ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O piloto e o Velho Saravá

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Chove forte. Cedo da manhã, bastante alagada, a cidade ferve. Entro no transporte coletivo. Observo. Procuro o sentido das ações. Um samba toca no radinho do motorista. Lembro-me do Vinicius de Moraes. Do centenário do poetinha. O condutor do veículo, colorado dos pés à cabeça, dialoga com o mundo a cada instante. Demonstra saber todas as rotas, quem pilota quais carros, quem faz corpo mole e tudo mais. Ele abre a janela e grita, aos risos, para o colega da linha São José:

- Te mexe, cachaceiro!!!

O simples trabalhador exibe uma sabedoria enorme acerca da mobilidade urbana na capital gaúcha. Quase ninguém dá bola para o rapaz. O samba permanece. Alegra a manhã. Pelo menos a minha, a do motora e a da cobradora. Recordo-me, outra vez, do Velho Saravá. Parafraseando o branco mais preto do Brasil, atribuo algum sentido para os acontecimentos: “Mesmo com todo o emblema, todo o problema, todo o sistema, toda Ipanema. A gente vai levando...”.

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