ABORDAGEM ARTESANAL, CRÍTICA E PLURAL / ANO 16

América do Sul, Brasil,

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Das eleições ao trabalho de base

Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor

O saldo das eleições municipais já era esperado. Candidatos e partidos considerados de esquerda perdendo força, enquanto a direita se fortalece ainda mais no poder institucional. No que diz respeito à forma, tudo dentro das regras do jogo. É da democracia representativa a alternância no poder.

Quanto ao conteúdo, a falácia tecnocrática vitoriosa em São Paulo e a ascensão de um bispo evangélico licenciado a prefeitura do Rio de Janeiro preocupam bastante. Ambas as linhas da direita mantém relações com as forças mais autoritárias do país. Encontram ressonância nos aparatos de repressão do Estado (Judiciário e seus altos salários, Polícias e seu monopólio legal da violência física) e estão pouco abertas a dialogar. Se em São Paulo um magnata governará com a promessa de não fazer política, uma contradição em termos, no Rio voltará com tudo a mistura entre religião e instituições democráticas. Na verdade, algo que está aí faz tempo. Um desses dois caminhos – senão a mistura deles – pode ganhar força para governar o Brasil no médio prazo. 

Tecnocratas e evangélicos conquistaram os votos das classes populares. Estão "legitimados". Possuem simpatia de boa parte das classes abastadas. Certo que daí surgirão afoitas privatizações, mais benefícios para o andar de cima, repúdio a diversidade nos temas comportamentais e o uso da repressão como única forma de responder aos conflitos sociais.

Parece caber àqueles que priorizam o combate a desigualdade, a apologia da diversidade e a construção de uma sociedade mais justa repensar estratégias e ações, insistir a fundo no trabalho de base, na horizontalidade e na micropolítica. Penso que as ocupações são um baita exemplo prático de que a política precisa ir muito além da institucionalidade.

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