Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
Na minha cabeça, a liberdade era o assunto do momento. O Sol estava
alto, mas o meu corpo pedia mesmo era um café. Pássaros voavam
livremente num céu de brigadeiro. Perto da padaria, uma loja tipo “agro é
pop” expunha mudinhas bonitas e variadas na calçada.
As mudas e a
vida a crescer... Ah, divagante, presta atenção! Assim a gritaria de um
monte de passarinhos me bateu de frente. Eram muitos, enjaulados,
debatendo-se nas suas minúsculas celas, isolados da imensidão que só suas asas livres podem percorrer com a bênção da natureza. Estavam à venda. À venda!
Viajei longe. Um grande sociólogo francês dizia que a emancipação
humana na modernidade passa pela psicanálise, por um lado, pra nos
mostrar as pulsões inconscientes que nos atormentam; do outro lado, a
socioanálise (Sociologia na veia) poderia deflagrar os imperativos
sociais que nos constrangem e condicionam nossas práticas.
Tenho
vivido ambas as sugestões e, de fato, são caminhos relevantes. Porém,
começo a achar que são insuficientes. Como os animais encaixotados me
fizeram pensar, logo os bichinhos que mais representam a liberdade, um
corpo tolhido ao extremo parece aprisionar nosso ser, limitar demais a
nossa existência.
O corpo é um operador analógico das nossas
histórias. E tem sido, na cultura ocidental, pelo menos, mais um
problema, um tabu, do que uma dádiva. Não sei qual é o caminho, nem o
sentido que liberta cada um. Mas eu é que não me sento, no trono de um
apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte
chegar.
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