Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Há um texto do genial Eduardo Galeano em que a desconfiança é celebrada. A história é singela. Um professor conclama os estudantes a se manifestarem quando, após o mestre abrir um pote com perfume, eles sentirem o cheiro. Com o pote quase aberto, alguns já declaram a força do aroma. E assim todos o fazem. Até que alguns pedem que se abra a janela, pois o cheiro está forte demais.
O professor, calado, apenas observa. E logo conta aos educandos: o pote está cheio de água, não há perfume algum.
Tal historinha passa pela cabeça acompanhando os noticiários dos grandes meios de comunicação. Como se os que vestem as suas camisas dissessem: nestas telas, nestas páginas ou neste rádio está a informação imparcial e verdadeira. Ao acreditar, os apressados cometem um grave engano. O que há ali é uma versão, uma versão que interessa a uma determinada visão política. Um simulacro da vida real. Que, nesse caso, exala um forte cheiro de excremento - para ser gentil.
Desconfiar é preciso. Desconfiemos.
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