ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Não fechem a minha escola!

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Um dia, eles disseram que não queriam mais estar na escola. Estavam exaustos daquilo tudo. Tá... havia gente ali que eles não queriam deixar pra trás. Mas, no geral, já não aguentavam mais. Muita cobrança e pouco diálogo.

No outro dia, ele e ela viram na TV que a sua escola iria ser fechada. O governador tinha decidido: já era, aquele e outras dezenas de colégios perderiam a vez. Ficaram confusos. Não sabiam mais o que sentir.

Dias depois, um sentimento estranho tomava conta deles e de muitos amigos. A escola era cheia de problemas e muitas vezes eles quiseram sair correndo dela, sem vontade de voltar. Só que era a escola deles. Era a escola da comunidade, a escola perto de casa. Pertencia a eles.

Num piscar de olhos, muitos outros sentiram coisas parecidas. Ah, não! Eles não iriam mesmo deixar que o pouco que eles tinham, que as poucas e débeis instituições do Estado que eles podiam desfrutar virassem moeda de troca pra um governo qualquer.

Noutro piscar, uma escola era ocupada. Ocupação organizada, tomada por estudantes, com cooperação, luta e alegria. Protagonismo. Esperança. Eles piscaram de novo e... uma, duas, três, oito dezenas de escolas haviam sido ocupadas. Eram eles os protagonistas. E eles não iriam recuar.

De longe, eu me emocionei. Enchi os olhos de lágrimas quando vi, pela TV, num almoço preparado coletivamente, estudantes protagonizando a sua história. Uma história de resistência à arbitrariedade daqueles que a tudo querem capitalizar. Não me segurei quando eles e elas fizeram seus professores desabarem em emoção, lembrando o quanto todos lhes nutriam afeto. A escola era deles e não iria ter arrego.

O arrepio da esperança, por vezes tão distante de mim, mostrou que ainda pode existir. E eu lembrei Mia Couto, emblemático como todo grande escritor: “No mundo que combato morro. No mundo por que luto nasço”.

Há um pedaço de outro mundo nascendo com os secundaristas de São Paulo. E não pode ter arrego.

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