Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
Entre idas e vindas, mais um dia dos professores. Quando
chega essa hora, sempre me pego a pensar: por que fazer isso, por que trabalhar
com a docência? Tá cada vez mais difícil responder. O contexto não ajuda. Fala
quem ocupa, atualmente, a posição de professor universitário, um privilégio
entre os professores brasileiros. Só que a real é que nós estamos sob fogo
cruzado, com níveis de pressão, ansiedades e angústias, na média, muito altos. Uns
mais, outros menos.
Todos pedem educação. Porém, muito pouco é feito. Somos cobrados e nos cobramos pelos mais diferentes lados, por distintos matizes
ideológicos. De um lado, a cobrança para ser vanguarda política, entre os estudantes
e a comunidade mais engajada. Do outro, a cobrança para censurar o nosso pensamento,
em projetos de parlamentares que nitidamente estão longe do cotidiano das
instituições educacionais. Há, ainda, uma gama variada de outras cobranças e
pressões diárias. Por produção, por resultados, desde uma lógica mecanicista
de “fabricação” de conhecimento e ensino, o gerenciamento de mercado na esfera
educacional.
É claro que não são só espinhos. O professor oscila entre um "operário" e um "artista" das ideias. Se é verdade o “peso” da
atividade docente, a ele deve ser acrescida a “leveza” da prática pedagógica,
da interação, da troca com os estudantes, da circulação de pensamento e saberes.
Nem sempre isso ocorre, de fato, mas nas situações em que a docência faz
sentido, seu significado ainda me enche de vontade de seguir tentando mais um
pouco. Na universidade federal, o professor tem condições de lecionar, com
tempo para pesquisa científica, extensão e gestão, ganhando experiência em âmbitos
diversos da educação formal. Nem todos os cursos pelo país têm as melhores
condições estruturais, existem muitas dificuldades, mas as federais são, em geral, as melhores
universidades.
Ao invés de pegar como modelo o professor da rede federal e
aperfeiçoá-lo, pensando em qualificar ainda mais esses profissionais, pensando em
estruturar toda a docência nacional em torno de uma carreira que ofereça tempo
para estudos, preparação, acesso a atividades e bens culturais, além de um bom
salário e boas condições de trabalho, o que temos para hoje é um
cenário devastador. As tímidas - mas fundamentais - conquistas da última década estão ameaçadas. Não bastasse a grande maioria de péssimos salários e
péssimas condições de trabalho, ganha relevo a galera da irracionalidade que
late e morde, da negação da busca pelo saber e pelo conhecimento. Essa galera
que grita “comunista!”, justifica a humilhação que sofrem muitos professores através de
argumentos “técnicos” ou “econômicos” tirados das suas bolhas nas redes
sociais, sem deixar de sugerir, no fundo, que se tratam de profissionais preguiçosos,
privilegiados que têm direitos demais.
Tá tenso, mas a gente segue. Fazendo pouco, miúdo, mas
fazendo. Ainda gosto de lecionar e de escrever. Permaneço disposto a seguir procurando
na educação alternativas para a barbárie entre nós, e entre nós e o mundo.
Procurando uma forma de estimular o pensamento, abrir-se a ele, fomentando o
conhecimento e, na mesma toada, uma vida mais justa, digna, livre, solidária, integrada e com
oportunidades para todos. Isso cada vez mais me parece envolver um outro tipo
de escola, um outro tipo de universidade, um outro tipo de relação de aprendizagem.
No limite, um outro tipo de sociedade – que não é esse do aceleracionismo
capitalista, quiçá do neoliberalismo ou do self made man.
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