ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Gira, Janaína!

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Era 7 de setembro e no outro lado das cidades os fanáticos genocidas forçavam a barra para que as coisas que já estão ruins fiquem ainda piores. Faltar comida, emprego, luz e água ali na frente, morrer meio milhão e deixar um rim no posto de gasolina era tudo culpa dos barbudos que "o pai ouviu falar no zap".

Gira, Dona Janaína! Foi o que as gentes ouviram quando pisaram a esquina e sentiram o cheiro do mar. Sem precisar entender bem, dançaram sentindo o balanço da vida nesses tempos de águas turbulentas e horizontes fechados.

Girava Janaína e as gentes se encharcavam com a força dos mares da Guanabara. Voavam no tempo com as flechas dos guerreiros indígenas nas batalhas contra o extermínio da vida e das florestas desses tristes trópicos.

Perto das ondas do Norte, teciam balaios e revoltas porque a morte não deve vir em forma de soldados e capangas mercenários. Nossa vida é semente que brota no terreiro fértil da brasilidade. Que mora longe das monoculturas de açúcar, café, soja envenenada ou carnes de gados escravizados.

Sendo a vida uma riqueza de todos, não de uns poucos falos brancos sem vigor, ela banhava os corpos das gentes com a coragem dos lanceiros negros gaúchos. Coragem traída pelos latifundiários e seu racismo em constante atualização, seja nos pampas ou na Bahia de todos os santos.

As flechas seguiam nos ares e as gentes colavam com quem foi de aço nos anos de chumbo. Entre os porões do terror de Estado dos torturadores e a luta por liberdade, Janaína permanecia na gira, renovando a vida na brasilidade maltratada.

Enquanto os fanáticos genocidas se esforçam pela destruição, a força de quem quer vibrar e sorrir com o que podemos de melhor não deixa de girar. Nos botecos e nos pandeiros, nas quebradas e nas rimas, nas ruas, assembleias e salas de aula, as gentes continuam a endurecer sem perder a ternura.