Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
De férias do trabalho, o trabalho insiste em não dar férias. Tudo normal. Resolvo, então, repensar uma sociologia da minha própria sociologia. Tematizar o núcleo básico do meu fazer profissional e as consequências que pretendo que ele alcance. Seja entre os estudantes com os quais trabalho, seja com os leitores dos meus textos.
Tenho defendido que é importante acionar uma imaginação sociológica. Construir dia após dia, num artesanato intelectual, conjuntos de perguntas que enfrentem a hegemonia do saber e do poder colonizados. Indagações que orientem a atuação em sala de aula ou a pesquisa acadêmica. Que potencializem os horizontes dos espaços de inserção fora dos ambientes restritivos, bem como para além dos padrões epistêmicos eurocentrados. Na figura de professor-pesquisador, posso procurar nas perturbações de cada discente os tentáculos que as estruturas e instituições da modernidade depositam sobre ele, a fim não de retirar-lhe a sua responsabilidade, mas de compreender os caminhos das relações que ele estabeleceu nas suas experiências até ali – para, quem sabe, suscitar alternativas híbridas e hibridizantes de (re)significação das experiências.
Se hoje as perturbações nos sistemas de ensino são vistas como generalizadas, por exemplo, não consigo tratá-las desde as características individuais dos envolvidos. Tampouco à feição dura da estrutura sem a agência humana. A imaginação sociológica precisa ver numa pessoa a sociedade, e na sociedade cada uma das pessoas. Precisa apostar mais na semântica dos conceitos e na sintaxe das teorias, ou seja, apostar na elucidação dos significados e nas ligações que formam os conjuntos de argumentos e significados. Não pode, a despeito da obliteração intencional espalhada por aí, ocultar o viés das estruturas econômicas e políticas. Não pode ter medo das ruas, ou daquilo que apreendemos enquanto realidade nessa vida louca e efêmera.
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