Bernardo Caprara
Sociólogo e Professor
Sociólogo e Professor
Na última quinta-feira, voltava da universidade em que trabalho, num
ônibus de linha, junto com alunos e alunas. Cansado, consegui um banco
para sentar, apesar de o coletivo partir bastante cheio do campus. No
meio da viagem, dois rapazes sentados no banco à minha frente se
mostravam um meme qualquer. Eram dois homens, brancos, entre os 30 e 40
anos. Olhavam rindo para alguns alunos localizados na parte da frente do
ônibus, que conversavam alto sobre os textos que haviam lido na semana. Olhavam rindo e cochichavam alguma coisa.
De relance, sem querer, vi a frase final que estampava o meme no
celular de um dos dois homens brancos: era o sobrenome de um
pré-candidato à Presidência da República, cuja plataforma mobiliza o
ódio contra negros, homossexuais, defensores dos direitos humanos e etc.
Ao lado desse sobrenome, havia “2018 neles!”. A cena seguiu por mais
algum tempo: olhavam para os estudantes de humanas, para o meme e
gargalhavam e cochichavam. Aquilo me deixou nauseado, profundamente
incomodado. Lembrei alguns alunos que passaram pelas minhas aulas, nas
diferentes instituições que lecionei. Lembrei aqueles que faziam piadas
grosseiras contra mulheres, gays e negros, e como se deixavam seduzir
pela retórica do ódio, pela simbologia nazifascista e seus derivados.
Parece que caminhamos para uma nova encruzilhada histórica, porque tudo indica que estavam certos pensadores como Adorno e Foucault, por exemplo, quando alertavam para a persistência da semente fascista no “capitalismo democrático” ou na “pós-modernidade”. De fato, com fanáticos de extrema-direita, organizados em movimentos terroristas, o diálogo precisa dar lugar à resistência. Porém, com jovens que a tudo querem “zoar”, muitas vezes imersos em condições de vida degradantes, o diálogo paciente, a conversa atenta, a apresentação de outros caminhos e símbolos, todo um trabalho de base pode ajudar a quebrar a reprodução da barbárie. Mesmo assim, se a exploração do trabalho seguir na toada neoliberal e a vida perder de vez qualquer sentido, vai ser difícil superar o “inverno” que já é realidade.
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Parece que caminhamos para uma nova encruzilhada histórica, porque tudo indica que estavam certos pensadores como Adorno e Foucault, por exemplo, quando alertavam para a persistência da semente fascista no “capitalismo democrático” ou na “pós-modernidade”. De fato, com fanáticos de extrema-direita, organizados em movimentos terroristas, o diálogo precisa dar lugar à resistência. Porém, com jovens que a tudo querem “zoar”, muitas vezes imersos em condições de vida degradantes, o diálogo paciente, a conversa atenta, a apresentação de outros caminhos e símbolos, todo um trabalho de base pode ajudar a quebrar a reprodução da barbárie. Mesmo assim, se a exploração do trabalho seguir na toada neoliberal e a vida perder de vez qualquer sentido, vai ser difícil superar o “inverno” que já é realidade.
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