Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Enquanto
uns agradecem a chegada da primavera, outros poucos passeiam pelo mundo
e o bate-boca da “polarização” política segue alienante, o “novo-velho”
Governo Federal anuncia uma Reforma do Ensino Médio. No canetaço, por
meio de Medida Provisória, instrumento de imposição autoritária dos
interesses do Executivo. Vai por água abaixo a obrigatoriedade das
disciplinas de Sociologia, Filosofia, Artes e Educação Física na etapa
final da escolarização básica.
A partir da genialidade (só que não!) do Ministro e sua equipe, tudo indica que teremos um Ensino Médio ainda mais fragmentado e fomentador de desigualdades. Desde cedo, os estudantes poderão “escolher” suas trajetórias futuras, seja buscando a universidade ou direto para o mercado de trabalho. Esquece-se que essas escolhas não são livres de constrangimentos. Essas escolhas se dão, em grande parte das vezes, de modo pragmático entre as classes populares. Engraçado é que estes “gênios da educação” são alinhados com aquelas propostas censuradoras, que consideram os estudantes como presas fáceis para a doutrinação ideológica. Eles podem escolher o futuro, têm autonomia para isso desde cedo, mas são facilmente doutrinados?
Sociologia, Filosofia, Artes e Educação Física? Qual a razão de uma escola que promova o conhecimento de teorias, temas e conceitos fundamentais na história do pensamento moderno, que promova a compreensão do sentido da política, do poder, da racionalidade, da argumentação, dos fatos sociais e etc.? Qual a razão de uma escola que promova o conhecimento de práticas corporais, dos benefícios dos diferentes esportes? Qual a razão de uma escola que promova a criatividade, o desenvolvimento estético e artístico? Qual a razão de tudo isso, se nossos representantes (opa, não são, porque não foram eleitos! Isso é uma democracia? Pergunte à Filosofia e à Sociologia…) estão focados em alimentar o mercado de trabalho e apenas isso?
Como pano de fundo, não esqueçamos, encontra-se a desvinculação das receitas da União com saúde e educação, desobrigando o Governo Federal de suas obrigações constitucionais nessas áreas. Direto e reto: vai ter menos dinheiro. Com o suporte de bancos e organizações privadas, interessadíssimas na privatização do ensino público e em transformar educação em mercadoria de uma vez por todas, joga-se para debaixo do tapete as incontáveis discussões e os profundos conhecimentos produzidos por profissionais que dedicaram e dedicam suas vidas para a educação – estudando e praticando. Esses não sabem nada, são ideológicos nas suas pesquisas, como pensam os “gênios” com a caneta na mão. Bancos e empresas privadas ditando os rumos educacionais são neutros e imparciais? São desinteressados?
Vamos mergulhando num pântano de dar asco. A gente vai resistir, é óbvio. Vou seguir produzindo pesquisa sociológica e tentando demonstrar que o que faz um sistema educacional dar errado vai muito além do seu currículo. Vou insistir até o limite das minhas possibilidades. Mesmo profundamente decepcionado, não vou jogar a toalha. Muitos e muitos outros e outras também não vão. Quem vive a educação, quem não sabe fazer outra coisa senão trabalhar com educação, vai seguir lutando por uma educação pública, gratuita, laica e de qualidade. A roda da História gira sem parar. Apesar deles, amanhã vai ser outro dia. Não podemos desistir.
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A partir da genialidade (só que não!) do Ministro e sua equipe, tudo indica que teremos um Ensino Médio ainda mais fragmentado e fomentador de desigualdades. Desde cedo, os estudantes poderão “escolher” suas trajetórias futuras, seja buscando a universidade ou direto para o mercado de trabalho. Esquece-se que essas escolhas não são livres de constrangimentos. Essas escolhas se dão, em grande parte das vezes, de modo pragmático entre as classes populares. Engraçado é que estes “gênios da educação” são alinhados com aquelas propostas censuradoras, que consideram os estudantes como presas fáceis para a doutrinação ideológica. Eles podem escolher o futuro, têm autonomia para isso desde cedo, mas são facilmente doutrinados?
Sociologia, Filosofia, Artes e Educação Física? Qual a razão de uma escola que promova o conhecimento de teorias, temas e conceitos fundamentais na história do pensamento moderno, que promova a compreensão do sentido da política, do poder, da racionalidade, da argumentação, dos fatos sociais e etc.? Qual a razão de uma escola que promova o conhecimento de práticas corporais, dos benefícios dos diferentes esportes? Qual a razão de uma escola que promova a criatividade, o desenvolvimento estético e artístico? Qual a razão de tudo isso, se nossos representantes (opa, não são, porque não foram eleitos! Isso é uma democracia? Pergunte à Filosofia e à Sociologia…) estão focados em alimentar o mercado de trabalho e apenas isso?
Como pano de fundo, não esqueçamos, encontra-se a desvinculação das receitas da União com saúde e educação, desobrigando o Governo Federal de suas obrigações constitucionais nessas áreas. Direto e reto: vai ter menos dinheiro. Com o suporte de bancos e organizações privadas, interessadíssimas na privatização do ensino público e em transformar educação em mercadoria de uma vez por todas, joga-se para debaixo do tapete as incontáveis discussões e os profundos conhecimentos produzidos por profissionais que dedicaram e dedicam suas vidas para a educação – estudando e praticando. Esses não sabem nada, são ideológicos nas suas pesquisas, como pensam os “gênios” com a caneta na mão. Bancos e empresas privadas ditando os rumos educacionais são neutros e imparciais? São desinteressados?
Vamos mergulhando num pântano de dar asco. A gente vai resistir, é óbvio. Vou seguir produzindo pesquisa sociológica e tentando demonstrar que o que faz um sistema educacional dar errado vai muito além do seu currículo. Vou insistir até o limite das minhas possibilidades. Mesmo profundamente decepcionado, não vou jogar a toalha. Muitos e muitos outros e outras também não vão. Quem vive a educação, quem não sabe fazer outra coisa senão trabalhar com educação, vai seguir lutando por uma educação pública, gratuita, laica e de qualidade. A roda da História gira sem parar. Apesar deles, amanhã vai ser outro dia. Não podemos desistir.
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