ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Hobbes, Rousseau e o século XXI


Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau foram dois pensadores fundamentais para a filosofia e as ciências sociais. Cada um do seu jeito. Ambos refletiram sobre a natureza da vida humana e as construções sociais dispostas a organizá-la. Reduzindo bastante a complexidade, temos alguns antagonismos entre as suas ideias.

Hobbes (2008) entendia o ser humano como naturalmente dominado por impulsos egoístas, dotados da manutenção da sua sobrevivência e pouco afeito a uma natureza coletiva. O que importava era sobreviver. E bem. Se um pacto coletivo não fosse estabelecido, os humanos caçariam uns aos outros. Seria a guerra total. O pacto ou contrato social cumpriria a tarefa de trazer segurança e paz para todos os indivíduos, submetidos a um soberano responsável por manter a ordem social e resguardar as vidas e o bem-estar dos seus súditos.

Rousseau (2008), por sua vez, percebia a natureza humana como ingênua, no sentido de que a convivência social seria um elemento central na existência da espécie. Viver com os demais em harmonia, na expressão do "bom selvagem", traduziria o destino humano até a invenção da propriedade privada. A partir daí, do momento em que alguém delimitou o que era seu e não dos outros, Rousseau interpretava o nascimento das sociedades desiguais e a grande mazela da nossa espécie. A corrupção do destino humano. Uma organização política e um sistema educacional cunhados na vontade geral e na soberania de todos recolocaria o nosso caminho num horizonte de paz.

Se é verdade que a humanidade diminuiu bastante a violência entre si na época moderna (PINKER, 2013), também é verdade que as guerras, os homicídios e suas variantes permanecem. Por óbvio, nem Hobbes nem Rousseau dão conta de explicar a realidade contemporânea na sua completude. Não há ciência para tamanha empreitada. Contudo, suas divergências podem auxiliar numa perspectiva analítica reflexiva.

Pensar o papel do Estado e dos indivíduos na atualidade desde as diferenças teóricas entre Hobbes e Rousseu oferece um substrato que pode direcionar para outras facetas que modulam a imperativa complexidade desse cenário. O homem caçador de si mesmo segue se manifestando nas esferas coletivas? O Estado e o pacto social fracassaram na sua missão civilizatória? Ou o Estado reflete, feito por humanos, as suas naturezas?

Referências

HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Ícone, 2008.

PINKER, Steven. Os anjos bons da nossa natureza. São Paulo: Cia. das Letras, 2013.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e a desigualdade entre os homens. Porto Alegre: L&PM, 2008.

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