Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sempre que começa uma nova temporada em sala de aula, como agora, pergunto-me com vigor: por que estudar? Por que estudar sociologia?
Pergunta difícil de responder. Para tentar, é preciso pensar com quem se dialoga. Com quais estudantes e com quais abordagens. Seja nos cursos técnicos integrados ao ensino médio, seja no trabalho com jovens e adultos, a proposta de ensino de sociologia a ser construída nesse ano cheio de desafios tem alguns pressupostos básicos.
Definir o que é conhecimento e quais as suas variantes faz-se imperativo. Há, pelo menos, duas formas fundamentais de conhecer o mundo: a experiência vivida (senso comum) e a investigação profunda (ciência).
Usualmente, considera-se o senso comum um antagonista da ciência. Pode até ser. Na prática pedagógica, entretanto, a intencionalidade para perseguir o conhecimento sociológico pode ser outra. Ciência e senso comum podem ser complementares. Ambos podem se transformar.
O senso comum, encharcado com elementos científicos provocados pelo professor, pode acrescentar ao seu caráter muitas vezes supersticioso e tradicional as interlocuções das pesquisas metódicas, cujas teorias e conceitos têm o potencial de bagunçar respostas prontas e imediatas.
A ciência, por sua vez, aceitando o contato e o relacionamento íntimo com o senso comum, com a experiência vivida, pode deixar o seu pedestal e passar a fazer sentido para uma quantidade maior de pessoas. Auxiliando a percepção coletiva de ideias menos rápidas e acabadas, menos naturalizantes, em prol de narrativas mais críticas, reflexivas e relacionais.
Fomentar uma sociologia viva. Que esteja nas bibliotecas, nos papers, nas pesquisas mais relevantes. Mas que esteja viva, sobretudo na dimensão do ensino, nos corações, corpos e mentes dos estudantes. Uma sociologia popular. Um baita desafio para a temporada que vai tomando forma.
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