Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Que dureza! Não queria comentar a questão, mas não tem jeito. Não depois de hoje. O cara chega para realizar uma consulta médica, pelo convênio, num estabelecimento de pequeno porte. Na região central da capital gaúcha, longe do interior. Gripão pegando, receio da tal H1N1. O cenário é tomado por umas 100 pessoas para serem atendidas. Duas dedicadas e atenciosas médicas. Após uma hora e trinta minutos, chamam meu nome:
- Fulano de tal!
Alegre, quer dizer, meia boca, eu comemoro sentindo o febrão dominante:
- Bingo!
Deveria ter levado um livro, dois, na verdade. Como a menina sentada ao meu lado. Ela lia dois exemplares em idioma original dos poemas de Pablo Neruda. Quis pedir um emprestado, só que a vergonha não permitiu. Sábia jovem que acrescentava bonitezas na sua longa e doentia espera. Nas próximas vezes, farei igual a ela. Levarei duas boas obras. Uma para emprestar voluntariamente.
Embora as médicas estivessem fazendo milagre por ali, os problemas da saúde no Brasil ficaram evidentes. Eles são institucionais, por vezes individuais, sim. Sobretudo, a lógica do sistema é que precisa mudar. Óbvio que necessitamos de mais estrutura. Enquanto isso, por dez mil reais, vamos botar a mão na massa, queridos “doutores”! Parece que precisamos de menos remediação e mais estratégias preventivas. Mais humanidade e menos mercado. Profissionais que se insiram nas comunidades, criando uma nova cultura holística de saúde.
Uma outra medicina tem que passar a vigorar. Com urgência.
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