ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Por uma Sociologia viva

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Hoje é dia do Cientista Social e também foi o dia em que uma grande universidade privada do sul do Brasil anunciou o fim de diversos dos seus programas de pós-graduacão. Entre eles está o PPG em Ciências Sociais.

Hoje também é aniversário do mestre Florestan Fernandes. Com o gigante sociólogo brasileiro, aprendemos que é preciso olhar a vida com atenção às relações entre o que acontece com as pessoas, individualmente, e as instituições e estruturas da sociedade e do tempo histórico em que essas pessoas agem, pensam e sentem.

Ao contrário dos clubes de armas, vivemos dias em que a educação e o conhecimento vêm perdendo espaço. De um lado porque grande parte dos e das viventes destes tristes trópicos se desdobra em vários trabalhos e trampos para sobreviver. Estudar vira um troço distante. De outro, algumas áreas - destaque para as Humanas - vão minguando pela falta de investimento, de boas oportunidades profissionais e de legitimidade social.

As pessoas não nascem adorando armas e odiando aprender, conhecer e dialogar. Elas são socializadas fomentando instintos agressivos e segregando material, moral e afetivamente variados grupos sociais. Além disso, educação e ciência são tratadas como mercadorias, como produtos e seus valores de troca. Cientistas sociais valem pouco nesse mercado.

Docentes, estudantes, pesquisadoras e pesquisadores vêm adoecendo e a lógica que gira essa roda muitas vezes sequer é questionada. Quando é, quando se empreende um esforço de fazer da ciência e da educação práticas colocadas dentro de um contexto em que as pessoas são levadas a sério nas suas necessidades, qualidades e possibilidades, a coisa pode e até tende a funcionar bem.

Trabalhar com Ciência Social e com educação é não desistir. É saber que ensino e pesquisa de ponta tem que ter relação direta com fomentar uma sociedade em que as pessoas comam bem, tenham emprego e moradia. Tenham dignidade e tempo para viver e se desenvolver, lidando melhor consigo e com o outro. É plantar sementes todos os dias contra a banalização do autoritarismo e da brutalidade. É um caminho duro, mas que pode ser encantador também.