Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
Em 2018, a Constituição Brasileira em vigor completará 30 anos.
Rasgada, amassada, assassinada, tornada fisiológica na vida prática. O
Brasil parece que vive correndo atrás do próprio rabo. No dia 15 de
julho de 1985, o saudoso professor Florestan Fernandes escrevia, na sua
coluna em um jornalão desses oligopolizados, a respeito de qual seria o
tipo de República que sairia da nova Constituinte e da transição “lenta,
gradual e segura” pregada pelos militares. Quase três décadas depois, não deixa de ser impressionante a atualidade das suas considerações.
“Os fatos mais clamorosos voltam a exigir definições claras, na teoria e
na prática. Os coveiros da Independência e da República, os que
tornaram impraticável qualquer forma precária e rudimentar de convívio
cívico e democrático dentro da Nação, e através da Nação, retomam a
linguagem do egoísmo cego e a ação desenvolta da violência dos que ‘tudo
podem’. (...) São fatos que nos obrigam a abrir os olhos. Há uma guerra
civil permanente e aberta em nossa sociedade civil. E é uma guerra sem
quartel. Os privilegiados não abrem mão de nenhuma partícula de seus
privilégios e brandem, por qualquer coisa, as armas brancas da degola e
suas bandeiras ‘sagradas’, que põem a propriedade e a iniciativa privada
acima de sua religião, de sua pátria e de sua família. (...) Sob a sua
ótica, o que não coincidir com a intocabilidade da ordem estabelecida e
todas as suas iniquidades é ‘comunismo’ e precisa ser banido de nossa
terra! (...) A República teria de ser uma república de senhores, uma
oligarquia perfeita, movida por interesses particulares absolutos e pela
ideia de que o único ‘bem comum’ válido emana do comensalismo
agressivo, secretado por aqueles interesses particulares” [1].
O
título da esquecida obra de Florestan, que condensa os seus textos no
jornalão oligopolizado, às vésperas da Constituinte de 1988, faz lembrar
o que diz o filósofo grego Aristóteles sobre a justiça. Se decisões
sobre justiça devem ser precedidas pelo debate acerca do objetivo das
instituições sociais e sobre as qualidades dignas de valorização e
reconhecimento, a pergunta do grande sociólogo brasileiro persiste: “Que
tipo de República?”.
Referência
[1] FERNANDES, Florestan. Que tipo de República? São Paulo: Brasiliense, 1986. Páginas 75-76.
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