ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Volver a los diecisiete

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

Começou 2016. E com ele me veio a lembrança de que estou perto de completar mais um ano de vida. É sempre assim. As festas e a proximidade do aniversário me deixam mais sentimental do que nunca.

“Volver a los diecisiete”, belíssima canção da genial artista chilena Violeta Parra, não sai da minha cabeça há dias. Não que eu queira voltar aos meus 17 anos. Não é isso. Mas é que foi com 17 anos que aconteceu uma das coisas mais importantes da minha vida.

Na época, eu não tinha nenhum plano. Não tinha ideia do que fazer ao sair da escola. Não conseguia gostar de nada. Muito tímido, muito magrelo e muito preocupado em dar qualquer banda com os amigos, eu era um estudante pragmático: fazia o que fosse preciso para me livrar da pressão para passar de ano. Sem gosto e sem dedicação demasiada.

Certa vez, isso começou a mudar. Depois de fazer uma cagada e tanto, estava bastante triste. Incentivado por uma atividade proposta pela professora de Língua Portuguesa, escrevi alguns versos de puro lamento e entreguei para avaliação. Não esperava nada além de me livrar da tarefa proposta e garantir uma nota aceitável.

Para minha surpresa, a professora elogiou os meus versos, analisando-os em minúcias. Dias depois, minha querida professora me presenteou com um excepcional livro de poesias. Fiquei espantado, incrédulo. Fiquei feliz. Poderia eu escrever com qualidade? Expressar sentimentos e ideias no papel? Gostar de ler e escrever?

Sérgio Vaz, poeta magnífico das quebradas brasileiras, defende que a leitura nos faz enxergar melhor. Ele tem toda a razão. Aquele pequeno gesto me fez enxergar melhor a vida. Aquela atitude atenta e carinhosa de uma professora ampliou os meus horizontes e me fez dar os primeiros passos num caminho que, para mim, não tem mais volta.

Versos como os de Violeta Parra me inspiram. Todos os dias a leitura e a escrita vão me envolvendo. E vão brotando, brotando… “como el musguito en la piedra, ay si, si, si”.

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