ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A apologia e as formigas

 Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Há alguns dias, algumas pessoas têm me dito que o problema maior do Brasil é a “apologia” da homossexualidade, do feminismo e da divisão da sociedade em “raças”.

Há alguns dias, formou-se uma rota de formigas, no pátio de casa. Lá vão elas, sem parar, pra lá e pra cá, organizadamente, carregando pedaços de folhas e flores enormes para o seu tamanho.

Apologia é um discurso que defende, justifica ou elogia alguma coisa. Os dois exemplos recorrentes do tal problema principal do país falavam sobre as manifestações em público de amor e carinho de pessoas do mesmo sexo e da liberdade corporal das mulheres.

Ora, essas pessoas não se importavam nem um pouco, quando perguntadas, a respeito da “apologia” da matança, da tortura e do autoritarismo, tão presente nos últimos tempos. Para isso, elas diziam: “é da boca pra fora, são brincadeiras”.

Quer dizer, então, que o amor e o carinho, a liberdade e autonomia das minas pra lidar com seu próprio corpo, a defesa e o elogio da cultura e da história negra, tudo isso são problemas sociais graves – mas a defesa e o elogio da morte de opositores e da violência como plataforma política são apenas bravatas engraçadinhas?

Acho que o vaivém das formigas, sobre o solo árido e pedregoso, de aparência tão insignificante, soa bem pedagógico: a tarefa é pesada, mas só com organização, disposição e persistência será possível cumpri-la.

Passo a passo, levando a semente para desarmar o ódio e construir uma sociedade que se paute pela comunhão, pela solidariedade, pela pluralidade, pela liberdade e igualdade para todos.

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