ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

sábado, 21 de agosto de 2021

A lua e o sentido da vida

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Uma vez me contaram uma história muito boa. Um rapaz vinha se perguntando, há tempos, qual era o sentido da vida. Revirando suas indagações, ele encontrou, numa noite qualquer, uma amiga de longa data.

Papo vai, papo vem, ela lhe disse que vinha há algum tempo acolhendo pessoas que estavam perto do fim. Havia feito disso seu ofício. O rapaz aproveitou a experiência dela e perguntou o que essas pessoas expressavam à beira da morte.

Ela narrou de tudo um pouco. Havia aquelas que relatavam uma vida repleta de carros de luxo, restaurantes sofisticados, riquezas em abundância. Tudo em excesso. E havia aquelas que atravessavam a existência no perrengue da escassez material.

Havia também quem narrasse uma vida de fama, ao estilo celebridade. Pessoas que viviam cercadas por milhares ou milhões de seguidores, fossem reais ou virtuais. Seres que existiam como ídolos para os demais, e que faziam disso o seu bem-estar cotidiano.

O rapaz estava ficando meio entediado. Afinal de contas, o que essa mulher queria dizer? Ela não dava bola e permanecia falando devagar, enquanto olhava para o céu. Ele, inquieto, procurava distrações no celular, ao mesmo tempo em que tentava se manter na conversa.

Mirando a lua, ela dizia que ficara claro, na sua experiência, a necessidade que a gente tem de ter uma vida confortável e tranquila. Que o abismo entre quem tinha tudo sobrando e queria sempre mais e quem corria dia após dia para ter o básico era um total absurdo. Era vil e indignante.

O rapaz moveu os olhos do celular e perguntou, ansioso: e o sentido da vida? Ela, que não tirara os olhos do céu um segundo sequer, apenas sorriu. Não sabia a resposta. Sabia, isso sim, como era feliz observando a beleza da lua, em tantas e tantas noites estreladas.