Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Uma vez me contaram uma história muito
boa. Um rapaz vinha se perguntando, há tempos, qual era o sentido da
vida. Revirando suas indagações, ele encontrou, numa noite qualquer, uma
amiga de longa data.
Papo vai, papo vem, ela lhe disse que
vinha há algum tempo acolhendo pessoas que estavam perto do fim. Havia
feito disso seu ofício. O rapaz aproveitou a experiência dela e
perguntou o que essas pessoas expressavam à beira da morte.
Ela
narrou de tudo um pouco. Havia aquelas que relatavam uma vida repleta de
carros de luxo, restaurantes sofisticados, riquezas em abundância. Tudo
em excesso. E havia aquelas que atravessavam a existência no perrengue
da escassez material.
Havia também quem narrasse uma vida de
fama, ao estilo celebridade. Pessoas que viviam cercadas por milhares ou
milhões de seguidores, fossem reais ou virtuais. Seres que existiam
como ídolos para os demais, e que faziam disso o seu bem-estar
cotidiano.
O rapaz estava ficando meio entediado. Afinal de
contas, o que essa mulher queria dizer? Ela não dava bola e permanecia
falando devagar, enquanto olhava para o céu. Ele, inquieto, procurava
distrações no celular, ao mesmo tempo em que tentava se manter na
conversa.
Mirando a lua, ela dizia que ficara claro, na sua
experiência, a necessidade que a gente tem de ter uma vida confortável e
tranquila. Que o abismo entre quem tinha tudo sobrando e queria sempre
mais e quem corria dia após dia para ter o básico era um total absurdo.
Era vil e indignante.
O rapaz moveu os olhos do celular e
perguntou, ansioso: e o sentido da vida? Ela, que não tirara os olhos do
céu um segundo sequer, apenas sorriu. Não sabia a resposta. Sabia, isso
sim, como era feliz observando a beleza da lua, em tantas e tantas
noites estreladas.