Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
Diante do ataque à educação no Brasil, lembrei uma viagem de ônibus
que fiz com uma galera bem diversa. Tinha gente de classe média, classes
populares, negros, brancos, mulheres, enfim, uma gurizada heterogênea.
Lá pelas tantas, quando a empolgação parecia ter baixado e a rapaziada
parecia se encaminhar para um breve descanso, alguém apontou sem dó, nem
piedade: “Olha ali, tem um leitor no bus!!!”.
Foi aquele rebuliço. Todo mundo folgando no rapaz. “Um leitor, pqp!!!!”. “Vai ler na casa do car..., rapá!”. “Ui, ui, ui, olha ali, todo leitorzinho!”.
Foi aquele rebuliço. Todo mundo folgando no rapaz. “Um leitor, pqp!!!!”. “Vai ler na casa do car..., rapá!”. “Ui, ui, ui, olha ali, todo leitorzinho!”.
A relação das pessoas com o conhecimento, sobretudo em países com
acesso muito desigual, como o Brasil, tende a ser bastante estranha e
contraditória.
De um lado, muitas famílias focam nos estudos a única possibilidade de ascensão social. De outro, muitas vezes o malandro costuma ser aquele que se dá bem na escola ou na universidade sem estudar ou se esforçar.
Óbvio que a arrogância intelectual é o outro polo do problema. Tenho convicção que as pessoas e instituições que trabalham com conhecimento precisam sair de suas bolhas e botar a cara no mundo. Além, é claro, de não reproduzir preconceitos linguísticos ou se achar o centro do universo.
Porém, destruir as principais instituições de ensino e pesquisa de uma nação não colabora para democratizar o conhecimento. Tem mais a ver com ressentimento, ódio ideológico e interesses econômicos das instituições privadas de educação do que outra coisa.
Trabalhar para não confundir “cônjuge” com “conje”, “rusgas” com “rugas” ou Franz Kafka com um “Kafta” imaginário, não me parece arrogância. Assim como apenas isso não resolve nossos problemas sociais.
Só não dá pra vangloriar a ignorância e achar que o paraíso nos espera. Ou muitos de nós seguirão dormindo como humanos e "acordando" como insetos.
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De um lado, muitas famílias focam nos estudos a única possibilidade de ascensão social. De outro, muitas vezes o malandro costuma ser aquele que se dá bem na escola ou na universidade sem estudar ou se esforçar.
Óbvio que a arrogância intelectual é o outro polo do problema. Tenho convicção que as pessoas e instituições que trabalham com conhecimento precisam sair de suas bolhas e botar a cara no mundo. Além, é claro, de não reproduzir preconceitos linguísticos ou se achar o centro do universo.
Porém, destruir as principais instituições de ensino e pesquisa de uma nação não colabora para democratizar o conhecimento. Tem mais a ver com ressentimento, ódio ideológico e interesses econômicos das instituições privadas de educação do que outra coisa.
Trabalhar para não confundir “cônjuge” com “conje”, “rusgas” com “rugas” ou Franz Kafka com um “Kafta” imaginário, não me parece arrogância. Assim como apenas isso não resolve nossos problemas sociais.
Só não dá pra vangloriar a ignorância e achar que o paraíso nos espera. Ou muitos de nós seguirão dormindo como humanos e "acordando" como insetos.
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