Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
O saldo das eleições municipais já era esperado. Candidatos e
partidos considerados de esquerda perdendo força, enquanto a direita se
fortalece ainda mais no poder institucional. No que diz respeito à
forma, tudo dentro das regras do jogo. É da democracia representativa a
alternância no poder.
Quanto ao conteúdo, a falácia tecnocrática
vitoriosa em São Paulo e a ascensão de um bispo evangélico licenciado a
prefeitura do Rio de Janeiro preocupam bastante. Ambas as linhas da direita
mantém relações com as forças mais autoritárias do país. Encontram
ressonância nos aparatos de repressão do Estado (Judiciário e seus altos
salários, Polícias e seu monopólio legal da violência física) e estão
pouco abertas a dialogar. Se em São Paulo um magnata governará com a
promessa de não fazer política, uma contradição em termos, no Rio
voltará com tudo a mistura entre religião e instituições democráticas.
Na verdade, algo que está aí faz tempo. Um desses dois caminhos – senão a
mistura deles – pode ganhar força para governar o Brasil no médio
prazo.
Tecnocratas e
evangélicos conquistaram os votos das classes populares. Estão
"legitimados". Possuem simpatia de boa parte das classes abastadas.
Certo que daí surgirão afoitas privatizações, mais benefícios para o
andar de cima, repúdio a diversidade nos temas comportamentais e o uso
da repressão como única forma de responder aos conflitos sociais.
Parece caber àqueles que priorizam o combate a desigualdade, a apologia
da diversidade e a construção de uma sociedade mais justa repensar
estratégias e ações, insistir a fundo no trabalho de base, na
horizontalidade e na micropolítica. Penso que as ocupações são um baita
exemplo prático de que a política precisa ir muito além da
institucionalidade.
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