ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A difícil arte de (tentar) ser uma mosca


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Precisei escrever. Quase como terapia. A sala de aula move difíceis situações. Ensinar (aprendendo) sociologia pode ser um barril de pólvora. Por aí, problematizar as desigualdades entre homens e mulheres se assemelha a riscar uma caixa de fósforos. Risquei.

Foi árido propor a possibilidade de um rompimento com a coisificação da mulher. Bater no machismo. Propor que pessoas se fazem em relações, não são propriedades umas das outras. Combater os pronomes possessivos fervilhando pelas bocas. A supremacia do individualismo. A ideia de que o homem pode tudo e a mulher não pode nada. Foi árido.

Penei. Errei na didática. Não consegui atingir os objetivos pedagógicos. Só consegui gerar algum incômodo e irritação. Senti o inacabamento, a minha competência reduzida. Mas aprendi, de uma vez por todas: o mundo e os arbitrários culturais vão muito além das nossas sociabilidades, dos nossos feeds, dos nossos amigos, parceiros, companheiros, reuniões, festas e etc. A sopa é muito maior do que as moscas. Ainda assim, prefiro ser mosca. Ampla lição.

Falhei. Escrevi. Respirei. Agora quero riscar outras caixas de fósforos.

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