ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 1 (16)

América do Sul, Brasil,

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Abrir as gaiolas

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Na minha cabeça, a liberdade era o assunto do momento. O Sol estava alto, mas o meu corpo pedia mesmo era um café. Pássaros voavam livremente num céu de brigadeiro. Perto da padaria, uma loja tipo “agro é pop” expunha mudinhas bonitas e variadas na calçada.

As mudas e a vida a crescer... Ah, divagante, presta atenção! Assim a gritaria de um monte de passarinhos me bateu de frente. Eram muitos, enjaulados, debatendo-se nas suas minúsculas celas, isolados da imensidão que só suas asas livres podem percorrer com a bênção da natureza. Estavam à venda. À venda!

Viajei longe. Um grande sociólogo francês dizia que a emancipação humana na modernidade passa pela psicanálise, por um lado, pra nos mostrar as pulsões inconscientes que nos atormentam; do outro lado, a socioanálise (Sociologia na veia) poderia deflagrar os imperativos sociais que nos constrangem e condicionam nossas práticas.

Tenho vivido ambas as sugestões e, de fato, são caminhos relevantes. Porém, começo a achar que são insuficientes. Como os animais encaixotados me fizeram pensar, logo os bichinhos que mais representam a liberdade, um corpo tolhido ao extremo parece aprisionar nosso ser, limitar demais a nossa existência.

O corpo é um operador analógico das nossas histórias. E tem sido, na cultura ocidental, pelo menos, mais um problema, um tabu, do que uma dádiva. Não sei qual é o caminho, nem o sentido que liberta cada um. Mas eu é que não me sento, no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.

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