Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Na
quarta passada terminaram as aulas da disciplina de teoria sociológica
que eu lecionei nesse semestre, na universidade em que trabalho. Eu
queria ter escrito ontem sobre o quão incrível foi aprender e ensinar
com essa turma fora de série, mas a vida me atropelou e eu fui tomado
por mais uma das tretas do cotidiano docente.
Ao conseguir
respirar fundo, voltei a lembrar das noites de encontros agitados que
começaram na véspera da morte da minha mãe. Têm coisas na vida que não
se explicam, apenas são como são. Acabei revivendo meus quase 14 anos de
docência. Durante esse período, tive muitas turmas nas quais se formou
uma comunidade de aprendizagem engajada em praticar com atenção as
diversas atividades propostas por mim, o praticante mais experiente.
Considero isso uma baita alegria, porque nem sempre rola.
Com
essa galera, agora, nesse 2022/2, a gente experimentou a sensação de que
a educação é, sim, uma possibilidade real - mesmo nestes tristes
trópicos. Finalizamos nossa jornada coletiva buscando entender a nossa
própria história e a realidade social em que estamos inseridos, a partir
dos conceitos e teorias que estudamos. Só que isso foi apenas uma parte
do que aconteceu conosco. Sinto que construímos, texto após texto, aula
após aula, troca após troca, saberes e conhecimentos que podem servir
como energia para ajudar a encantar e dar sentido às nossas vidas.
Em
tempos de tentativas de sequestro do futuro por parte do extremismo de
direita, com suas armas e políticas de morte, a gente propôs vida,
alegria, envolvimento e sabedoria. Contra a precariedade da existência e
também o elitismo, rejeitamos a máquina de moer gentes e seus fanáticos
e capangas. Oferecemos acolhimento e sensibilidade a quem se fez
presente na experiência pedagógica. Juntos, misturados, coloridos,
diversos, dispostos a somar, compreender e dialogar. Fizemos uma
sociologia viva.