Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
O ano começa como o ano que acabou. Pelo menos na política institucional e na grande mídia, sem muitas novidades.
No país, a formação dos ministérios faz aqueles que acreditaram num avanço contra as desigualdades e opressões chorarem quietinhos. Na economia, os operadores do mercado financeiro sorriem, anunciando ajuste fiscal para o delírio dos que muito ganham e pouco produzem. Eu peço desculpas por ter acreditado em algo diferente. Mesmo ainda entendendo que, no limite, há diferenças. Porém, Kátia Abreu, Cid Gomes e Joaquim Levy, entre outros, forçam meus pedidos de perdão.
No sul, o (des)governo não demorou mais do que um dia para mostrar o plano de trabalho que nas eleições não existia. Corte de gastos no bolso dos que mais precisam, aumento de salários das elites políticas. Congelamento de concursos públicos e moratória do pagamento de fornecedores. Cerca de 30 mil demissões no horizonte imediato. Ataque direto ao funcionalismo ali na frente. Tudo sob o aval dos colunistas e jornalões dominantes, sempre dispostos a corroborar teses que desconhecem profundamente e que arrotam como sábios especialistas.
Os meios de comunicação hegemônicos seguem cada vez mais alinhados com a concentração de riqueza e uma diversidade de opressões. Construir uma sociedade menos desigual, menos machista, menos racista, para falar apenas desses aspectos, não está na pauta das grandes empresas de (des)informação. Relativizar essa evidência é tapar o sol com a peneira.
O futuro está nas ações, individuais e coletivas, é verdade. Mas as condições estruturais não são animadoras.
.