ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Desinformação na era da informação


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Ah, tá. Dizem que agora a moda dos cidadãos de bem é fazer justiça com as próprias mãos. Irônico, pois isso é ilegal, pelo menos no Brasil. Criminosos caçando criminosos, então? Trágico, visto que se materializa em mais e mais injustiças.

Não há evidências de uma enfermidade ou loucura geral. Parece haver, aí sim, uma imensa dificuldade de enxergar o outro e uma preguiça para pensar. Mas, além disso, parece estabelecer-se um paradoxo cruel: nunca tivemos tanto acesso a informação e muitos estão cada vez menos informados.

Quem linchou, não sabia as razões de tê-lo feito. Não mudaria nada se soubesse, continuaria comentendo um crime bárbaro, mas o fato é que não sabia. Quem leu a manchete, acreditou e se deu por satisfeito. Não foi atrás de mais nada. Cegou-se e foi para o conflito com a opinião rival. “Informado”, desinformou-se. Não quis o diálogo. Extravasou sabe-se lá o quê. Treinado pela maioria da mídia padrão, que também investiga muito pouco e dita meias verdades. Quase retornou à Idade Média europeia e aos suplícios públicos, aplaudidos de pé por manadas sedentas pelo sangue alheio. E ainda se julgou cidadão de bem – conceito mais vazio, impossível.

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