ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Só que não, tchê!

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Dois rapazes espreitam o rio. O primeiro desanda a trovar:

- Mas bah! Nós somos um povo muito politizado. Eles que sigam as nossas façanhas, de modelo a toda Terra. Nós não estamos próximos de eleger os paus mandados da maior rede de televisão destas bandas, como dominados. Nós não ateamos fogo em algum lugar, porque vai ter casório entre um baita grupo de gente, até com duas prendas que se gostam. Nós não chamamos as mulheres de china véia ou nenhum apelido pejorativo. Um dos nossos maiores clubes de futebol não tem cânticos que chamam pessoas de macacos. O outro dos nossos times bagualíssimos não tem cânticos que ofendem os outros por gostarem de quem quer que seja. Aqui nós somos todos politizados. Nem de perto passa o preconceito e a opressão. Aqui jamais defendemos uma guerra que perdemos, contando ao mundo que não nos entregamos na peleia, que eles que abandonaram os pagos. Aqui não!

O outro, ainda a espreita do rio, balançou a cabeça. Num gesto espontâneo, decepcionado. Então, do nada, uma sentença trovejou no silêncio das águas:

- Só que não, tchê! Não generaliza!

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