Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Já faz algumas semanas
que o meu avô descansou. Talvez por estar enredado em tantas demandas
externas, talvez por qualquer outra das tantas tretas do dia a dia, eu
venho sentindo aos poucos tudo isso.
Em alguns meses, eu perdi
as minhas duas avós e o meu avô. O tempo é implacável e a morte é a
única lei absoluta da nossa existência. Para quem segue na batalha da
vida, falar dos sonhos pelas manhãs ajuda a dilatar o tempo e imaginar
um mundo novo.
É imaginando o passado nos domingos gelados na
serra gaúcha ou nas temporadas quentes em Rainha do Mar que eu gosto de
lembrar do Vô Nelson. É sentindo como se fosse hoje a mesa cheia de
gente ao seu redor e a TV ligada anunciando o jogo do Inter horas depois
da Fórmula 1.
Numa madrugada de insônia, visitei a casa da
Beira-Mar 501 por imagens de satélite. Meu avô estava inteirinho lá.
Estava na varanda cochilando e chamando minha avó. Também estava na
horta colhendo rúcula e radicci. Andava por tudo fazendo pequenos
consertos e chamava a todos para o jantar. A vida florescia próxima do
oceano e banhada pelo Sol do sul do planeta.
Diz o poeta que
esse mundo errado nos separou de nós, e que não se sabe mais reparar nas
estações. Cultivando as pequenas coisas que nos constituem, vou lembrar
sempre do Vô caminhando cedinho rumo ao mar, alegre com seus
instrumentos de pesca. Com saudade daqueles dias, quero honrar tudo o
que ele fez por mim, jamais deixando de regar meus sonhos pelas manhãs.