ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

terça-feira, 24 de maio de 2022

Educação não é mercadoria

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Neste mês de maio, eu completei 13 anos de docência. Os últimos sete deles vêm acontecendo aqui na UFFS. Se juntar esse tempo com o período de estudante na UFRGS, lá se vão 17 anos de universidade pública.

Quando moleque, eu estudei numa escola particular de muito boa qualidade. Mesmo assim, quando me formei no ensino médio, não tinha expectativa de cursar uma federal. Isso era coisa pra quem era muito estudioso, o que não era o meu caso.

A história de como entrei em Ciências Sociais na UFRGS fica para outro dia. No Campus do Vale, acompanhei de perto a transformação do ensino superior público. As ações afirmativas e o Reuni, ainda que incompletos, mudaram a cor, a classe e o cotidiano de quem frequenta essas instituições.

Não foi apenas isso que mudou. Muitas vidas mudaram. Lembro bem da noite em que fui homenageado por uma turma de formandos na UFFS. Lembro bem da emoção de ver as pessoas profundamente afetadas pela vitória dos seus e das suas, muitas vezes os primeiros e as primeiras na família a finalizar uma graduação.

Hoje, há quem diga que a universidade pública atende só aos abastados. Não é essa a realidade e há dados suficientes disponíveis por aí. Na verdade, a reforma no ensino médio e a escassez de investimentos no nível superior demonstram um projeto de retorno a uma época insistente em que para as classes trabalhadoras o país só destinava a repressão e a precariedade absoluta.

A gente tem muito a melhorar em termos de ingresso e permanência discente e qualificação pedagógica e pluralidade docente. Isso é importante para ajudar a resgatar os horizontes de que o conhecimento pode mudar vidas. E esses horizontes não se pautam por ensino domiciliar ou privatização. Pautam-se pela sabedoria de que a educação é uma tarefa coletiva e não é mercadoria.