Os Lanceiros Negros, verdadeiros heróis de uma
Revolução que não fez sentido para o povo
Sim, eu sou gaúcho. Sou colorado, fanático, se existir um bom sentido para o termo. Tenho o hábito de degustar um bom chimarrão quase que diariamente. O churrasco é, sim, uma das mais (senão a mais) apreciadas refeições que costumo realizar. Eu admiro as características do meu estado que são parecidas com os países do Prata.
Não, eu não ando a cavalo. Não, eu não uso bombachas e botas diariamente. Não gosto de música tradicionalista e detesto o frio (“zinho” coisa nenhuma!) que nos atormenta em todos os invernos. Não compactuo com o ideal “faca na bota”, nem com a maioria das referências simbólicas provenientes do interior do estado – generalizando e sabendo dos perigos disso.
Essa lógica do “sim” e “não” me autoriza, rapidamente, a mostrar que essa história exagerada de exaltação da Revolução Farroupilha ou das “propriedades superiores” de um sujeito que nasceu no Rio Grande do Sul não está com nada. É pura arrogância lamentável.
Isso não significa que não devemos dar valor ao nossos caracteres tradicionais, ou rejeitar nossos costumes. Jamais defenderia isso, mas pra nenhum povo que seja. O que me incomoda nesses momentos, como o 20 de setembro nosso de cada ano, é que alguns de nós sobem na mesa e bradam com ênfase: “sirvam nossas façanhas!”.
Devagar, irmãos. Nem tanto o céu, nem tanto a Terra. Até porque, retrocedendo no tempo, pouco temos a vangloriar num movimento separatista erguido por estancieiros, latifundiários e integrantes de uma elite econômica. Não teve uma base popular como o imaginário construído ao final da Revolução sugere e perpetua, de certa forma, até os dias de hoje.
Sim, valorizemos o nosso lar, o nosso modo de viver. Muito mais do que isso, valorizemos o fato de que somos brasileiros, de que constituímos uma bela parte de uma variedade heterogênea de povos misturados nessa imensidão de diversidade chamada Brasil. Sou brasileiro e gaúcho, gaúcho e brasileiro!