vocês me fizeram uma pessoa melhor. Vocês me fizeram um professor melhor. Meu carinho por vocês não cabe em palavras.
4 QUERIDOS E INESQUECÍVEIS ESTUDANTES
Pois é. Não existe escola sem estudantes. E mesmo assim muita gente esquece disso! Porra, gurizada... não deixem que a galera esqueça disso! Vocês, queridos e inesquecíveis estudantes, todos vocês que compartilharam seu tempo e sua vida comigo nesses dois anos, são e sempre serão o coração da escola. Enquanto vocês estiverem na escola, vocês continuarão sendo os protagonistas.
Nesses dois anos, vocês me ensinaram muito. Vocês trouxeram experiências, vivências, alegrias, tristezas e muitas emoções para a sala de aula. E era isso mesmo que eu queria, isso que eu sempre desejo que esteja presente na sala de aula. Saio do Ernesto apaixonado por vocês, levando um pouco de vocês comigo para qualquer lugar.
Vocês, queridos e queridas, renovaram a minha fé na educação. Renovaram a minha fé na espécie humana, cheia de inacabamentos e inconsistências, mas cheia de bonitezas e sentimentos. Vocês, inclusive aqueles que pouco gostaram de mim, que pouco se envolveram na sociologia que propus, deixaram um tantinho das vossas personalidades incrustrado nesse aventureiro professor.
Desejo e torço para que vocês sigam a melhor caminhada possível. Desejo e torço para que os seus sonhos se realizem, para que vocês tenham forças para lutar por eles. Torço para que vocês não abaixem a cabeça, enfrentem as desigualdades, lutem pelas oportunidades que vocês merecem, sim! Busquem as oportunidades e, se conseguirem, não esqueçam aqueles que não as têm. Sejam agentes ativos das suas próprias oportunidades e dos seus próprios sonhos, mas sejam agentes ativos da construção de oportunidades e realização de sonhos para todos.
Tentei deixar com vocês a melhor parte de mim. Sei que isso não é muito, mas espero que tenha sido, pelo menos, intenso e alegre. Hoje, eu só sou quem eu sou também por causa de vocês. Obrigado por brilharem tanto na minha estrada. Muito obrigado. Tâmo junto!
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